Diversidade

Democracia, mídia e TV: como pensar as guerras culturais?

Livro ‘Branquitude e televisão: a nova África (?) na TV pública’ mostra papel da televisão ao construir uma cena plural que espelhe a formação do povo brasileiro

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Em tempos de redes digitais e sociais, o papel e importância da TV se renovam e se reeditam. Muitos apressados preferem decretar seu fim, como se não gozasse mais de qualquer hegemonia. A principio, alguns episódios parecem dar força a esse argumento: o nosso ciclo eleitoral de 2018 ancorou-se muito pouco na televisão.

Fake news, teorias conspiratórias e material ofensivo foram fartamente veiculados pelas mídias digitais em virtude das facilidades promovidas por veículos como o WhatsApp, que não se deixa controlar por algoritmos e alguma jurisprudência.

Vozes enfáticas passaram a engrossar o coro de que a televisão já era. Devagar com o andor, é preciso que se diga. A despeito das mudanças significativas no ecossistema comunicativo que provocaram migrações maciças para o universo das redes, a televisão não só resiste, como reconquista seu lugar como um dispositivo essencial para a construção de sociabilidade. Vale lembrar que as plataformas de vídeo e outras formas de ver a distância da contemporaneidade também podem ser chamadas de televisão.

Com tanto mais razão, essa renovação ocorre no Brasil, onde se discute novas formas de produção, visto que ela se mantém como um dispositivo importante de acesso ao movimento do mundo em suas variadas modalidades (do entretenimento ao jornalismo).

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Neste sentido, pesquisas voltadas para compreender o fenômeno televisivo em tempos de predomínio de investigações no universo da conexão são mais que bem vindos. Branquitude e televisão: a nova África (?) na TV pública, de autoria do pensador e professor Richard Santos, é uma dessas iniciativas que merecem celebração.

Num contexto em que as guerras culturais se sobressaem (a propósito, foram o combustível das eleições presidenciais neste ano) e o futuro presidente anuncia o fim da TV Brasil, Richard Santos se lança o desafio de cumprir com uma dupla tarefa:

1) destacar a importância da TV pública num país em que as audiovisualidades formam e informam a população;

2) enfatizar que é papel da televisão, especialmente a pública, construir uma cena comunicativa plural que espelhe a formação do povo brasileiro.

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Tal ênfase tornou-se quase uma missão porque, mesmo pautando-se em outros critérios que não aqueles que orientam a produção das TVs comerciais, a TV Brasil acabou por adotar os mesmos paradigmas que visibilizam um Brasil branco, com apego à cultura ocidental.

Insisto: em tempos em que a manutenção da democracia passa, necessariamente, pela discussão dos direitos à existência, “Branquitude e televisão” impõe-se como referência obrigatória para o reconhecimento dos grupos historicamente discriminados e de sua plena participação na vida nacional.

A demonstração desse princípio, por intermédio da comunicação brasileira, nos leva a concluir que as invisibilidades de negros, indígenas e outros sujeitos vulneráveis refletem a operação política que exclui, pelas imagens, os que podem e devem partilhar os destinos de uma coletividade, partilhar dos signos do poder.

Essa discussão terá palco em duas datas, em São Paulo:  7/11 no espaço educativo da Tapera Taperá, às 19h, e  8/11, no auditório do CTR, na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Serviço

O que: Lançamento do livro Branquitude e televisão: a nova África (?) na TV pública
Quando: 7 e 8 de novembro, às 19h
Onde: Dia 7 – Tapera Taperá (Galeria Metropolis, 2º andar, loja 29, Av. São Luís, 187 – República, São Paulo – SP, 01046-001) e Dia 8 – Auditório B – CTR – ECA/USP (Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – prédio 4, Cidade Universitária, São Paulo – SP

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