No último fim de semana, as missas convocaram os fieis a se manifestar publicamente. E ao longo dos dias, manifestações pró-vida terão o apoio da Igreja Católica. Por trás dessa corrida contra o aborto, há uma tensão ainda maior: a do papa Francisco contra o governo do presidente Mauricio Macri. O aborto coloca a Argentina em rota de colisão com o Vaticano, mas também revela os erros políticos do pontífice na sua própria terra.
Se até o dia 14 de junho, quando a Câmara de Deputados abriu a possibilidade de uma sanção favorável, a igreja argentina e o papa ficaram em segundo plano no debate pelo aborto, agora, na reta final, tentam recuperar o terreno. Os religiosos não organizam manifestações, mas, em nota oficial, anunciaram apoio e até encorajam ações de organizações civis.
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Nesta segunda-feira 30 ocorre uma marcha em frente à residência presidencial. Isso mostra como o governo argentino e a igreja vivem um momento de máxima tensão. Maurício Macri estimulou o debate, orientando os legisladores governistas a tratar do assunto. Macri se diz contra o aborto e a favor da vida, mas deixou os parlamentares livres de qualquer pressão para decidir.
A igreja, além de criticar o presidente por abrir essa porta, desconfia que o governo, na verdade, agiu a favor do aborto na votação final, quando viu que a iniciativa seria derrotada. Até horas antes da votação na Câmara de Deputados, a legalização não tinha maioria, mas três deputados governistas mudaram de opinião naquela mesma noite.
Nos bastidores da disputa, integrantes do governo admitem a tensão com o Vaticano. A ex-senadora María Eugenia Estenssoro disse que o papa Francisco declarou a guerra política ao governo Macri por ter aberto essa porta, a mais sensível de todas para a igreja.
Integrantes da própria coligação governista e analistas políticos afirmam que Macri só habilitou o debate por saber que o aborto seria derrotado na Câmara de Deputados. E a igreja também acreditou nessa premissa que se mostrou errada.
Eleições em Buenos Aires
Em 2015, a igreja teve papel fundamental nas eleições na província de Buenos Aires, que concentra 40% dos votos do país. Agora, esse papel pode se reverter contra o governo nas eleições do ano que vem. Por isso, a atual governadora Maria Eugenia Vidal mostrou-se contra o aborto assim que os sacerdotes endureceram o discurso. Semanas atrás, a governadora esteve com o papa no Vaticano e teria ouvido duras críticas do pontífice.
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