A adolescente de Pirituba, zona norte da capital paulista, teria se surpreendido com a versão dela mesma do futuro. Aos 16 anos, frequentava cursinhos da Educafro, uma organização voltada para a inclusão de negros e pobres no ensino superior, e militava pelo Partido dos Trabalhadores. Foi justamente ali que, tempos depois, começou a questionar os direcionamentos do PT. Não entendia por que ninguém ensinava aqueles jovens da periferia a questionar. Sentia espaço só para aceitar, não para dialogar.
Encontrou o PSDB quase por acaso. Aos 20 e poucos anos, esperava desde às seis da manhã na Barra Funda, em São Paulo, em uma fila de empregos. Uma das funcionárias do Ponto de Atendimento ao Trabalhador apareceu para dizer que não havia mais senhas. Aline e a amiga esbravejaram. Geraldo Alckmin, que já comandava o governo de São Paulo, caminhava por lá junto ao secretário do Trabalho. As duas os chamaram para reclamar da situação. E foram ouvidas: dias depois, um dos assessores de Alckmin ligou para elas para conferir como havia terminado a história.
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Recebeu ainda um convite para conhecer os comitês do PSDB. “Percebi que aquilo que eu questionava fazia sentido. Os debates dos movimentos de esquerda ditavam muita regra”, conta Aline. “Comecei a participar das reuniões do PSDB cada vez mais, quando vi já tava dentro do partido. Ironicamente, aqui eu tenho mais poder de fala”, completa.
Formada em relações públicas e especializada em gestão de projetos culturais e organização de eventos, trabalhou em órgãos públicos nessas áreas – em Viradas Culturais Paulistanas e Esportivas. Em 2015, cuidou da Coordenadoria do ProAC, programa paulista de fomento à cultura por meio de renúncias fiscais e patrocínios.
Faz todo sentido. Até porque em partidos como PSOL e PT, sobram mulheres como ela – negra, feminista e periférica. “No PSOL eu não teria nem legenda e o PSOL elege dois deputados, o PSDB elege 24. Ideologia é uma coisa, o jogo é outro. E o jogo é cruel”, conta. No PSDB ela é minoria. “Uma coisa me incomoda muito: por que os partidos de esquerda se apropriaram das minorias, mas nenhuma minoria manda nesses partidos?”, questiona. “Não vejo no PSOL mulher negra com caneta, no PT. Mas vi negros com caneta na gestão FHC”.
Não que tenha esquecido as pautas da esquerda – ela se considera de centro-esquerda. Ou que concorde com todos os políticos e ideias do partido. Aline defende sistemas de cotas – “óbvio” –, se posiciona favoravelmente à descriminalização do aborto e luta contra o genocídio da população negra.
Pautas sempre levantadas por políticos e candidatos progressistas. “Quando fulano diz que vai colocar a Rota na rua, o que ele está dizendo é que vai me matar. Vão matar mais negros da periferia. E eu discuto isso dentro do partido”, explica.
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Discutiu também o lançamento da sua candidatura ao legislativo federal. Em um partido cheio de padrinhos e milionários poderosos, conquistar um número da legenda não é lá tarefa muito fácil. “Os globais querem sair candidatos pelo PSDB. Foi uma briga. No primeiro momento, eles não entenderam”, relembra. Mas ela soube jogar: lembrou o partido que nunca haviam lançado uma mulher negra ao Congresso. O partido repensou e Aline venceu a disputa.
Conquistou dois públicos, segundo ela. O PSDB e os movimentos de esquerda. “Hoje o presidente do partido diz: Aline representa a dona Maria, onde o PSDB precisa chegar e não chega. Hoje eles entenderam que a minha candidatura é muito mais importante para eles do que para mim”, comemora. “Hoje fico surpresa com a adesão de movimentos de esquerda. Eles falam ‘você é uma mulher negra que entende o jogo’. Eu sempre fiz meu trabalho a la Aline, não a la PSDB ”.
Aos 32 anos, quer construir um mandato coletivo e propor uma reforma política. “Precisamos de regras taxativas de divisão do fundo eleitoral. Muitas mulheres de outros partidos estão sendo lesadas e não há como iniciar qualquer reforma na sociedade sem corrigirmos esse vazio”, explica. Sonha também em reduzir a evasão escolar, com ensino integral e aulas de arte e cultura.