Diversidade

67% dos brasileiros querem maior rigor na entrada de imigrantes

Endurecimento do controle é visto favoravelmente até mesmo pela maioria dos eleitores de Fernando Haddad, segundo Datafolha

Imigrantes haitianos não possuem carteira de trabalho e passam por dificuldades em São Paulo
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A maioria dos brasileiros defende que o país aplique mais controle da entrada de imigrantes, apontou pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (28/12).

Segundo o levantamento, 67% dos entrevistados dizem concordar que o Brasil deve endurecer mais o controle. Foram ouvidas 2.077 pessoas em 130 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O Datafolha também apontou que essa posição é mais difundida entre os brasileiros que declararam ter votado em Jair Bolsonaro na eleição presidencial de 2018. O percentual nesse grupo chega a 73%. O número é menor entre eleitores de Fernando Haddad, mas a maior parte daqueles que votaram no petista, 58%, ainda é favorável ao aumento do controle.

Ainda segundo a pesquisa, também há diferenças de percentuais entre homens e mulheres. Entre eles o percentual chega a 72%, já entre as mulheres, 62% são favoráveis. Entre as pessoas que ganham mais de dez salários mínimos, 74% dos entrevistados na pesquisa concordaram com a pergunta “O Brasil deve controlar mais a entrada de imigrantes?”. Entre aqueles que ganham menos de dois salários, o percentual chegou a 62%.

O tema da imigração tem sido explorado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que afirmou repetidas vezes que pretende aplicar mais rigor na entrada de imigrantes. Ele também anunciou que vai retirar o país do Pacto Mundial para Migração das Nações Unidas, assinado pelo governo Michel Temer. Recentemente, Bolsonaro também fez comentários depreciativos sobre a imigração na França e na Alemanha.

“Há algum tempo os países da Europa querem se ver livre de imigrantes. Olha como está a França. Olha como está a Baviera, na Alemanha. Você quer isso para o Brasil? Acredito que não.”

Ele também disse que está “simplesmente insuportável” viver em algumas partes da França e insinuou que é preciso ter cautela com imigrantes muçulmanos. “Não podemos admitir certo tipo de gente que venha para o Brasil desrespeitando nossa cultura e nossa religião”, resumiu.

Leia também: 'Razão é a humanidade', diz prefeito que acolheu imigrantes na Espanha

Ao longo de 2018, a retórica contra a imigração no Brasil também foi alimentada pela entrada de venezuelanos em Roraima que fogem do caos econômico do regime chavista. Até o início de junho deste ano, os pedidos de refúgio no Brasil haviam aumentado 161% em comparação com os primeiros cinco meses de 2017. O número de pedidos chegou a 19.429. Desse total, dois terços foram apresentados por venezuelanos.

Apesar da retórica sobre o tema, o percentual de estrangeiros na população do país é baixíssimo. A Polícia Federal estima em cerca de 750 mil a população estrangeira no país. Considerando a população brasileira, que passa de 200 milhões de habitantes, o percentual mal chega a 0,4%.

Mesmo o número de refugiados reconhecidos é baixo. Relatório do Ministério da Justiça (MJ) divulgado em abril apontou que apenas 5.134 pessoas com status de refugiado reconhecido pelo governo brasileiro viviam em território nacional em 2017. Para efeito de comparação, 669.482 pessoas que viviam na Alemanha no final de 2016 eram reconhecidas como refugiadas.

Na semana passada, uma pesquisa global chamada “Perigos da Percepção”, realizada pelo instituto Ipsos, mostrou que o Brasil é o quarto país com a percepção mais equivocada em relação à porcentagem de imigrantes entre a sua população. O ranking inclui 37 países. De acordo com os dados, o palpite médio dos entrevistados é de que 30% da população e formada por estrangeiros – ou seja,  os brasileiros superestimam em 75 vezes o número real de imigrantes.

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