Zé Renato celebra o amor em álbum com músicas de Paulinho da Viola

O novo álbum solo do cantor e compositor Zé Renato mostra, na capa, um beijo amoroso de um casal negro entrando na terceira idade. Segundo ele, a intenção é ser “provocativo mesmo” em um momento de sentimentos de afeto pouco destacados.

A ideia da capa foi de Lula Queiroga, que produziu com Zé Renato e Tostão Queiroga (irmão de Lula) esse novo álbum do músico capixaba.

“Um beijo que fosse de um casal de negros idosos, com ternura, apaixonados. Concordei totalmente (com Lula). Foi uma interpretação poética e que tem a ver com o conteúdo do disco. Achei que era também importante num momento como esse, que estamos vivendo, uma forma de dispor sentimentos.”

O Amor É um Segredo – Zé Renato Canta Paulinho da Viola conta com nove músicas pouco conhecidas do sambista. “É um manifesto de amor”.

Imagem que ilustra a capa do novo álbum de Zé Renato (Foto: Juarez Ventura/Divulgação)

O cantor gravou este trabalho em voz e violão (6 cordas), com algumas leves inserções de percussão (de Tostão) e sopros (de Spok e Fabinho Costa).

Duas músicas do Paulinho no trabalho são mais conhecidas no meio do samba: Só o Tempo, composição que Zé Renato extraiu o verso “O Amor É um Segredo” para dar nome ao novo álbum, e Minhas Madrugadas (Paulinho e Candeia).

O trabalho é bastante minimalista, com Zé Renato mostrando seu lado de violonista. E evidencia mais uma vez sua carreira plural.

Boca Livre e samba

O capixaba surgiu na música há cerca de 40 anos no primeiro álbum do Boca Livre (com Toada, Quem Tem a Vila etc.), lançado inicialmente de forma independente, tornando-se um clássico da discografia musical brasileira. Por tratar-se de um grupo vocal, foi um feito ainda mais relevante para a época.

Mas Zé Renato, depois de alguns álbuns solos de MPB, em paralelo ao Boca Livre, se voltou para o samba em 1995 ao lançar um trabalho magnífico sobre a obra do grande sambista Zé Keti. Pouco antes já tinha feito uma releitura de Silvio Caldas, cantor de muitos sambas.

“Quando gravei Zé Keti ninguém se dava conta da obra dele. Fiz um repertório com clássicos dele. No caso do Paulinho, ele tem uma obra bastante gravada. Fiquei atraído por gravar canções menos conhecidas, ao contrário de Zé Keti”.

O cantor e compositor, porém, não parou por aí. Gravou um álbum autoral de samba, o Cabô. Pouco tempo depois, fez o Filosofia, com composições do Noel Rosa e Chico Buarque.

Outro álbum muito bom de samba de Zé Renato, com clássicos do gênero, foi um gravado ao vivo em 1997 com Mariana de Moraes, neta do Vinicius, e Elton Medeiros, falecido em 2019. Zé Renato chegou a registrar no Cabô uma música dele com Elton.

“Elton Medeiros é um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos, sem dúvida”, define. O músico fez ainda em 2003 um álbum de samba voltado às crianças.

O álbum O Amor É um Segredo pode-se dizer que é um retorno de Zé Renato ao samba. De seu jeito, sempre afinado, timbre respeitoso com a música, leve e agradável. Falta pouco para o músico se tornar sambista de fato.