Cultura

Vai, Coelho!

Como começou a paixão por um time que agora volta à elite do futebol brasileiro

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Comecei a torcer pro América Mineiro quando ganhei um casal de coelhos. Gostei dos bichinhos, fiz uma casinha de madeira pros dois, coisa bem simples, tipo Minha Casa Minha Vida.

No principio, acho que eles gostaram. Todo o dia, eu e meu irmão subíamos a BR-3 à pé para colher capim meloso que, fiquei sabendo, era o preferido deles. De tempos em tempos, escondido da minha mãe, roubava uma cenoura na geladeira e oferecia ao casal. Gostava de ficar admirando os dois mexendo a boquinha, ruminando, mesmo depois que a cenoura tinha acabado.

Não demorou muito, eles praticamente abandonaram a casinha e partiram pro mundo. O mundo era o terreiro da minha casa, metade cimento, metade terra. Quando abri os olhos, os dois coelhinhos branquinhos já estavam vermelhos de terra, bem à vontade.

Mas eis que, de repente, a fêmea sumiu do mapa. Desconfiei que era alguma trapaça porque, bem no cantinho da parede que dividia a nossa casa com a do vizinho, começou a aparecer montes de terra fofa. Fui pesquisar num livro que tinha na minha casa que se chamava Como criar…,  que ensinava a criar codornas, galinhas, peixes, cachorros, papagaios e no capítulo 4, ensinava a criar coelhos.

Era tudo muito complicado e eu senti que estava criando os bichinhos errado, mas com muita liberdade, soltos no quintal. Lá naquele livro, o autor explicava que coelho em liberdade costuma furar buracos na terra para poder criar um ambiente para se reproduzir. Desconfiei que a fêmea tinha entrado nessa.

O livro dizia ainda que eles costumavam arrancar alguns pelos do corpo para poder fazer o seu ninho quentinho e acolhedor, para receber os filhotes, que poderiam ser mais de meia dúzia de cada vez. Os dias foram passando e foi numa manhã de sol, quando eu e meu irmão chegamos da BR-3 carregando o capim meloso, que tivemos uma grande surpresa.

A coelha reapareceu e com ela, oito filhotinhos, já com pelo e tudo, todos branquinhos, com a cara da mãe e focinho do pai. Não havia nada mais fofo no mundo que aquela coelhada saltitando pelo terreiro.

Preocupada, a mãe coelha foi empurrando um a um para dentro do buraco, que agora estava com a entrada aberta. Eles foram entrando e sumiram de repente. Do lado de fora ficou apenas o pai, orgulhoso, arisco, olhando para todos os lados para ver – acredito eu – se não tinha esquecido nenhum filhote. Nos dias seguintes, eles saíram de novo mas já mais acostumados com o mundo aqui fora.

De repente tínhamos em casa dez coelhos branquinhos de olhos vermelhos. Minha mãe ficou meio assustada com a bicharada porque ela sabia que, nos próximos dias, a danada da coelha poderia estar prenha novamente. Ela disse que tínhamos que separar os machos das fêmeas porque não tínhamos condições nem espaço pra criar tanto coelho.

Fizemos isso mas ficamos chateados de ver os machos de um lado da cerca e as fêmeas do outro. Eles ficavam enfiando o focinho para se tocar uns nos outros, num gesto de muito amor.

O meu pai veio logo com aquela piada do coelho que queria trepar e disse pra coelha: “Vai ser bom, não foi?” O meu irmão gostava dos coelhos mas era Atlético, era Galo desde pequeninho e não passava pela cabeça dele trocar de time só porque gostávamos dos bichinhos. Comigo foi diferente.

Ainda não tinha paixão por time nenhum e resolvi torcer pro América Mineiro bem no dia em que o coelhão pulou a cerca e quando vimos, mais uma ninhada de seis. Tudo isso aconteceu naquele 1957, quando o América foi campeão mineiro com Jardel, Toledo, Cazuza, Fantoni, Moacyr e Gilson. Hernani, Miltinho, Capeta, Wilson e Cyro. Que time!

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