Cultura
Uma Itália antiga, com algo de fábula
La Chimera, o quarto longa-metragem de alice Rohrwacher, tem a atriz brasileira Carol Duarte no elenco
Embora se passe na Toscana e tenha um espírito fortemente italiano, La Chimera, em cartaz nas salas de cinemas desde a quinta-feira 25, tem um protagonista inglês, o ator Josh O’Connor, da série The Crown, e uma protagonista brasileira, Carol Duarte, a Eurídice Gusmão de A Vida Invisível (2019).
A presença de Carol é, inclusive, um atrativo particular do novo filme da diretora Alice Rohrwacher para o público brasileiro. Na produção, exibida no Festival de Cannes em 2023, a atriz vive Itália, uma jovem aprendiz de cantora, encarregada também de serviços domésticos, e que, às escondidas, fala português.
A personagem de Carol, que mostra aqui sua veia cômica, é uma típica figura da obra da cineasta: melancolicamente engraçada, um tanto extravagante e a um só tempo frágil e forte. Na trama, ela funciona como o elemento que mexerá com os sentimentos confusos do protagonista, Arthur – personagem de O’Connor –, um inglês descabelado e pouco afeito à higiene pessoal.
A história, que se passa na década de 1980, começa quando Arthur, recém-saído da prisão, está no trem que o deixará na pequena comuna de Riparbella. É esse lugar deslocado no tempo que servirá de cenário para que a cineasta explore seu universo com algo de fabular – ou felliniano, a quem assim preferir ver.
Os múltiplos personagens de La Chimera trafegam por dois núcleos dramáticos: aquele da estranha moradia de Flora (Isabella Rossellini), mãe de uma jovem desaparecida por quem Arthur é apaixonado, e o do sítio arqueológico dos etruscos que marca a comunidade – e a vida de Arthur.
Arqueólogo de formação, o jovem inglês passara algum tempo nessa comunidade fazendo pesquisas e, no meio do caminho, não apenas caiu de amores por Beniamina (Yile Vianello) como encontrou uma forma fácil de fazer dinheiro, saqueando túmulos para revender as antiguidades neles escondidas.
Ao lado dele orbita um grupo de sem-teto que, além de também saquear relíquias, canta e dança pelas ruas. Os personagens, numerosos, que entram e saem de cena sem maiores explicações, apresentam o perfil extravagante que tem marcado a cinematografia de Alice.
Nome de proa do circuito internacional do cinema de arte, ela já foi duas vezes premiada em Cannes: em 2014, com As Maravilhas, que venceu o Grande Prêmio do Júri, e em 2018, pelo roteiro de Lazzaro Felice. La Chimera não foi premiado na meca do cinema de autor, mas tem, mundo afora, caído nas graças da crítica. •
Publicado na edição n° 1308 de CartaCapital, em 01 de maio de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Uma Itália antiga, com algo de fábula’
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.



