Cultura
Um livro aberto de cicatrizes
Em seu sétimo álbum, o americano criado no Canadá Rufus Wainwright propõe-se, a despeito do título, a entrar no jogo aberto da música de consumo
por Tárik de Souza
Nem todo pop é ralo, chiclete de ouvido previamente mastigado. Em seu sétimo álbum, o americano criado no Canadá Rufus Wainwright, filho dos cantores folk Loudon Wainwright III e Kate McGarrigle, propõe-se, a despeito do título, a entrar no jogo aberto da música de consumo. Mas, tal como no tributo pessoal a Judy Garland do disco gravado ao vivo no Carnegie Hall, os afagos aos ídolos Elton John, David Bowie e Freddie Mercury não se reduzem ao pastiche. Produzido por Mark Ronson, o descobridor de Amy Winehouse, Out of The Game abre comportas para as múltiplas habilidades do guitarrista, tecladista, cantor e compositor de todas as faixas. Escoltado por guitarras de Sean (filho de John) Lennon e Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) e integrantes dos grupos Wilco e Dap-Kings, Rufus ecoa lições baladistas de Elton, a capacidade de assumir vários personagens de Bowie, e a extensão vocal maleável de Mercury, como ele, fascinado pelo canto lírico.
Do melancólico acalanto Sometimes You Need (Às vezes é preciso um estranho para conversar) ao espiral ascendente do melódico Jericho, e o desfecho épico operístico do rock balada Rashida, Rufus faz desfilar sua cultura de enciclopedista musical. A abertura de Respectable Dive evoca My Prayer, sucesso arrasador do grupo vocal Doo-Wop The Platters, dos anos 1950. E ninguém se surpreenda ao sentir-se na Broadway, sob o embalo de Welcome to the Ball: a música foi composta para um musical nunca realizado. Dedicado à filha pequena, Viva, a quem desvela a vida com o companheiro assumido em Montauk, o roteiro termina no longo réquiem Candles para a mãe, morta em 2010. Pop também pode ser um livro aberto, de celebrações e cicatrizes.
Out of the game
Rufus Wainwright
Decca/Universal
por Tárik de Souza
Nem todo pop é ralo, chiclete de ouvido previamente mastigado. Em seu sétimo álbum, o americano criado no Canadá Rufus Wainwright, filho dos cantores folk Loudon Wainwright III e Kate McGarrigle, propõe-se, a despeito do título, a entrar no jogo aberto da música de consumo. Mas, tal como no tributo pessoal a Judy Garland do disco gravado ao vivo no Carnegie Hall, os afagos aos ídolos Elton John, David Bowie e Freddie Mercury não se reduzem ao pastiche. Produzido por Mark Ronson, o descobridor de Amy Winehouse, Out of The Game abre comportas para as múltiplas habilidades do guitarrista, tecladista, cantor e compositor de todas as faixas. Escoltado por guitarras de Sean (filho de John) Lennon e Nick Zinner (Yeah Yeah Yeahs) e integrantes dos grupos Wilco e Dap-Kings, Rufus ecoa lições baladistas de Elton, a capacidade de assumir vários personagens de Bowie, e a extensão vocal maleável de Mercury, como ele, fascinado pelo canto lírico.
Do melancólico acalanto Sometimes You Need (Às vezes é preciso um estranho para conversar) ao espiral ascendente do melódico Jericho, e o desfecho épico operístico do rock balada Rashida, Rufus faz desfilar sua cultura de enciclopedista musical. A abertura de Respectable Dive evoca My Prayer, sucesso arrasador do grupo vocal Doo-Wop The Platters, dos anos 1950. E ninguém se surpreenda ao sentir-se na Broadway, sob o embalo de Welcome to the Ball: a música foi composta para um musical nunca realizado. Dedicado à filha pequena, Viva, a quem desvela a vida com o companheiro assumido em Montauk, o roteiro termina no longo réquiem Candles para a mãe, morta em 2010. Pop também pode ser um livro aberto, de celebrações e cicatrizes.
Out of the game
Rufus Wainwright
Decca/Universal
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