Cultura
Timbres e texturas
O Deus que devasta mas também cura, disco de Lucas Santtana, revela um artista maduro e em permanente transformação


por Tárik de Souza
O Deus que devasta mas também cura
Lucas Santtana
Independente
Primo de Tom Zé, filho do produtor baiano Roberto Santana, que apresentou Gilberto Gil a Caetano Veloso, e produziu Refavela, do primeiro, e Muitos Carnavais, do segundo, Lucas Santtana participou do disco Tropicália II da dupla, em 1993. Mas quando saiu em carreira-solo, em Eletro Bem Dodô (1999), preferiu prestar tributo ao trio elétrico primal, de Dodô e Osmar.
Em discos seguintes, como na fusão de ritmos de Parada de Lucas (2003), na imersão no dub jamaicano em 3 Sessions in Greenhouse (2006) e no estudo sobre violões brasileiros Sem Nostalgia (2009), Lucas pautou-se por abordagens conceituais. Nelas, se destaca sua perícia de multinstrumentista (violão, guitarra, flauta, cavaquinho, sax, baixo, programações eletrônicas) de formação erudita, fixado na obsessão contemporânea por timbres e texturas, capaz de recorrer a samples de Debussy, Ravel e Beethoven.
O Deus que Devasta mas Também Cura conjuga a arquitetura de sonoridades a um enredo confessional.Disseca uma separação amorosa na faixa título (Revirou gavetas, onde amor e letras/ em fotografias é o que nos valia e nos aquecia), emoldurada por incisivos sopros da Orkestra Rumpilezz, de Letieres Leite. O tema é espraiado em É Sempre Bom Lembrar (o amor/no começo é um alvoroço), acamada por leves sintetizadores de Kassin, e Para onde você Irá esta Noite? (Quase chegando em casa/você me diz/que já tem outro alguém). Mas o CD não é um tratado de fossa, contestam o ensolarado samba Dia de Furar Onda (com participação do filho, Josué), a sacudida Ela é Belém e o dançante hino farpado Se pá Ska SP. Melhor considerá-lo um retrato de artista maduro, embora em permanente transformação.
por Tárik de Souza
O Deus que devasta mas também cura
Lucas Santtana
Independente
Primo de Tom Zé, filho do produtor baiano Roberto Santana, que apresentou Gilberto Gil a Caetano Veloso, e produziu Refavela, do primeiro, e Muitos Carnavais, do segundo, Lucas Santtana participou do disco Tropicália II da dupla, em 1993. Mas quando saiu em carreira-solo, em Eletro Bem Dodô (1999), preferiu prestar tributo ao trio elétrico primal, de Dodô e Osmar.
Em discos seguintes, como na fusão de ritmos de Parada de Lucas (2003), na imersão no dub jamaicano em 3 Sessions in Greenhouse (2006) e no estudo sobre violões brasileiros Sem Nostalgia (2009), Lucas pautou-se por abordagens conceituais. Nelas, se destaca sua perícia de multinstrumentista (violão, guitarra, flauta, cavaquinho, sax, baixo, programações eletrônicas) de formação erudita, fixado na obsessão contemporânea por timbres e texturas, capaz de recorrer a samples de Debussy, Ravel e Beethoven.
O Deus que Devasta mas Também Cura conjuga a arquitetura de sonoridades a um enredo confessional.Disseca uma separação amorosa na faixa título (Revirou gavetas, onde amor e letras/ em fotografias é o que nos valia e nos aquecia), emoldurada por incisivos sopros da Orkestra Rumpilezz, de Letieres Leite. O tema é espraiado em É Sempre Bom Lembrar (o amor/no começo é um alvoroço), acamada por leves sintetizadores de Kassin, e Para onde você Irá esta Noite? (Quase chegando em casa/você me diz/que já tem outro alguém). Mas o CD não é um tratado de fossa, contestam o ensolarado samba Dia de Furar Onda (com participação do filho, Josué), a sacudida Ela é Belém e o dançante hino farpado Se pá Ska SP. Melhor considerá-lo um retrato de artista maduro, embora em permanente transformação.
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