Cultura

Sugestões Bravo! para ler

O livro “Desterro: Memórias em Ruínas une as tramas subjetivas de sua memória familiar com a verdade das histórias de imigrantes europeus no Brasil do século XX, órfãos das muitas tragédias que imprimiram marcas perenes na Europa. Veja outros destaques Bravo! para ler aqui

Desterro
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*Por Ana Lúcia Trevisan

Veja quais são as sugestões de leitura de Bravo! desta semana carnavalesca.

Desterro: Memórias em ruínas


Luis Krausz


Tordesilhas, 164 págs., R$ 29

Em Desterro: Memórias em Ruínas, Luis S. Krausz une as tramas subjetivas de sua memória familiar com a verdade das histórias de imigrantes europeus no Brasil do século XX, órfãos das muitas tragédias que imprimiram marcas perenes na Europa.

A presença da língua alemã e os ecos da tradição religiosa judaica estabelecem um novo olhar para as paisagens da capital paulista, ressurgidas nos bairros Sumaré, Brooklin, Bom Retiro e Pinheiros com uma roupagem diferente, envoltas na penumbra das lembranças e das saudades.

A São Paulo do presente se junta a outras cidades, algumas pertencentes ao passado, outras ancoradas em latitudes diversas, como Viena, Berlim, Zurique e Campos do Jordão. Em cada cidade transparecem as várias faces do desterro, que tangencia os sentidos reflexivos implícitos à obra.

Palavra dura que dói por si mesma, o desterro multiplica o olhar poético da memória. Surgem os matizes das histórias de uma vida feita de muitas outras vidas. O olhar do peregrino, em diálogo com suas lembranças enquanto percorre as ruas da cidade, anuncia que o miolo da vida pode estar no enigma das histórias herdadas e também no espaço idílico proporcionado pela escritura. Os objetos aglomerados em quartos e apartamentos desabitados aparecem recobertos pela fina amargura do tempo. Essa coleção mítica, quando incorporada ao texto memorialista, evoca uma possibilidade de resguardo diante do furor das grandes perdas.

O texto de Luis Krausz provoca os fragmentos dispersos da memória de seus leitores. Sendo assim, é possível pensar nos versos do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Os cacos da vida colados formam uma estranha xícara. Sem uso, ela nos espia do aparador”.

*Por Renato Pompeu

Formação do Brasil Contemporâneo


Caio Prado Jr.


Companhia das Letras, 440 págs., R$ 49,50

Finalmente as novíssimas gerações têm a oportunidade de fazer a sua reavaliação das teses do grande pensador Caio Prado Jr., um dos três autores maiúsculos que formaram nos anos 1930 a noção que temos do Brasil, ao lado do também paulista Sérgio Buarque de Holanda e do pernambucano Gilberto Freyre. Pois a Companhia das Letras está reeditando as obras de Prado Jr., como esta Formação do Brasil Contemporâneo, originalmente publicada em 1942. Durante décadas suas teses sobre o “sentido da colonização” como visando prioritariamente ao fornecimento, por meio da produção escravista, de gêneros para o


nascente mercado capitalista nos países adiantados, predominou quase absoluta entre os estudiosos brasileiros, enterrando


a antiga noção de que teria havido um “feudalismo” no País. A maioria dos leitores atuais, entretanto, só conhece essa obra a partir de revisões críticas formuladas em pesquisas de autores contemporâneos, em duas vertentes.

De um lado, sua obra tem sido criticada por ser excessivamente econômica em sua visão da formação do Brasil, desde há um tempo mais estudado sob diferentes aspectos culturais. De outro lado, Prado Jr. se teria baseado mais em fontes governamentais do que em fontes primárias, com o que não pôde perceber nem a relativa pujança dos setores econômicos não-escravistas do Brasil Colônia, nem a importância das relações do Brasil com a África, particularmente por meio do tráfico de escravos. Agora, com a oportunidade de ler tudo o que Prado Jr. escreveu, pode-se restabelecer, como já ocorre entre os acadêmicos mais jovens, a noção de “sentido da colonização”, mesmo porque o País ainda depende fundamentalmente da exportação de produtos primários. Ele próprio chamou a atenção para a necessidade de perceber o “sentido” geral em meio ao “cipoal de incidentes secundários”. A edição, além do mais, é enriquecida com fotos sobre o Brasil tiradas pelo próprio autor, com uma entrevista do historiador Fernando Novais e com um posfácio de Bernardo Ricupero.

*Por Vinicius Jatobá

Virginia Woolf – A medida da vida


Herbert Marder


Cosac Naify, 584 págs., R$ 77

Virginia Woolf – A medida da vida é tão onívoro em suas fontes que perde o foco. A escritora deixou um diário extenso, foi dedicada missivista. Como crítica, exerceu curiosa autobiografia. Seus textos políticos foram lendários. Ela falou na rádio, deu palestras. Teve vida social intensa. Tudo isso está nessa biografia. A questão


é que está tudo em demasia.

O autor Herbert Marder associa a face enérgica, repleta de projetos da escritora (basta ler os diários para ter ideia de sua força produtiva) ao ato desesperado do suicídio. Mas nela o desejo suicida foi algo marginal diante


de sua verdadeira ocupação, a aventura do sentir. Em seus últimos 11 anos, período focado na biografia, Virginia Woolf escreveu três romances, duas biografias e quilômetros de jornalismo, mas Marder está mais fascinado com fofocas e remédios do que com a força poética de sua prosa. Quando vai aos livros, reproduz e parafraseia os diários. Que venham os Diários, então.

*Por Ana Lúcia Trevisan

Veja quais são as sugestões de leitura de Bravo! desta semana carnavalesca.

Desterro: Memórias em ruínas


Luis Krausz


Tordesilhas, 164 págs., R$ 29

Em Desterro: Memórias em Ruínas, Luis S. Krausz une as tramas subjetivas de sua memória familiar com a verdade das histórias de imigrantes europeus no Brasil do século XX, órfãos das muitas tragédias que imprimiram marcas perenes na Europa.

A presença da língua alemã e os ecos da tradição religiosa judaica estabelecem um novo olhar para as paisagens da capital paulista, ressurgidas nos bairros Sumaré, Brooklin, Bom Retiro e Pinheiros com uma roupagem diferente, envoltas na penumbra das lembranças e das saudades.

A São Paulo do presente se junta a outras cidades, algumas pertencentes ao passado, outras ancoradas em latitudes diversas, como Viena, Berlim, Zurique e Campos do Jordão. Em cada cidade transparecem as várias faces do desterro, que tangencia os sentidos reflexivos implícitos à obra.

Palavra dura que dói por si mesma, o desterro multiplica o olhar poético da memória. Surgem os matizes das histórias de uma vida feita de muitas outras vidas. O olhar do peregrino, em diálogo com suas lembranças enquanto percorre as ruas da cidade, anuncia que o miolo da vida pode estar no enigma das histórias herdadas e também no espaço idílico proporcionado pela escritura. Os objetos aglomerados em quartos e apartamentos desabitados aparecem recobertos pela fina amargura do tempo. Essa coleção mítica, quando incorporada ao texto memorialista, evoca uma possibilidade de resguardo diante do furor das grandes perdas.

O texto de Luis Krausz provoca os fragmentos dispersos da memória de seus leitores. Sendo assim, é possível pensar nos versos do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Os cacos da vida colados formam uma estranha xícara. Sem uso, ela nos espia do aparador”.

*Por Renato Pompeu

Formação do Brasil Contemporâneo


Caio Prado Jr.


Companhia das Letras, 440 págs., R$ 49,50

Finalmente as novíssimas gerações têm a oportunidade de fazer a sua reavaliação das teses do grande pensador Caio Prado Jr., um dos três autores maiúsculos que formaram nos anos 1930 a noção que temos do Brasil, ao lado do também paulista Sérgio Buarque de Holanda e do pernambucano Gilberto Freyre. Pois a Companhia das Letras está reeditando as obras de Prado Jr., como esta Formação do Brasil Contemporâneo, originalmente publicada em 1942. Durante décadas suas teses sobre o “sentido da colonização” como visando prioritariamente ao fornecimento, por meio da produção escravista, de gêneros para o


nascente mercado capitalista nos países adiantados, predominou quase absoluta entre os estudiosos brasileiros, enterrando


a antiga noção de que teria havido um “feudalismo” no País. A maioria dos leitores atuais, entretanto, só conhece essa obra a partir de revisões críticas formuladas em pesquisas de autores contemporâneos, em duas vertentes.

De um lado, sua obra tem sido criticada por ser excessivamente econômica em sua visão da formação do Brasil, desde há um tempo mais estudado sob diferentes aspectos culturais. De outro lado, Prado Jr. se teria baseado mais em fontes governamentais do que em fontes primárias, com o que não pôde perceber nem a relativa pujança dos setores econômicos não-escravistas do Brasil Colônia, nem a importância das relações do Brasil com a África, particularmente por meio do tráfico de escravos. Agora, com a oportunidade de ler tudo o que Prado Jr. escreveu, pode-se restabelecer, como já ocorre entre os acadêmicos mais jovens, a noção de “sentido da colonização”, mesmo porque o País ainda depende fundamentalmente da exportação de produtos primários. Ele próprio chamou a atenção para a necessidade de perceber o “sentido” geral em meio ao “cipoal de incidentes secundários”. A edição, além do mais, é enriquecida com fotos sobre o Brasil tiradas pelo próprio autor, com uma entrevista do historiador Fernando Novais e com um posfácio de Bernardo Ricupero.

*Por Vinicius Jatobá

Virginia Woolf – A medida da vida


Herbert Marder


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Virginia Woolf – A medida da vida é tão onívoro em suas fontes que perde o foco. A escritora deixou um diário extenso, foi dedicada missivista. Como crítica, exerceu curiosa autobiografia. Seus textos políticos foram lendários. Ela falou na rádio, deu palestras. Teve vida social intensa. Tudo isso está nessa biografia. A questão


é que está tudo em demasia.

O autor Herbert Marder associa a face enérgica, repleta de projetos da escritora (basta ler os diários para ter ideia de sua força produtiva) ao ato desesperado do suicídio. Mas nela o desejo suicida foi algo marginal diante


de sua verdadeira ocupação, a aventura do sentir. Em seus últimos 11 anos, período focado na biografia, Virginia Woolf escreveu três romances, duas biografias e quilômetros de jornalismo, mas Marder está mais fascinado com fofocas e remédios do que com a força poética de sua prosa. Quando vai aos livros, reproduz e parafraseia os diários. Que venham os Diários, então.

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