Cultura

Soderbergh sai de cena

O cineastra estará cinquentão no momento justo da retirada e sempre haverá tempo para uma manobra de retorno

O cineastra Steven Soderbergh, que anunciou sua aposentadoria. Foto: Siebbi/Flickr
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Faz tempo que Steven Soderbergh assinala sua pronta retirada do cinema. Não se sabia tão precisamente quando ela se daria até agora com as  entrevistas em razão da estreia de seu mais novo filme nos Estados Unidos, Magic Mike, coincidência ou não sobre a desilusão de um stripper que repensa o ofício com a chegada de um novato.

A promessa é para o início de 2013, quem sabe.

Mais certo, porém, é o realizador ter criado uma ladainha do vai-não-vai muito cômoda para justificar a inércia que tomou conta de seu cinema.

A indústria, acusava ele repetidamente em encontros com a imprensa nos grandes festivais, não permitia o risco, a experimentação. Negavam-lhe dinheiro para propostas ousadas, explicava. Então seu público ganhava mais do mesmo, dramas apelativos como Contágio, ou ação, sopapos e roteiros rasos, a exemplo de A Toda Prova, último filme visto por aqui.

Ainda que exista razão no seu juízo sobre Hollywood, Soderbergh mostrou-se capaz de promover algum interesse com projetos menos preguiçosos como Confissões de uma Garota de Programa e O Desinformante. Mesmo o audacioso projeto para os padrões comerciais de Che, em que pesem as deficiências do filme em duas partes, ecoava um realizador imbuído da aventura e da marca pessoal, como aquele que em 1989 estreou com sexo, mentiras e videotape, arrebatando  a Palma de Ouro em Cannes.

O que se deu em seguida foi uma carreira titubeante ao tentar manter essa identidade própria e conjugá-la com a linguagem mais conveniente ao grande público, mescla na qual poucas vezes foi bem-sucedido, a lembrar Erin Brockovich. Como neste filme, na sua pretensão de analista da condição americana, também o diretor vacilou entre uma boa radiografia da família e seus vícios em Traffic, e a única e sem graça piada de Full Frontal, suposta crítica ao universo das celebridades de Hollywood.

O Soderbergh que agora anuncia uma guinada para quem sabe penar e nos fazer penar com a escrita e a tela de lona das artes plásticas é aquele que no início dos anos 2000 passou a se divertir com Onze Homens e um Segredo, filme tornado franquia bem menos divertida.

A sequência firmaria seu gosto pelas piruetas de câmera, pelos enquadramentos inusitados, recursos estéticos que tomariam o lugar de um pensamento maior de renovação que naquele momento já se impunha necessário. Talvez por isso, no que prefere justificar como um limite vindo de fora, o diretor busque recomeçar em outras plagas. A quem se incomodar com a aposentadoria, há o consolo de dois ou três filmes ainda a serem examinados, e certa reticência quanto a ela ser definitiva. Afinal, Soderbergh estará cinquentão no momento justo da retirada e sempre haverá tempo para uma manobra de retorno.

Faz tempo que Steven Soderbergh assinala sua pronta retirada do cinema. Não se sabia tão precisamente quando ela se daria até agora com as  entrevistas em razão da estreia de seu mais novo filme nos Estados Unidos, Magic Mike, coincidência ou não sobre a desilusão de um stripper que repensa o ofício com a chegada de um novato.

A promessa é para o início de 2013, quem sabe.

Mais certo, porém, é o realizador ter criado uma ladainha do vai-não-vai muito cômoda para justificar a inércia que tomou conta de seu cinema.

A indústria, acusava ele repetidamente em encontros com a imprensa nos grandes festivais, não permitia o risco, a experimentação. Negavam-lhe dinheiro para propostas ousadas, explicava. Então seu público ganhava mais do mesmo, dramas apelativos como Contágio, ou ação, sopapos e roteiros rasos, a exemplo de A Toda Prova, último filme visto por aqui.

Ainda que exista razão no seu juízo sobre Hollywood, Soderbergh mostrou-se capaz de promover algum interesse com projetos menos preguiçosos como Confissões de uma Garota de Programa e O Desinformante. Mesmo o audacioso projeto para os padrões comerciais de Che, em que pesem as deficiências do filme em duas partes, ecoava um realizador imbuído da aventura e da marca pessoal, como aquele que em 1989 estreou com sexo, mentiras e videotape, arrebatando  a Palma de Ouro em Cannes.

O que se deu em seguida foi uma carreira titubeante ao tentar manter essa identidade própria e conjugá-la com a linguagem mais conveniente ao grande público, mescla na qual poucas vezes foi bem-sucedido, a lembrar Erin Brockovich. Como neste filme, na sua pretensão de analista da condição americana, também o diretor vacilou entre uma boa radiografia da família e seus vícios em Traffic, e a única e sem graça piada de Full Frontal, suposta crítica ao universo das celebridades de Hollywood.

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