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Sobre a dor das ficções

Em Segunda Casa, Rachel Cusk volta a exercitar seu olhar distanciado e tragicômico

A autora anglo-canadense, de 55 anos, é um nome de destaque no cenário literário contemporâneo - Imagem: Editora Todavia
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Por que vivemos com tanta dor nas nossas ficções? Por que sofremos tanto com coisas que nós mesmos inventamos? Você entende isso, Jeffers? Eu quis ser livre minha vida inteira e não consegui libertar nem um dedinho do pé”, escreve M., a narradora de Segunda Casa.

Este breve parágrafo abriga vários dos elementos presentes no primeiro trabalho lançado por Rachel Cusk depois da elogiada trilogia Esboço (2014-2018), que sedimentou seu nome no cenário literário contemporâneo.

Segunda Casa pode ser definido, não sem o risco do reducionismo, como um livro-conversa, no qual a narradora tenta elaborar aquilo que ela própria ficcionalizou, inventou, viveu, recriou ou negou. Jeffers, um personagem sem ação, é o interlocutor a quem ela se dirige nesta construção. A liberdade, por fim, ronda as páginas do livro como um ideal que, além de se mostrar inalcançável, pode levar ao salto à beira do precipício.

Assim como acontece na trilogia ­Esboço, a narradora é uma escritora. Mas, desta vez, Cusk expande suas reflexões para outros terrenos da criação. O personagem que desestabilizará M. é um pintor cuja obra impactou tanto a protagonista que ela decide convidá-lo para ir à sua ­casa, num pântano supostamente idílico.

Na intimidade doméstica, a autora fará aquilo que, nos últimos anos, tem sido apontado pela crítica como um de seus talentos: revelar, a partir de uma linguagem marcada pelo distanciamento e com pendor para o tragicômico, o contraditório que habita todos, e cada um.

SEGUNDA CASA.Rachel Cusk. Tradução: Mariana Delfini (168 págs., 62,90 reais)

Vitrine

Montada pela primeira vez em 1917, na Itália, a peça Assim É (Se Lhe Parece), de Luigi Pirandello (1867-1936), ganha uma nova edição pelo selo Tordesilhas (200 págs., 39,90 reais). O texto, no Brasil, teve uma montagem histórica, em 1953, pelo TBC, com Cleide Yáconis e Paulo Autran como protagonistas.

As Vinte Mil Léguas de Charles Darwin – O Caminho Até A Origem das Espécies (Fósforo, 320 págs., 69,90 ­reais), de Leda Cartum e Sofia Nestrovwki, nasce do Podcast Vinte Mil Léguas, sobre ciência e livros, e baseia-se nos roteiros dos episódios. Revisitado pelas autoras, Darwin surge como um sagaz narrador.

Andrea Abreu, autora de Pança de Burro (Cia. das Letras, 192 págs., 69,90 ­reais), nasceu nas Ilhas Canárias e é apontada como uma voz promissora na literatura. Em um cenário no qual a natureza se impõe, rural e contemporâneo interagem e as duas protagonistas vivem sua ­juventude de forma intensa e desconcertante.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1206 DE CARTACAPITAL, EM 4 DE MAIO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Os ecos de Preussenschlag”

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