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Por que será que a utopia proposta por Thomas Morus não vingou?

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Durante os últimos 14 anos do reinado de Henrique VIII, foram enforcados 70 mil vagabundos e aventureiros, isso segundo John Reeves, em sua History of Law (“História da Lei”, em inglês). É o que se pode encontrar em A Utopia, de Thomas Morus, publicado pela Editora Universidade de Brasília.

O viajante-narrador, Hitlodeu, explica o fenômeno. A nobreza britânica, enlouquecida com os altos lucros da lã, abre todas as cercas para que seus rebanhos se expandam. Os camponeses, expulsos assim de suas terras, ganham as estradas para pedir e roubar. Era o início do século XVI.

A cupidez da nobreza tem como produto a invasão das estradas, que se tornam perigosas, por causa das levas e levas de salteadores, em que se tornaram muitos dos camponeses que infestaram estradas e florestas da ilha. Vagabundos e aventureiros, assim eram considerados os antigos servos dos feudos que ficaram sem terra onde trabalhar.

 A Utopia, de Thomas Morus, foi publicada provavelmente em 1518. Pode-se falar em quinhentos anos, meio milênio. É um bocado de tempo. As reflexões político-sociais desse clérigo inglês nasceram de seu espanto com aquilo a que assistia, e é pela boca de Hitlodeu que ele diz:

“Estou absolutamente convencido, reverendíssimo, que é da maior injustiça tirar a vida a um homem por ter roubado dinheiro. Eu penso que nem a totalidade dos bens deste mundo possa valer uma existência humana.”

Claro que tal opinião não justifica o roubo, mas tampouco a morte. Setenta mil enforcados, segundo os donos do poder, não era grande coisa face os crimes que cometiam. E se alguém tentasse levantar o tapete para vislumbrar as causas dos crimes, não encontraria o lucro obtido pela nobreza com a lã? Bem, mas isso é só uma questão de poder: quem o exerce e em nome de quê.

A sociedade é desenhada por nós, ela tem o nosso rosto, quem sabe nossa fisiologia. É justo que nos enojemos com nossos dejetos, mas somos seus agentes. Há como escapar deles?

Thomas Morus, em sua utopia, propunha uma sociedade sem dejetos. Há quinhentos anos ele já conseguia ver que um dia o dejeto pode voltar-se contra seu autor.

Ontem à noite vi uma reportagem sobre o lobismo norte-americano. Como muitas das leis são redigidas pelos lobistas, como muitos congressistas telefonam para os lobistas pedindo dinheiro para votar segundo certos interesses. E as grandes empresas dispendem milhões para a compra de congressistas. Bah… Além da imaginação.  Todo poder é negentrópico, tenta sua perpetuação.

Por que será que a utopia proposta por Thomas Morus não vingou?

 

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