Cultura

Siba diz que será preciso “muita coragem” para vencer o autoritarismo

Músico traz reflexão sobre o comportamento do homem e do bicho em novo trabalho

O cantor e compositor Siba (Foto: José de Holanda)
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No seu mais recente álbum solo, Coruja Muda, o cantor e compositor Siba apresenta um trabalho onde cria um espaço indefinido entre o humano e o bicho. “Esse lugar de indefinição serve para pensar quem é mais ou menos gente, quem tem mais ou menos direito”, diz.

Em algumas músicas, como a faixa-título Coruja Muda, Só É Gente Quem se Diz, Daqui Pracolá e Carcará de Gaiola, expõe-se a relação dos animais com as pessoas, às vezes com comportamentos melhores do que os nossos:

“Dos bichos da criação, a aranha é a mais feia / Mas ela tem uma teia de boa conexão / Que é pra ter informação de todo bicho esquisito / Não posta fake do mito e nem de gente que apanha / A internet da aranha só pega mosca ou mosquito”.

Segundo ele, trata-se de um tema bastante aberto, sem pretensão de chegar a um lugar definido. Coruja Muda é um trabalho solo reflexivo e diferente do poético Avante (2012) e o mais político De Baile Solto (2015).

Geração ligada à cultura popular

Mas mantém a sonoridade contemporânea com a influência forte do ritmo regional nordestino de seus trabalhos solos anteriores. Uma concepção musical que abre discussões sobre os efeitos do moderno na expressão tradicional.

“Há um tipo de preconceito muito arraigado no senso comum que exclui tudo que diz respeito na cultura popular a possibilidade de agenciamento do presente ativo e de uma voz para o futuro”, comenta sobre as inserções modernas na composição.

“A música do Nordeste nos últimos 30, 40 anos ou até mais tem sempre que lidar com a carga cultural que ela vem de um Brasil pré-moderno, pré-industrialização. Mas as culturas se adaptaram e continuam vivas e fazem parte do presente. A cultura popular tem capacidade de convivência entre pessoas bem diferentes. A minha geração tem como marca forte o de ter que lidar com essas questões e formulá-las ao estilo musical”.

A geração de Siba é a do Manguebeat, do Mestre Ambrósio (banda na qual integrou por mais de 10 anos), do pessoal que misturou (e mistura) ritmos rurais da Zona da Mata e influências tradicionais, como do maracatu do baque solto, a outros sons mais universais.

Micropolítica de confraternização não resolve

“Buscar espaço de união, afetividade e construir espaços de colaboração e de compartilhamento sempre foi o que a cultura popular fez nesse país”.

Mas diz estar preocupado com o momento: “A alternativa autoritária é cada vez formulada com mais clareza em alto e bom som. Temos um desafio muito grande pela frente e não vai dar para ser enfrentado com micropolítica de confraternização. O autoritarismo terá que ser encarado com muita coragem, para dizer o mínimo”.

Todas músicas do álbum Coruja Muda são de autoria de Siba. A versão nova de Toda Vez que Dou um Passo e O Mundo Sai do Lugar (reunidas na faixa 11) teve uma parceria com Mestre Nico na letra.

O trabalho conta com as participações de Alessandra Leão, Chico César, Mestre Anderson Miguel e Renata Rosa. Nos instrumentais, Arto Lindsay (guitarra), Dustan Gallas (teclados e synth), Edgar (ultraste; instrumento criado pelo próprio), Galego Do Trombone (trombone), João Minuto (sax tenor), Leandro Gervázio (tuba), Lulinha Alencar (acordeon), Ricardo Carneiro (violão) e Roberto Manoel (trompete). Na base, Rafael dos Santos (bateria), Lello Bezerra (guitarra e baixo) e Mestre Nico (voz, percussão e trombone).

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