Senta que lá vem história!

Sebastião tinha uns onze anos de idade e sabia tudo sobre História. O que faz hoje da vida?

Galeria de Rodrigo_Soldon/Flickr

Apoie Siga-nos no

Tenho um trauma: prova! É rara a semana que não sonho com provas. Ora é dona Maria Augusta Toscano perguntando quanto é sete vezes oito que  nunca soube de cor, ora é Mister Élcio perguntando onde fica “the house of Gerard Broughton” que eu nunca decorava ser no“Alabama State”. Isso sem contar aquele padre do Colégio Arnaldo que insistia em pedir para eu ir ao quadro negro explicar a tal da mitocôndria. Eu morria de medo de provas. Na véspera a minha mãe me dava doses cavalares de Maracujina e no dia, na hora, ela acendia uma vela. Mesmo assim, eu temia as provas.

Até hoje me lembro do nome e sobrenome dos meus colegas de escola. Max Henrique Machado Costa, Alex Dias Ribeiro, Luiz Carlos Durant, Jack Corrêa, Marcos Teixeira, Maria Cristina Pinto Bahia Diniz, Marco Afonso Pieroni, Mirtes Helena Pereira e por aí vai. Mas nessa tarde de domingo, deitado aqui na rede lendo o livro JK e a Ditadura do Carlos Heitor Cony eu me lembrei assim, de repente, do Sebastião de Carvalho Neto.

Sebastião! Não nasce mais Sebastião nesse mundo, não é mesmo? O último que tenho notícia é o filho do Nando Reis, aquele da música O Mundo é Bão, Sebastião. Sebastião de Carvalho Neto foi colega meu lá no Planalto Central de Brasil, quando Brasília estava apenas engatinhando. Ele, não sei porque cargas d’água, era um crânio em História. Era assim – crânio – que chamávamos as pessoas sabidas.

Quando eu digo crânio em História não é porque ele sabia quem era Américo Vespúcio ou Diogo Álvares, o Caramuru. Ou porque sabia tudo sobre a guerra dos Emboabas, dos Mascates ou a Revolta dos Bequimão. Sebastião tinha uns onze anos de idade e sabia tudo sobre História. Mas tudo mesmo. Ele era capaz de ir lá na frente e falar durante horas sobre A Regência Provisória, a Invasão Holandesa e a Confederação dos Tamoios. Ele era capaz inclusive de contar tudo, passo a passo, tintim por tintim sobre o Bombardeio de Curupaity.

Como podia um garoto com apenas onze anos de idade saber tanta coisa? Só podia ser um crânio. Eu me lembro muito bem que tinha horas que o pessoal do CASEB, a escola onde estudávamos,chegava a se irritar com ele e não era pra menos. Como era possível o Sebastião saber quem foi Carneiro de Leão, Nunes Machado, o General Oribe e o Marechal Beresford? O menino era mesmo um assombro. Quem foi que ensinou pra ele quem era o General Lecór, meu Deus do céu?

Vasco da Gama, Dom João VI, Thomé de Souza, Mem de Sá ou o Padre Anchieta pro Sebastião era fichinha. O Grito do Ipiranga, a Guerra do Paraguai, a Inconfidência Mineira, isso a gente nem tocava no assunto com ele. Era arroz de festa para o Sebastião de Carvalho Neto. Mas por será que estou aqui nessa tarde de domingo falando dele? Porque ao ler os detalhes da vida de Juscelino Kubitschek de Oliveira durante a ditadura, encontrei muitas histórias e grandes personagens da nossa história.


Apesar de ter trauma, de sonhar com provas de Matemática, Inglês, Física, Química, Biologia e também de História, sou um apaixonado por ela. Antes de JK e a Ditadura do Cony li o Getúlio do Lira Neto e não vejo a hora de atacar o Marighella do Mário Magalhães. E cada livro de história que pego,o Sebastião de Carvalho Neto me vem à cabeça. Fico aqui pensando onde andará, o que estará fazendo hoje, se já está com a cabeça branca, se tem filhos, netos, em que cidade mora? Fico pensando: Será que ele ainda gosta de História?Ai é outra história.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.