Semeou bom humor

Ele próprio foi semeador por toda a vida e sua plateia teve o tamanho do Brasil. Durante a ditadura, nunca teve medo de desafiá-la com suas personagens, quando diante do vídeo postavam-se jararacas e cascavéis fardadas

Excepcional ator, intérprete da sua alegria espontânea - Imagem: Karime Xavier/Folhapress

Apoie Siga-nos no

Um velho amigo velho, voltado para encantar plateias, faz poucos dias foi atuar no palco do Além. Conheci Jô Soares há muitos anos, quando eu dirigia a redação de Veja. Hoje lembro dele com carinho, e da coragem que nunca lhe faltou. Desafiava a ditadura com suas personagens nos tempos em que a Globo estava livre de Ali Kamel e do decálogo de William Bonner.

Quando ele passou a ter o programa Jô Onze e Meia no SBT, me convidou amiúde e vivemos então noitadas fantásticas promovidas pela jornalista Dilea Frate. Logo em seguida, era hábito jantarmos no restaurante Massimo e lembro da noite em que, de regresso de um papo na tevê, me oferecera a oportunidade de chamar a atenção para a gola abundante dos paletós de Fernando Henrique, provocada pelo respeito, e a abnorme quantidade de pontes e túneis inaugurados por Paulo Maluf. Nos encontramos à beira de um peixe assado e de um copo de vinho e rimos horas adentro.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

2 comentários

LUIZ AUGUSTO DE FREITAS GUIMARAES 12 de agosto de 2022 19h44
Sinto-me fazendo a homenagem que Mino ora deixa registrada nas páginas de Carta Capital. Mesmo nos sombrios tempos de ditadura, tínhamos quem nos alegrasse na escrita, no rádio e na televisão. Os tempos atuais são tão tenebrosos, que até o riso nos levaram. Jô foi tirado do ar pela Rede Globo justamente quando ocorreu o golpe de 2016. Obrigado Mino!
PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 12 de agosto de 2022 16h23
Pois é, o Brasil perdeu mais uma grande estrela, e põe grande nisso. Não pelo fato dele ser gordo, mas pela sua alma generosa e sua mente brilhante que tantas e tantas noites nos divertiu, com suas entrevistas cativantes onde do mais simples ao mais complexo entrevistado se sentia à vontade em sua poltrona com uma boa conversa. Além de seus personagens humorísticos idiossincráticos e geniais que, sutilmente driblou o sistema autoritário brasileiro e nos brindou com o espírito da ironia. Jô Soares foi aquele que fundou e fechou a televisão brasileira, pois outro como ele, está difícil de se produzir. Muitas vezes eu o achava esnobe, pernóstico e burguês demais para o meu gosto. Mas hoje, na minha maturidade, eu o entendo como um homem que tinha que se auto afirmar diante de um sistema tão perverso e da mediocridade reinante desse país. Infelizmente homens como Jô Soares, Paulo Henrique Amorim, Antônio Abujamra... estão nos deixando, mas ainda temos mais gente do mesmo calibre, o pior é que não sabemos se o talento e a sabedoria vão vingar nessas e nas futuras gerações. Adeus grande Jô, fiquei triste, todos nós ficamos tristes com a sua saída de cena.

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.