Cultura

Rio São Francisco vira música (e clipe) na voz da sergipana Héloa. Assista

Reverenciando forças ancestrais e o rio, cantora lança trabalho no Dia Internacional dos Povos Indígenas

Rio São Francisco vira música (e clipe) na voz da sergipana Héloa. Assista
Rio São Francisco vira música (e clipe) na voz da sergipana Héloa. Assista
Héloa/Fotos: Frame
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No Dia Internacional dos Povos Indígenas, 9 de agosto, a artista sergipana Héloa lança o videoclipe Agô mesclando ficção com documentário e homenageia a união de duas poderosas energias ancestrais: o Rio São Francisco e os símbolos tradicionais da cultura indígena Kariri-Xocó. “Em tempos que cada vez mais as pessoas se desconectam da natureza, dos saberes populares e da história do nosso povo, [isso] é muito importante”, acredita a cantora, que entrou para o universo musical aos 19 anos.

Em uma espécie de pedido de desculpas e um lamento pela morte do Rio Opará, amplamente conhecido como Rio São Francisco, Héloa lança olhar para este que vem sofrendo mutilações. Em um trecho da obra o Pajé Pawanã, da Aldeia Kariri-Xocó, faz um discurso emocionante e relembra a importância do Rio para a subsistência de povos ribeirinhos:

“Eu sou Pawanã Kariri-Xocó, sou chefe da minha aldeia. Bom dia!! Eu convido os irmãos a lutarem pelo nosso Rio Opará! O Rio Opará está indo embora, está morrendo, ele não tem mais peixe para a gente caçar! Nós vivemos dele, ele é nossa vida, nosso ancestral! Meus irmãos brancos de bom coração, vamos lutar pelo Rio Opará? Vamos? Vamos!”

Há anos que o Rio São Francisco vem sendo pauta de grandes discussões ambientais e sociais. As obras de transposição do São Francisco trouxeram danos como falta de tratamento de esgoto e estiagem a diversas áreas do país, o que prejudica a saúde ambiental e das pessoas ao redor. Na quinta 8, por exemplo, a Agência Nacional de Águas (ANA) divulgou um estudo realizado por Técnicos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) que mede a quantidade de água do Rio disponível no trecho de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, e em Juazeiro, na Bahia. Como resultado, obtiveram 900 mil litros por segundo, o que mostra uma enorme mudança ocorrida em 30 anos, em 1980 a vazão de água, neste circuito, era de 2 milhões e 250 mil litros por segundo.

“Quando decidi fazer um disco todo dedicado à força das águas fui ao encontro do Velho Chico (Rio Opará) e retornei a aldeia Kariri-Xocó, a qual tenho relação a mais de 15 anos. Nesse novo contato, e durante todos esses anos, vi o Rio Opará morrendo, toda uma aldeia mudando seu modo de viver, se alimentar, se banhar, toda uma tradição sofrendo junto ao Rio. Entendi que era um chamado. Assim o foi. O Pajé Pawanã tem sido um grande mentor nessa caminhada, me convidou, para além de um disco, a mergulhar ainda mais nessa tradição. Fui escolhida e acolhida como filha da aldeia. Recebendo ensinamentos e a missão de ser porta-voz e guardiã das forças ancestrais das águas através da música”, explica Héloa. 

Héloa com vestes sagradas/Fotos: Frame

A cantora nasceu e cresceu em Aracaju, no bairro Getúlio Vargas, que, segundo ela, possui o segundo maior quilombo urbano do país. Foi lá que construiu laços com as culturas local, sertaneja, africana e indígena. A construção do clipe surgiu a parir do seu desejo de reverenciar os povos ribeirinhos, o cangaço, as lavadeiras, os retirantes e toda força que existe no sertão.

Em 2013 a artista lançou seu o primeiro EP, que lhe rendeu shows e participações em vários festivais nordestinos, em 2016 realizou o primeiro álbum. Já no ano seguinte, ela fez seu primeiro trabalho como diretora e roteirista: o documentário “Eu, Oxum”. 

Dirigida por Raphael Borges, com fotografia de Edu Freire e roteiro da Héloa, as imagens de “Agô” foram gravadas às margens do Rio Opará. Colocando o dedo na ferida, de um lado, nos limites de Sergipe, deslumbra-se um Rio grandioso e frondoso, ponto turístico cobiçado. Do outro, em Alagoas, na cidade Porto Real do Colégio, onde fica localizada a Aldeia Kariri-Xocó, uma realidade oposta. Agora, a artista revela que um de seus planos futuros é fazer um documentário sobre o tema. “Agô” tem letra da sergipana Patrícia Polayne e inserção de um “Rojão”, canto de lamento Kariri-Xocó.

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