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Comida que dá vontade de repetir tem de ter sabor e ser preparada com o velho e bom respeito à boa matéria-prima

A textura do tutano é para o paladar de poucos, pois impressiona os fracos. Ilustração: Ricardo Papp
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O chef Benny Novak acaba de tomar a dianteira: Benny 2, Marcio Alemão 1. Benny é chef e um dos donos do Ici Bistrô. Se não me engano, foi eleito o melhor francês de São Paulo. E digo mais: justamente.

Pois eu e o Benny trocamos ideias não semelhantes há muitos anos. Tive uma ótima impressão da primeira vez que o visitei, em sua primeira casa. E quando se mudou nosso encontro não foi agradável para nenhuma das partes.

Mas o rio foi correndo, fazendo suas margens. Apesar de não gostar muito de usar essa expressão, arrisco com Benny: ele amadureceu. E de outro lado, a vida  também vai ensinando, trazendo experiência.  Bom deixar claro que o passar dos anos não funciona do mesmo jeito com todo mundo. A maioria não aprende nunca. Além do Ici, Benny comanda a Tappo Trattoria e o 210 Diner. E eu tenho comido bem no Ici.

O tutano que eu gosto de pedir como entrada é um prato requintadíssimo e para o paladar de poucos. Eu digo requintado por sua esquisitice. A textura daquela “coisa” impressiona os fracos. Digo que o tutano é uma das comidas que separam claramente meninos de homens. Mencionei textura e quem sabe em algum momento eu fale só disso. É muito interessante como a textura, mais que o sabor, espanta bocas. Minha filha é um exemplo. Diante de uma língua, de um bolinho de miolo, repete: “Não é o gosto; é estranho na boca, a consistência”.

Sobre miolo, uma sugestão para os que gostam. Na feira encontrei dois lóbulos fresquíssimos. Cozinhei em água com uma razoável cachaça e sal. Fatiados, temperados com pouco alho, azeite, pimenta e algumas fatias finas de azeitona, diminutos nacos de tomatinho, foram colocados dentro de um envelope de massa folhada. Forno seguido de alegria ao provar.

De volta ao tutano do Ici,  eu admito que chego a salivar quando penso nele. E esse é um ponto que nesse Refô tenho batido: comida que dá vontade de repetir. Os contemporâneos experimentos gastronômicos têm produzido exclamações, estudos, teses. Mas diante da pergunta: quer voltar quando no tal templo da nova gastronomia? A resposta é sempre vaga: Ah… pode ser daqui a um, dois anos. Ou: não precisa voltar, tá visto.

O fígado de boi do Ici é mais um prato de gente grande, mais um prato clássico da cozinha francesa, cozinha de bistrô. Com cebolas douradas, molho bordelaise e feito no ponto que gosto: não passado. Também ele entra na categoria das estranhas texturas para a turma de paladar infantil.

Curiosamente, o sabor do fígado chega a ser mais poderoso que o do tutano, que, repito, em minha boca sempre se apresenta mais refinado. Todavia, o recheio de canela ainda assusta mais.

Para o fígado do Ici eu tenho um amigo. Não combinamos um almoço. Combinamos de ir comer o fígado do Ici. Muito bem. Nessa altura, você, pessoa delicada, já considera a possibilidade de nunca passar perto do Ici. Calma. O tartar de atum é um começo de refeição muito sério.

Arraia, gosta? Um peixe delicadíssimo que vem com um igualmente delicado creme de mexilhões.

Massa? Eu recomendo o spaghetti verde de manjericão com alguns frutos do mar. É um prato leve com muito sabor e, em resumo, é isso que tem enorme valor na cozinha de Benny: sabor. O velho e bom respeito à boa matéria-prima e aos fundamentos da clássica cozinha, que sempre admite o tempero de um olhar contemporâneo.

O Ici fica na Rua Pará, 36. E a carta de vinhos é muito boa. Barato não é. Mas entra naquela categoria que você paga e não se arrepende, não se revolta.

Como notinha final, três vivas para Paulinho Abbud, mentor dos restaurantes Farabud, Saj e Manish: está acabando com serviço de manobrista pago. Em suas casas será cortesia. E me disse ele que está brigando com muita gente e tentando convencer outros tantos que isso deveria ser regra. Não está conseguindo vencer muitos adeptos. Danem-se, diria eu, vamos comer uma das melhores, se não a melhor, comida árabe de São Paulo sem ter de pagar  mais uma refeição para o carro.

O chef Benny Novak acaba de tomar a dianteira: Benny 2, Marcio Alemão 1. Benny é chef e um dos donos do Ici Bistrô. Se não me engano, foi eleito o melhor francês de São Paulo. E digo mais: justamente.

Pois eu e o Benny trocamos ideias não semelhantes há muitos anos. Tive uma ótima impressão da primeira vez que o visitei, em sua primeira casa. E quando se mudou nosso encontro não foi agradável para nenhuma das partes.

Mas o rio foi correndo, fazendo suas margens. Apesar de não gostar muito de usar essa expressão, arrisco com Benny: ele amadureceu. E de outro lado, a vida  também vai ensinando, trazendo experiência.  Bom deixar claro que o passar dos anos não funciona do mesmo jeito com todo mundo. A maioria não aprende nunca. Além do Ici, Benny comanda a Tappo Trattoria e o 210 Diner. E eu tenho comido bem no Ici.

O tutano que eu gosto de pedir como entrada é um prato requintadíssimo e para o paladar de poucos. Eu digo requintado por sua esquisitice. A textura daquela “coisa” impressiona os fracos. Digo que o tutano é uma das comidas que separam claramente meninos de homens. Mencionei textura e quem sabe em algum momento eu fale só disso. É muito interessante como a textura, mais que o sabor, espanta bocas. Minha filha é um exemplo. Diante de uma língua, de um bolinho de miolo, repete: “Não é o gosto; é estranho na boca, a consistência”.

Sobre miolo, uma sugestão para os que gostam. Na feira encontrei dois lóbulos fresquíssimos. Cozinhei em água com uma razoável cachaça e sal. Fatiados, temperados com pouco alho, azeite, pimenta e algumas fatias finas de azeitona, diminutos nacos de tomatinho, foram colocados dentro de um envelope de massa folhada. Forno seguido de alegria ao provar.

De volta ao tutano do Ici,  eu admito que chego a salivar quando penso nele. E esse é um ponto que nesse Refô tenho batido: comida que dá vontade de repetir. Os contemporâneos experimentos gastronômicos têm produzido exclamações, estudos, teses. Mas diante da pergunta: quer voltar quando no tal templo da nova gastronomia? A resposta é sempre vaga: Ah… pode ser daqui a um, dois anos. Ou: não precisa voltar, tá visto.

O fígado de boi do Ici é mais um prato de gente grande, mais um prato clássico da cozinha francesa, cozinha de bistrô. Com cebolas douradas, molho bordelaise e feito no ponto que gosto: não passado. Também ele entra na categoria das estranhas texturas para a turma de paladar infantil.

Curiosamente, o sabor do fígado chega a ser mais poderoso que o do tutano, que, repito, em minha boca sempre se apresenta mais refinado. Todavia, o recheio de canela ainda assusta mais.

Para o fígado do Ici eu tenho um amigo. Não combinamos um almoço. Combinamos de ir comer o fígado do Ici. Muito bem. Nessa altura, você, pessoa delicada, já considera a possibilidade de nunca passar perto do Ici. Calma. O tartar de atum é um começo de refeição muito sério.

Arraia, gosta? Um peixe delicadíssimo que vem com um igualmente delicado creme de mexilhões.

Massa? Eu recomendo o spaghetti verde de manjericão com alguns frutos do mar. É um prato leve com muito sabor e, em resumo, é isso que tem enorme valor na cozinha de Benny: sabor. O velho e bom respeito à boa matéria-prima e aos fundamentos da clássica cozinha, que sempre admite o tempero de um olhar contemporâneo.

O Ici fica na Rua Pará, 36. E a carta de vinhos é muito boa. Barato não é. Mas entra naquela categoria que você paga e não se arrepende, não se revolta.

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