Cultura

Que Rei sou eu?

No Brasil, temos o rei do futebol, da música, do cangaço e do baião. E quem é o nosso rei Momo?

No Brasil, temos o rei do futebol, da música, do cangaço e do baião. E quem é o nosso rei Momo? Foto: Galeria de Luiz Fernando / Sonia Maria/Flickr
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Alberto Villas*

 

Sempre ouvi falar em reis. Às vésperas das provas quando passava a mão naquele volume de História do Brasil do Rocha Pombo lá estavam eles. Era um tal de Dom Manuel I pra cá, Dom João VI pra lá. Não me esqueço que decorava os nomes de todos eles para que ficassem na ponta da língua na hora da arguição: Dom Pedro I, Dom Sebastião, Dom Henrique, Dom Filipe. E tinha rainha também. Quem não se lembra de Maria, a Louca?

Todos eles eram reis de verdade com roupa pomposa de veludo e coroa na cabeça. Mas no país do carnaval, muitos outros reis foram aparecendo e acabaram entrando para a história. Não foram parar no livro do Rocha Pombo, mas na boca do povo.

Lá pelos anos 20, 30 Virgulino Ferreira da Silva mandava e desmandava no sertão de Pernambuco. Virgulino era o nome de Lampião, o rei do cangaço. Temido na região, Lampião aprontava ao lado da companheira Maria que não era louca, mas Bonita.

Nos anos 40, 50 outro rei apareceu também lá no sertão de Pernambuco. Luiz Gonzaga do Nascimento, o rei do baião. Esse animava a festa. Quantas e quantas pessoas não caminharam dezessete léguas e meia só pra ir no forro dançar? Natural de Exu, o nosso rei do baião não deixava ninguém parado. Com uma sanfona na mão, acompanhado de uma zabumba e de um triângulo quem é que resistia sentado ao som de Asa Branca?

Nos anos 50, mais um rei entrou em campo. Aos 16 anos, lá estava Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, brilhando nos gramados da Suécia. Em 1970, ao lado de Tostão, Gerson e Rivelino, o nosso rei do futebol foi coroado fazendo o mundo curvar-se diante do seu show de bola. Coroado mesmo. Na França todos o conhecem até hoje como Le Roi e na América é Pelé, the king.

Nos anos 60, ao som de “quero que vá tudo para o inferno”, nascia num novo rei. Roberto Carlos Braga, o rei Roberto Carlos. Ao lado de um tremendão e de uma ternurinha, o rei Roberto reinou durante muitos e muitos anos. Todo final de ano fazia sua aparição para o povo brasileiro na tela da televisão. Eram fortes emoções. Até mesmo as estrelas mudavam de lugar, chegavam mais perto só pra ver. Ele era terrível!

Mas o Brasil tem também seus reis anônimos. Sábado no Mercado Central de Belo Horizonte ninguém resiste a dar uma passadinha no Rei da Feijoada. Por todas as cidades desse nosso país existem reis e mais reis. É o Rei dos Amortecedores, o Rei das Louças, o Rei do Frango, o Rei do Bacalhau, o Rei da Empada. Em todo shopping tem um Rei do Mate e aqui mesmo perto da minha casa na Lapa tem um rei, o Rei dos Colchões.

Agora, quando o carnaval chegar, vamos voltar a falar de rei, o Rei Momo. Pensando bem, pobres coitados, esses reis estão meio em baixa. Já houve uma época em que para ser rei do carnaval, era preciso pesar no mínimo 120 quilos. Mas nesses tempos de vacas magras, não é preciso mais ser gordo para ser Rei Momo. Basta esbanjar simpatia, ter sorriso nos lábios e samba no pé.

Ninguém se lembra, mas já tivemos o rei Gustavo Mattos no carnaval de 1949, o rei Jaime de Moraes em 1950. Já tivemos o rei Reynaldo de Carvalho (seria um trocadilho?) e o rei Milton Rodrigues da Silva Junior. E o rei Abrahão Reis (outro trocadilho?) que reinou na folia durante quatorze anos? Todos esquecidos. E quem é o nosso rei Momo no carnaval de 2012? Você sabe? Eu não sei, mas de qualquer maneira, o Rei Momo está vivo. Viva o rei!

No Brasil, temos o rei do futebol, da música, do cangaço e do baião. E quem é o nosso rei Momo?

Alberto Villas*

 

Sempre ouvi falar em reis. Às vésperas das provas quando passava a mão naquele volume de História do Brasil do Rocha Pombo lá estavam eles. Era um tal de Dom Manuel I pra cá, Dom João VI pra lá. Não me esqueço que decorava os nomes de todos eles para que ficassem na ponta da língua na hora da arguição: Dom Pedro I, Dom Sebastião, Dom Henrique, Dom Filipe. E tinha rainha também. Quem não se lembra de Maria, a Louca?

Todos eles eram reis de verdade com roupa pomposa de veludo e coroa na cabeça. Mas no país do carnaval, muitos outros reis foram aparecendo e acabaram entrando para a história. Não foram parar no livro do Rocha Pombo, mas na boca do povo.

Lá pelos anos 20, 30 Virgulino Ferreira da Silva mandava e desmandava no sertão de Pernambuco. Virgulino era o nome de Lampião, o rei do cangaço. Temido na região, Lampião aprontava ao lado da companheira Maria que não era louca, mas Bonita.

Nos anos 40, 50 outro rei apareceu também lá no sertão de Pernambuco. Luiz Gonzaga do Nascimento, o rei do baião. Esse animava a festa. Quantas e quantas pessoas não caminharam dezessete léguas e meia só pra ir no forro dançar? Natural de Exu, o nosso rei do baião não deixava ninguém parado. Com uma sanfona na mão, acompanhado de uma zabumba e de um triângulo quem é que resistia sentado ao som de Asa Branca?

Nos anos 50, mais um rei entrou em campo. Aos 16 anos, lá estava Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, brilhando nos gramados da Suécia. Em 1970, ao lado de Tostão, Gerson e Rivelino, o nosso rei do futebol foi coroado fazendo o mundo curvar-se diante do seu show de bola. Coroado mesmo. Na França todos o conhecem até hoje como Le Roi e na América é Pelé, the king.

Nos anos 60, ao som de “quero que vá tudo para o inferno”, nascia num novo rei. Roberto Carlos Braga, o rei Roberto Carlos. Ao lado de um tremendão e de uma ternurinha, o rei Roberto reinou durante muitos e muitos anos. Todo final de ano fazia sua aparição para o povo brasileiro na tela da televisão. Eram fortes emoções. Até mesmo as estrelas mudavam de lugar, chegavam mais perto só pra ver. Ele era terrível!

Mas o Brasil tem também seus reis anônimos. Sábado no Mercado Central de Belo Horizonte ninguém resiste a dar uma passadinha no Rei da Feijoada. Por todas as cidades desse nosso país existem reis e mais reis. É o Rei dos Amortecedores, o Rei das Louças, o Rei do Frango, o Rei do Bacalhau, o Rei da Empada. Em todo shopping tem um Rei do Mate e aqui mesmo perto da minha casa na Lapa tem um rei, o Rei dos Colchões.

Agora, quando o carnaval chegar, vamos voltar a falar de rei, o Rei Momo. Pensando bem, pobres coitados, esses reis estão meio em baixa. Já houve uma época em que para ser rei do carnaval, era preciso pesar no mínimo 120 quilos. Mas nesses tempos de vacas magras, não é preciso mais ser gordo para ser Rei Momo. Basta esbanjar simpatia, ter sorriso nos lábios e samba no pé.

Ninguém se lembra, mas já tivemos o rei Gustavo Mattos no carnaval de 1949, o rei Jaime de Moraes em 1950. Já tivemos o rei Reynaldo de Carvalho (seria um trocadilho?) e o rei Milton Rodrigues da Silva Junior. E o rei Abrahão Reis (outro trocadilho?) que reinou na folia durante quatorze anos? Todos esquecidos. E quem é o nosso rei Momo no carnaval de 2012? Você sabe? Eu não sei, mas de qualquer maneira, o Rei Momo está vivo. Viva o rei!

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