Cultura

“Pretos retintos vivem menos do que um vinho tinto”, diz rapper

Renan Inquérito ressalta que pobre vive isolamento social faz tempo

Foto: Cassia Belini/Divulgação Foto: Cassia Belini/Divulgação
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O rapper Renan Inquérito lança seu 8º álbum a partir das experiências e reflexões vividas durante a pandemia do novo coronavírus, momento perturbador em vários aspectos e também indecifrável.

“As letras (do novo trabalho) tem uma série de questões chaves que apareceram na pandemia, como, por exemplo, o desgaste nos relacionamentos, o amor como caos e como causa”, diz, referindo-se à quarta faixa do álbum: Amor é Causa.

Mas ressalta que em meio a tantas separações, para outros representou ressignificação: “Aflorou como causa, seja ela política, social e até ambiental”.

Segundo ele, ocorreu na pandemia confusão de sentimentos: “Uma mistura de estações, um ontem eterno que não passa, um amanhã que já foi tão perto e hoje se mostra tão distante. Essa coisa esquisita lembra as aulas de gramática. Lembra do futuro do pretérito. Então, uma espécie de Saudade do Futuro (nome da terceira faixa do trabalho)”.

Apesar do alto risco de mortes hoje, ele “acredita, repete e recita: Vida Vale Ouro (segunda faixa do álbum)”. A sétima faixa, Pandemônio, a realidade segue na pandemia.

“ Busquei nas músicas e nas palavras um sol em meio ao i(SOL)amento (nome do novo álbum), fiz um disco e um livro na tentativa de lançar luz às trevas”.

O livro é uma nova edição do seu segundo trabalho de poesias concretas, Poesia Pra Encher a Laje (editora LiteraRUA), que encontrava-se esgotado. “Ao rodar uma nova tiragem decidi repaginá-lo completamente. Todos os poemas foram diagramados novamente, com um novo design e uma nova capa. Trata-se de uma edição revisada e ampliada, uma versão 2.0”.

Nesse seu quarto livro Renan Inquérito inclui algumas poesias inéditas, com prefácio de Arnaldo Antunes e a orelha escrita por Emicida.

Momento complicado

Doutor em geografia, Renan Inquérito afirma que há anos o rap denuncia a situação de isolamento social: “Já cantávamos bem antes da pandemia esse abismo existente entre ricos e pobres no nosso país, essa linha abissal que nos separa. O coronavírus só reafirmou isso, trouxe para os holofotes”.

Para o rapper, violência policial, exclusão, falta de acesso a serviços básicos, pessoas morrendo nos hospitais por falta de equipamentos, não é novidade.

“A população mais necessitada já respira-dor antes dessa palavra ficar famosa”, diz. “Se fosse um jovem pobre, preto, que fosse picado por uma cobra naja, você acha que fariam o antídoto atravessar o país para salvar sua vida? Para esses, a única coisa que atravessa o país, a cidade, as paredes, e as gerações, são as balas”.

E vai além, com versos contundentes: “Pretos retintos vivem menos do que um vinho tinto, e quando a vida não é ceifada é a liberdade que é roubada, sociedade cega, acha que cadeia é adega. O futuro é uma fratura e também uma fatura, só quem pode pagar usufrui”.

Em Nova Odessa, interior de São Paulo, onde vive, a Parada Poética, sarau que realiza há sete anos na cidade, continua sendo realizada por meio de lives nas redes sociais.

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