Cultura
Polêmico, Tinhorão defendia o samba e teve atritos com a Bossa Nova
O pesquisador, morto aos 93 anos, foi capaz de registrar a gênese musical do país numa época em que pouca gente se interessava pelo assunto
José Ramos Tinhorão, pesquisador e crítico musical, morreu nesta terça 3, aos 93 anos. Deixa mais de 20 livros sobre música brasileira. Tinhorão tentou buscar a autenticidade da música brasileira, o que justifica preservar sua obra. O pesquisador centrou seu trabalho no processo de formação da música brasileira. Buscava a essencialidade da criação na sua origem – muitas vezes originada de gente humilde e pobre.
Nas críticas escritas para os jornais, não escondia que via a Bossa Nova como uma vertente abrasileirada do jazz dos Estados Unidos e não como uma transformação do samba. Por conta disso, criou inimigos de Tom Jobim a Ronaldo Bôscoli.
De uma série de textos escritos para o Jornal do Brasil, no início da década de 1960 surgiu um de seus livros mais conhecidos: Música Popular – Um Tema em Debate. Tinhorão entrevistou sambistas da primeira geração do chamado samba moderno – Donga, Ismael Silva, Almirante, entre outros. O nacionalismo ferrenho o fez chegar próximo do trabalho de João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Pixinguinha e outros mais novos que estes, de uma segunda geração, como Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça. É o pessoal do samba, sempre discriminado.
Tinha certa obsessão em contar a história musical do país desde quando era colônia. Tudo isso está em livros escritos por Tinhorão, como no História Social da Música Popular Brasileira, As Origens da Canção Urbana, Os Sons dos Negros no Brasil e por aí vai.
O trabalho de José Ramos Tinhorão é quase obrigatório na uma bibliografia de qualquer livro sobre música no País. Em um país que teima em não contar a sua história pelas lentes da cultura, sua obra é referencial.
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