Cultura
Pintura sobre pintura
Enio Squeff expõe 40 telas com força narrativa
Enio Squeff, O Pictório e o Crítico
Galeria Pintura Brasileira,
São Paulo
De 6 a 20 de abril
Naturezas-mortas, nus, retratos, a dança do futebol e paisagens que se parecem com a vida paulistana, especialmente a noturna, somam-se à memória interiorana de rios e montanhas nesta exposição de Enio Squeff. Não se trata de uma retrospectiva, diz o pintor, embora estejam ali pendurados 40 trabalhos seus, a maioria óleos sobre tela, mas também têmpera e aquarelas sobre papel, a incluir histórias antigas. A questão é que o tempo não existe, ou é quase invariável em suas representações, destacadas pela expressão narrativa e frequentemente invasivas sobre a moldura.
“Faço pintura a partir da pintura”, advoga o artista figurativo ligado à força do desenho, tornado “pictórico”, ele explica, quando lhe acrescenta tinta. Squeff desenha cotidianamente, desde menino, “como todo menino”. Primeiramente trabalhou como jornalista da escrita, em veículos como Veja e Folha de S.Paulo, ocupado em assuntos como ciência, música e editoriais, e só resolveu se lançar aos quadros quando o pintor João Rossi lhe sugeriu o caminho, em meados dos anos 1980. Squeff disse-lhe então ter um único temor em relação a esse ofício da mente e do pincel, que era
o de exercê-lo sem parar.
Pinta todos os dias em seu estúdio na Vila Madalena, livre para a arte, sem jamais perder a perspectiva crítica. O bairro paulistano é o mote de suas telas desde a época em que, aventureiro, postava o cavalete na descampada Rua Natingui, à noite. Numa dessas ocasiões, ganhou um sanduíche de mortadela de um boêmio, atitude que interpretou como um sim. Ele submete-se à pintura a ponto da obediência. Vê nela um cachorro grande, que ora se conduz, ora conduz você. “A vanguarda venceu, abaixo a vanguarda”, diz. E manifesta: “Eu acredito na pintura. E acredito na perspectiva de Béla Bartók para a composição. Ele dizia: ‘Quanta música bonita ainda se pode fazer!’” Beleza na arte, a ousadia do pintor.
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