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Personagens que a História não viu

No romance Debaixo da Nossa Pele, o autor cabo-verdiano Joaquim Arena escreve sobre figuras reais e também fictícias da diáspora africana na Europa

Personagens que a História não viu
Personagens que a História não viu
Ex-colônias. Em 2023, o escritor, radicado em Portugal, venceu o Prêmio Oceanos – Imagem: Redes Sociais
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Figuras reais, fatos históricos, ficção e diário de viagem se combinam em Debaixo da Nossa Pele, livro de Joaquim Arena, nascido na ex-colônia portuguesa de Cabo Verde e radicado em Portugal.

Ao longo de pouco mais de 200 páginas, o autor nos convida a uma jornada através da diáspora africana pela Europa. Numa prosa vívida, ele coloca no centro das narrativas personagens esquecidos ou pouco conhecidos da História.

A obra insere-se no movimento contemporâneo de retomada da trajetória de pessoas que viraram nota de rodapé ou foram excluídas da história oficial – que está sendo agora reescrita.

Em 2023, Arena venceu o Prêmio Oceanos com o romance histórico ­Siríaco e Mister Charles, que narra o encontro fictício entre dois homens que existiram: Charles Darwin e Siríaco, escravizado e portador de vitiligo, que fez parte da corte da Rainha Dona Maria.

Agora, ele traz à luz personagens como Thomas-Alexandre Davy de la ­Pailleterie, general mestiço das tropas napoleônicas e pai de Alexandre Dumas;

Abram Petrovich Gannibal, africano levado à Rússia e ancestral do escritor Aleksandr Púchkin; e Marcelino Manuel da Graça, o Sweet Daddy Grace, cabo-verdiano que fundou uma das maiores igrejas evangélicas afro-americanas nos EUA.

Embora narre histórias factuais dessas e de outras pessoas, Arena vale-se de artifícios da ficção para contar suas trajetórias. Numa prosa vívida e muito bem construída, o autor nos conduz ao passado a partir de observações do presente.

DEBAIXO DA NOSSA PELE. Joaquim Arena. Griphus (224 págs. 79,90 reais)

Por meio desse movimento, ele explora o despertar de uma consciência sociorracial a partir de personagens reais que não foram devidamente reconhecidas – ou cuja origem africana foi pouco mencionada.

“Por vezes, nas camadas mais humildes da população há quem consiga desenvolver a autoconsciência da sua idiossincrasia que lhe dá o sentido de equilíbrio entre ele e a moldura do mundo”, escreve.

Ele também registra vivências próprias, narrando, em primeira pessoa, sua experiência de cabo-verdiano em Portugal. As diversas fotos de pessoas e lugares, ao longo do livro, enriquecem a narrativa de forma particular.

Desse mosaico, Arena extrai um retrato da diáspora africana ao longo dos séculos que contribui para a compreensão do nosso presente. E “nosso”, aqui, significa também o do Brasil, um país inscrito na dinâmica portuguesa da escravização de africanos – fato cujas consequências permanecem até hoje. •

Publicado na edição n° 1383 de CartaCapital, em 15 de outubro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Personagens que a História não viu

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