Cultura
Peri e arrudA valorizam a palavra musicada. Elisabetsky, a sonoridade
Os músicos apresentam seus trabalhos recentes com ricas concepções


Dois trabalhos recentes valorizam as possibilidades musicais, cada um de seu jeito. Um é o álbum “Canções Velhas Para Embrulhar Peixes – Volume 3”, de Peri Pane e arrudA (sim, ele assina com o maiúsculo na última letra do nome). O outro chama-se “Xadrez”, disco instrumental de Bruno Elisabetsky.
No terceiro disco do ousado projeto de música e poesia “Canções Velhas Para Embrulhar Peixes”, que completou dez anos em 2018, as melodias do cantor e violonista Peri Pane voltam a se encaixar à poesia de arrudA.
Esse registro de música e poesia é de difícil enquadramento mercadológico, mas se trata de um esforço artístico alternativo de excelente qualidade. As intervenções poéticas de arrudA às composições executadas por Peri Pane são exemplares.
“A valorização da palavra, da poesia, está presente sempre, seja nos shows ou nos CDs”, cita arrudA, ressaltando que nos shows a presença da poesia é maior, o que faz necessário um ambiente adequado e uma atenção propícia do espectador ao texto lírico.
Peri Pane destaca a criação de melodias aos poemas de arrudA. “A divisão rítmica está presente na cadência dos versos. Os poemas falados já soam muito bem, existe um ritmo interessante ali. É bom de musicar, vêm prontos, é como se existisse uma canção a ser revelada”.
Clipe de Iê, de Peri Pane e arrudA:
O cantor cita momentos mais contemplativos e outros mais expansivos nas músicas do projeto, o que faz o trabalho reverberar para um público maior.
No volume 3, a produção musical foi do Marcelo Dworecki em parceria com o Ivan Gomes, com a participação da cantora Lucina em uma das faixas. O músico convidado Regis Damasceno (do grupo Cidadão Instigado) toca violão de doze cordas e bandolim em duas músicas.
Instrumental
O disco solo do violonista Bruno Elisabetsky, “Xadrez”, revela o compromisso desse instrumentista entre a tradição e a contemporaneidade.
O músico lançou três discos com composições somente suas. Os dois primeiros foram, no entanto, executados por um quarteto.
Neste último, a formação é de um trio onde a sonoridade respeitou a nova formação sem a presença de um instrumento melódico. Além de Bruno, completam o grupo João Fideles (bateria) e Rafael Abdalla (contrabaixo acústico).
Elisabetsky (Foto: Anna Santos/Divulgação)
“Nos dois primeiros trabalhos, em quarteto, eu levava harmonia e melodia e estava na maioria do tempo no lugar de harmonizador, acompanhando”, conta Elisabetsky.
“Nesse novo em trio, procurei apresentar as composições como surgem mesmo, no violão e, dessa forma, acabou por tornar-se um trabalho de violão acompanhado por bateria e baixo acústico”.
Em “Xadrez”, o trio é protagonista em todo o álbum, ao contrário dos anteriores, que tinham a presença de músicos convidados.
“Acho legal o fato de ser um trio com violão, pois existe um grande número de guitarristas (elétricos) que gravam nessa mesma formação, mas são poucos envolvendo o violão brasileiro mesmo, tocado com os dedos e com corda de nylon”.
Segundo ainda o músico, a tradição do violão brasileiro em um trio apareceu com mais força nos anos 1960 e 70, mas caiu muito de popularidade de lá para cá. O resultado consistente de “Xadrez” mostra o vigor dessa formação.
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