Quando conheci Umberto Eco na casa de Leo Gilson Ribeiro, ambos éramos muito jovens e eu não via nele o gênio poliédrico, o pensador polivalente, como acabou por ser conhecido em todo o mundo. Leo Gilson havia então recém-publicado um livro sobre os cronistas do absurdo, se bem lembro Ionesco, Adamov, Beckett. Eco, dois anos mais velho do que eu, ainda não escrevera O Nome da Rosa, de 1980. Com este romance, considerado um dos mais importantes do século passado, conquistou o mundo graças também à versão cinematográfica interpretada por Sean Connery. Naquele encontro, fiquei com a forte sensação de ter conhecido um erudito no sentido mais amplo, mas o livro ainda não figurava nas estantes. A Editora Record relançou-o no começo deste janeiro, na mesma data, dia 5, em que Eco completaria 90 anos.
Nesta conversa, ele me aconselhou a leitura de um livro de Ronald Knox, intitulado Iluminados e Carismáticos, texto a bico de pena sobre as primeiras heresias cristãs. Ele já cogitava de outro grande ensaio sobre cultura de massa chamado Apocalípticos e Integrados. Serviu-lhe para demolir criticamente os estudiosos da chamada Escola de Frankfurt e Marshall McLuhan, então muito popular. Disse-me naquela ocasião que o Brasil lhe despertava um interesse agudo, ao pressentir nas suas entranhas humores misteriosos, não necessariamente empolgantes, mas fortemente intrigantes, talvez até mesmo malignos.
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