Cultura

Pedro Miranda exalta projetos interrompidos por conta da pandemia

Samba, forró e choro na Gávea, que tinham o músico à frente, são lembrados em disco autoral

Foto: Pepe Schettino/Divulgação.
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Foi em 1998 que Pedro Miranda se juntou a Teresa Cristina e outros talentosos músicos para criar o Semente e tornar o grupo um dos responsáveis pela revitalização da Lapa do Rio de Janeiro. Pouco antes disso, ele participava do Cordão do Boitatá, bloco símbolo do ressurgimento do carnaval de rua carioca nos anos 2000. Aliás, a cantora Teresa Cristina conheceu Pedro Miranda em um ensaio do Boitatá.

Tempos depois, com três discos solos nas costas e vários trabalhos em grupo, resolveu em 2017 formar o Samba da Gávea, encontro informal às segundas-feiras com músicos de sua geração. Um ano depois, cria o baile Forró da Gávea e traz o Choro na Rua à praça Santos Dumont, epicentro de bares e restaurantes da Zona Sul do Rio.

Nessa toada, o cantor e compositor acabou levando a alcunha de agitador cultural. Mas a pandemia jogou água fria nos projetos. Aí veio seu quarto álbum, o primeiro de canções próprias, com a participação do pessoal que integrou as iniciativas feitas na Gávea. O trabalho mostra um artista maduro.

“Esse Pedro realizador vem acompanhado de um Pedro compositor, com pouco mais de 20 anos de estrada. Esse disco é fruto desses encontros. Por isso essa exaltação. Uma gratidão a todos os encontros e os benefícios que me trouxeram”, diz o músico.

Ele conta que não dimensionava a importância disso tudo, da participação ativa do ressurgimento da Lapa e do carnaval de rua. E que também a formação do Samba da Gávea foi um tanto casual.

“A ideia era juntar os amigos, para renovar reportório, estimular novas parcerias. Tinha certeza que isso ia levantar inspiração. Todo mundo com cerca de 15 anos de estrada, em que as vezes não tem muito tempo pra criar”, afirma. “Isso trouxe tanto benefício, que um ano depois eu quis fazer o forró. Depois de colocar 200 pessoas num baile, eu vi que comecei a mudar o entorno. Daí resolvi fazer o choro na praça, passando chapéu no comércio para realizá-lo. Daqui a pouco percebi que estavam me chamando de prefeitinho da Gávea”.

O papel transformador da música, de reunir pessoas para celebrar, foi o ingrediente principal para tocar os projetos. Mas aí veio o coronavírus.

“Já estava difícil [antes da pandemia]. [Com as iniciativas] Não estava investindo só na minha carreira, mas para juntar as pessoas, de fazer projetos baratos e coletivos. O pessoal dividindo igual. Muitos apoiadores. Estava mirando na aglomeração, na ocupação do espaço público”, relata.

Pedro Miranda diz que chorou de emoção ao ensaiar para um show que ia fazer quando a pandemia deu uma arrefecida, no final do ano passado. Era o retorno e o contato com os parceiros de música depois de meses sem vê-los presencialmente.

O músico é muito identificado com o samba (é um exímio pandeirista), mas tocou forró no começo de carreira e o contato com a obra de Luiz Gonzaga foi o impulsionador. Chegou até a comprar uma zabumba e, por causa disso, ganhou o apelido nos ensaios do Boitatá de Pedro Zabumba. Ele lembra que o bloco tocava o Rei do Baião, mas diz que não chegou a frequentar na época o circuito do forró na cidade.

“Fui fazer o Forro da Gávea pra me exercitar no gênero e também mostrar que canto forró desde sempre. Meu tripé da música brasileira é o samba, o choro e forró. São gêneros com muitas interseções”.

Álbum novo

Viabilizado por intermédio da Lei Aldir Blanc, o quarto álbum do cantor, compositor e agitador cultural Pedro Miranda, de nome Da Gávea para o Mundo, tem a produção do violonista Luís Filipe de Lima.

O trabalho abre com a criativa Pó Pará (dele com João Cavalcanti e Edu Neves). No fim de cada frase, as palavras são interrompidas no meio, sem ferir o ritmo e entendimento, dando um efeito inovador à música.

Segue com Vontade de Sair (dele com Cristóvão Bastos), Da Gávea para o Mundo (Luís Filipe de Lima e Joyce Moreno), Samba da Gávea (João Batista de Oliveira e Osvaldo Lobo) com a participação do grupo homônimo, Umbigo (Cézar Mendes e Arnaldo Antunes), Desengaiola (dele com Alfredo Del-Penho), Camboinhas (dele com Rodrigo Linares) com a participação do Forró da Gávea, Meu pecado É Sorrir (dele com Moyseis Marques) com o pessoal do Choro na Rua, De Mirada em Mirada (dele com Ricardinho Matos) e Remanso do Avô (dele com Jean Garfunkel). São todas canções muito bem trabalhadas e boas de ouvir.

O time de músicos que participam do álbum é de primeira linha. Cita-se alguns (que inclusive integram os projetos de Pedro Miranda na Gávea): Cristóvão Bastos, Wanderson Martins, Thiago da Serrinha, Eduardo Neves, Rui Alvim, Alfredo Del Penho, Bruno Barreto, João Cavalcanti, Paulino Dias, Bebê Kramer, Alexandre Maionese, Daniela Spielmann, Silvério Pontes, Henrique Cazes, Rogério Caetano, Rodrigo Jesus e por aí vai.

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