PIETÀ
Kim Ki-duk
Em tempos de conclave, parece vir a propósito o título Pietà que o sul-coreano Kim Ki-duk escolheu ao se inspirar numa visita ao Vaticano. Mas, afora a referência à imagem esculpida por Michelangelo, há pouco de fábula religiosa neste duro drama que estreia sexta 15. Se tanto, um dos mais prestigiados realizadores do momento, que mereceu o Leão de Ouro no último Festival de Veneza, quis que sua visão expressasse solidariedade aos despossuídos do capital, um abraço, como afirmou na coletiva de imprensa. E nisso o filme se empenha no limite de uma representação aflitiva, que levou alguns jornalistas a deixar a sala. Mas o diretor tem um intento e o alcança. Seu olhar sobre uma determinada realidade da periferia de Seul, condensada em poucos personagens, quer registrar o desespero atual de luta pela sobrevivência, como fez o neorrealismo italiano, apenas que a moeda de troca é outra e talvez mais impiedosa.
Disso sabe bem o protagonista, jovem que vive de cobrar dívidas para um agiota. Seus métodos usam da truculência necessária para cumprir o ofício, como obrigar os endividados a amputar membros do corpo e, dessa forma, receberem indenização. Um rapaz sem escrúpulo e sentimento, presume-se, até que lhe ressurge a mãe há muito sumida, que vem retomar seu lugar. Nada é muito esclarecedor ou definitivo nessa história, que tem reviravoltas a nos perturbar, mas também nos enternecer com seus tipos, que de longe não parecem merecer consideração.