O cantor, compositor e violonista Paulo Ohana faz uma abordagem corajosa em novo disco que tem como tema central o amor homoafetivo e a masculinidade. Ressalta-se também a sonoridade do trabalho, estudada e precisa.
Ohana tem dois trabalhos em grupo: Outros Ventos (2013) com o baixista Gabriel Preusse, e Trem Doido (2018), com a banda de mesmo nome, em que interpretou canções do Clube da Esquina. Formado em música pela Unicamp, a carreira solo começou com o EP Pólis (2015), que, segundo ele, já fazia algumas referências no que tratou neste segundo trabalho recém-lançado, O Que Aprendi Com Os Homens (Selo YB Music) com 10 faixas.
Quatro faixas do disco têm referência direta à homoafetividade e a masculinidade. “É eu mesmo dando voz às minhas pulsões. Como compositor, é legitimar o desejo pelos homens e expor isso. Trata-se de uma escolha artística. É uma maneira de dar voz por meio da minha voz. Falar desse lugar para que seja ouvido, visto, reconhecido”, justifica o trabalho já disponível nas plataformas de música.
O músico identifica ainda a importância política do álbum com essa temática. “A gente avançou muito nos últimos anos com a discussão. Tanto na questão LGBTQIA+ quanto em relação ao racismo. É indiscutível. Mas agora a gente está vivendo um retrocesso no discurso, nas atitudes”, diz.
Ele cita o fotógrafo americano Robert Mapplethorpe (1946-1989), que registrava o universo homoafetivo, como exemplo de tratar desse tema com equilíbrio. “Dá pra perceber que a beleza de suas fotos era um componente estratégico para que ele conseguisse levar aqueles corpos, aqueles homens, às galerias, usando a técnica de fotografia de forma tão bela. Ainda assim, o trabalho dele foi atacado, censurado. Na minha abordagem, também tem essa proposta de abordar com delicadeza, uma sobriedade”, afirma.
Dentro do universo da MPB, onde situa o trabalho de Paulo Ohana, é quase raro o trato na música dessa temática. O músico destaca Luís Capucho como um dos compositores referência que aborda explicitamente em seu trabalho relações homoafetivas. Capucho já foi gravado por grandes artistas. “Tem gente que veio antes e que abriu também esse caminho, como Ney Matogrosso, Cássia Eller, Cazuza, Renato Russo”.
O álbum também trafega por outros temas, como as relações cotidianas, o existencialismo e a vida urbana. A sonoridade do disco percorre as tradições populares e também o indie.
O lançamento do álbum O Que Aprendi Com Os Homens, de Paulo Ohana, será realizado no dia 21 de novembro, 19h, no Centro Cultural da Diversidade, no Teatro Décio de Almeida Prado – rua Lopes Neto, 206, Itaim Bibi, em São Paulo (SP). O disco foi viabilizado com recursos do Proac.
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login