Cultura
Para ex-presidente da Funarte, defesa a Fernanda Montenegro determinou exoneração
O pianista Miguel Proença também afirmou não ter sido recebido pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro Osmar Terra


Demitido na segunda-feira 4, o ex-presidente da Funarte (Fundação Nacional das Artes), o pianista Miguel Proença, declarou que, apesar de sua insistência, não conseguiu ser recebido pelo presidente Jair Bolsonaro, nem pelo ministro Osmar Terra, da pasta Cidadania a qual a Funarte é subordinada.
A demissão de Proença foi publicada nesta segunda-feira 4 no Diário Oficial da União e assinada pelo ministro Onyx Lorenzoni, da Casa Civil. Ele foi nomeado para estar à frente da Funarte em dezembro de 2018 e assumiu o cargo em fevereiro de 2019. Pianista e ex-diretor da Sala Cecília Meirelles, localizada no Rio, também já foi secretário municipal de Cultura e diretor da Escola de Música Villa-Lobos.
Conforme adiantou a Folha de S.Paulo um dos principais nomes cotados para substituir Proença é o do dramaturgo Roberto Alvim, atual diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte (ocupa o cargo desde julho), alinhado a Bolsonaro. Em setembro, ele atacou Fernanda Montenegro nas redes sociais, após ela ser capa da revista literária “Quatro cinco um”. Fernanda foi retratada como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira com livros, fazendo uma referência aos recentes casos de censura protagonizados pelo governo.
“A foto da sórdida Fernanda Montenegro como bruxa sendo queimada em fogueira de livros, publicada hoje na capa de uma revista esquerdista, mostra muito bem a canalhice abissal destas pessoas, assim como demonstra a separação entre eles e o povo brasileiro”, declarou Alvim, à época.
O dramaturgo classificou a atitude de Fernanda Montenegro como mentirosa e disse que pessoas como ela estariam deturpando os valores mais nobres de nossa civilização. “Nada pode ser mais infantil, mentiroso e canalha do que essa senhora diz na referida matéria. Fernanda Montenegro já assistiu várias peças minhas no passado, e já nutri alguma admiração por ela. Hoje, só o que sinto por essa mulher é o mais absoluto desprezo. Triste fim de carreira”, argumentou o diretor.
Ao Estado de S. Paulo, o ex-presidente da Funarte declarou que defender a atriz foi determinante para sua exoneração. “Irritou profundamente (defender a atriz). A pessoa devia estar contrariada com ela. Não sei o porquê. Fui um dos primeiros a me manifestar. Não pensei em política, pensei em mandar um abraço a uma amiga”, disse Proença, sem citar Alvim diretamente.
Ele ainda se disse surpreendido pela exoneração e afirmou estranhar que o ato tenha sido assinado por Lorenzoni, ministro da Casa Civil, em vez de Osmar Terra, da Cidadania, área responsável pela gestão da cultura.
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