Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

‘Os toques para os orixás são os verdadeiros pais da música brasileira’

Filme mostra o encontro do batuque dos terreiros com a viola no Recôncavo Baiano, originando o samba de roda

Foto: Carolina Merat
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Dias atrás foi lançado o filme A Rota do Samba de Roda. Em 2h18min de documentário, disponível no YouTube, são apresentados personagens de Salvador, do Recôncavo Baiano (Santo Amaro, Cachoeira e São Felix) e de Feira de Santana intimamente ligados à história e a preservação das tradições afro-brasileiras religiosas e musicais. O projeto é rico em depoimentos e explicações.

O longa-metragem foi desenvolvido pelo grupo Awurê e filmado em fevereiro deste ano. Pedro Oliveira, Fabíola Machado, Anderson Quack e Arifan Júnior realizam desde 2017 uma roda de samba em Madureira, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde resgatam as origens do gênero. Os quatro foram à Bahia compreender melhor o que faziam.

 

O filme apresenta depoimentos de vivência de gente profundamente ligada às raízes africanas no Brasil. O produtor cultural Valmir Pereira, de Cachoeira, um dos personagens do longa-metragem, resume bem o que trata o documentário: “A gente acredita que os toques para os orixás são os verdadeiros pais da música brasileira”.

As entrevistas convergem para esta afirmação. Em meados do século XIX, os chamados samba de caboclo e samba de cabula saem dos terreiros e vão para as comunidades periféricas de Salvador.

No Recôncavo, têm-se esse mesmo movimento, com a força das festas religiosas e a formação das irmandades compostas por negros. Acabavam-se os festejos religiosos e a festa continuava com samba de roda, com direito a comida tradicional dos escravos.

O cantor, compositor e grande conhecedor da música do Recôncavo Roberto Mendes conta no filme que quando a viola portuguesa chegou naquela região, por volta de 1850, encontrou o batuque, há 200 anos no Brasil, dando início à formação do samba que conhecemos hoje.

Valmir Pereira lembra no longa-metragem que os atabaques já eram utilizados pelos negros no chamamento às lutas e fortalecimento para o enfrentamento da realidade.

O samba de roda ganhou várias vertentes e variantes, como chula do Recôncavo. Na capital baiana, virou samba duro – e mais recentemente ganhou o nome de samba junino.

A influência do índio no samba de roda com seus movimentos, a confluência com a capoeira e a culinária como elemento importante dos encontros de canto e dança também são retratados.

O grupo do filme visita terreiros ainda com samba de caboclo em Salvador. Em Feira de Santana, no Quilombo de Quixabeira da Matinha, Dona Chica do Pandeiro, mestra da cultura popular, segura a bandeira da tradição do samba de roda. Mestre João do Boi, compositor, cantador e tocador de chulas do povoado de São Braz, em Santo Amaro, é outro símbolo de resistência apresentado no filme.

Os negros baianos vão pro Rio de Janeiro e levam os batuques já com inserções do samba de roda. No início do século passado, ganha forma o samba urbano moderno.

A força dos personagens envolvidos tornam A Rota do Samba de Roda do grupo Awurê um grande documentário, que no YouTube já vai caminhando para 100 mil visualizações.

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