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Operação Temakeria

Ian Fleming, o criador do famoso agente secreto 007, divaga sobre indústria cinematográfica

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Blog do escritor Ian Fleming
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Meu personagem, James Bond, deu origem a franquia mais antiga e lucrativa da história da indústria cinematográfica. Todos os filmes juntos já faturaram mais de 12 bilhões de dólares. E foram vistos por uma boa parte da população do planeta. 007 é o agente secreto mais conhecido do mundo. O que é uma contradição em termos.

O termo “franquia”, utilizado para designar continuações de um filme de sucesso, me parece estranho e bastante apropriado. Eu o leio e imediatamente imagino uma rede de frozen yogurt, com lojas padronizadas e cardápio unificado. E não há nada de desabonador nesta imagem. Franquias são feitas para dar dinheiro, igualzinho aos filmes.

Mas você sabe como são essas coisas. Nem sempre a relação, entre quem vende um modelo de negócio e quem o implanta, é tranquila. O Franqueador precisa que o franqueado respeite os valores da marca e siga a risca as normas e procedimentos estabelecidos. Já o franqueado quer contribuir, inovar métodos e imprimir um pouco do seu estilo. Inventa o McAcarajé com pimenta forte (o número 2 por razões óbvias) e fica decepcionado com o franqueador intransigente, que veta suas ideias e demonstra insensibilidade para enxergar as oportunidades dos mercados regionais.

Até agora a franquia 007 contratava diretores de aluguel de reconhecida competência técnica, mas sem notoriedade. Claro, queríamos um bom chef que seguisse a receita, sem ímpetos de acrescentar novos ingredientes. Skyfall é o primeiro filme da série conduzido por um realizador renomado, Sam Mendes, ganhador do Oscar por Beleza Americana. Mendes é um profissional que assina suas realizações, mesmo trabalhando na Indústria hollywoodiana.

Devo dizer que gostei do resultado geral. Sam trouxe apuro visual para todo filme, não ficou restrito aos já tradicionais e belos créditos iniciais. A narrativa está mais envolvente. Outro acerto foi a introdução de novos conflitos. Além do maniqueísmo de praxe, bem versus mau, temos agora o velho versus o novo, o analógico versus o digital. O vilão está digno da melhor tradição da série. Craig é um James Bond dos bons. As cenas de ação seguem o padrão de qualidade da franquia, apesar de que, em alguns momentos, abdicam da clareza em favor da estética.

Como disse, no geral o filme está ótimo. No entanto, tenho uma reclamação pontual a fazer. Cadê as bond girls? Duas só são suficientes? Elas quase inexistem. Quem foi que deu licença para matar as cenas eróticas e sexistas? Faltou tempo? Sam não poderia ter cortado um pouco da rasa dimensão freudiana da história? Vê se pode, a grande bond girl de Operação Skyfall é a M, a chefona do MI6, papel desempenhado pela veterana atriz Judi Dench. Francamente, não era isso que estava no manual de implementação do franqueado.

 

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Meu personagem, James Bond, deu origem a franquia mais antiga e lucrativa da história da indústria cinematográfica. Todos os filmes juntos já faturaram mais de 12 bilhões de dólares. E foram vistos por uma boa parte da população do planeta. 007 é o agente secreto mais conhecido do mundo. O que é uma contradição em termos.

O termo “franquia”, utilizado para designar continuações de um filme de sucesso, me parece estranho e bastante apropriado. Eu o leio e imediatamente imagino uma rede de frozen yogurt, com lojas padronizadas e cardápio unificado. E não há nada de desabonador nesta imagem. Franquias são feitas para dar dinheiro, igualzinho aos filmes.

Mas você sabe como são essas coisas. Nem sempre a relação, entre quem vende um modelo de negócio e quem o implanta, é tranquila. O Franqueador precisa que o franqueado respeite os valores da marca e siga a risca as normas e procedimentos estabelecidos. Já o franqueado quer contribuir, inovar métodos e imprimir um pouco do seu estilo. Inventa o McAcarajé com pimenta forte (o número 2 por razões óbvias) e fica decepcionado com o franqueador intransigente, que veta suas ideias e demonstra insensibilidade para enxergar as oportunidades dos mercados regionais.

Até agora a franquia 007 contratava diretores de aluguel de reconhecida competência técnica, mas sem notoriedade. Claro, queríamos um bom chef que seguisse a receita, sem ímpetos de acrescentar novos ingredientes. Skyfall é o primeiro filme da série conduzido por um realizador renomado, Sam Mendes, ganhador do Oscar por Beleza Americana. Mendes é um profissional que assina suas realizações, mesmo trabalhando na Indústria hollywoodiana.

Devo dizer que gostei do resultado geral. Sam trouxe apuro visual para todo filme, não ficou restrito aos já tradicionais e belos créditos iniciais. A narrativa está mais envolvente. Outro acerto foi a introdução de novos conflitos. Além do maniqueísmo de praxe, bem versus mau, temos agora o velho versus o novo, o analógico versus o digital. O vilão está digno da melhor tradição da série. Craig é um James Bond dos bons. As cenas de ação seguem o padrão de qualidade da franquia, apesar de que, em alguns momentos, abdicam da clareza em favor da estética.

Como disse, no geral o filme está ótimo. No entanto, tenho uma reclamação pontual a fazer. Cadê as bond girls? Duas só são suficientes? Elas quase inexistem. Quem foi que deu licença para matar as cenas eróticas e sexistas? Faltou tempo? Sam não poderia ter cortado um pouco da rasa dimensão freudiana da história? Vê se pode, a grande bond girl de Operação Skyfall é a M, a chefona do MI6, papel desempenhado pela veterana atriz Judi Dench. Francamente, não era isso que estava no manual de implementação do franqueado.

 

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