Cultura

Obra desvenda João Gilberto a partir de sua relação com a terra natal

O ex-Novos Baianos Luiz Galvão conhecia o artista desde quando vivia em Juazeiro do Norte e em livro faz um relato afetivo e generoso

Foto: Divulgação
Apoie Siga-nos no

O primeiro livro publicado sobre João Gilberto depois de sua morte, em 6 de julho de 2019, na verdade já estava pronto (começou a ser escrito há 22 anos), mas ficou por anos engavetado por falta de autorização do cantor para publicação.

João Gilberto, a Bossa (Lazuli Editora), de Luiz Galvão, foi reorganizado e atualizado para edição por sua mulher, Janete, e filhos, já que o autor, com 85 anos, encontra-se com saúde frágil.

Conterrâneo de João Gilberto, Luiz Galvão formou com Moraes Moreira, Baby Consuelo, Pepeu Gomes e Paulinho Boca de Cantor os Novos Baianos. Poeta apurado, compôs com Moraes Moreira Preta, Pretinha e outros clássicos. Ele escreveu, inclusive, um livro sobre a história do grupo.

Luizinho, como era chamado por João Gilberto, foi apresentado por um amigo do colégio ginasial ao cantor e violonista em Juazeiro do Norte, cidade de ambos. Eles tiveram contatos muito próximos ao longo da vida, e isso fez João estar perto dos Novos Baianos (e influenciá-los), o que é expressado no livro, tanto que integrantes do grupo contam histórias com o artista.

Os livros já publicados que retratam de alguma forma a vida de João Gilberto centram muito sobre sua proximidade com a Bossa Nova (por razões óbvias por ser ele considerado símbolo do gênero) e a geração bossa-novista.

Galvão pega a vertente de sua relação com a sua origem na Bahia e pessoas que ele conviveu em sua cidade natal, os artistas locais, e também descrições de bastidores de apresentações musicais de João, que ele teve acesso, com olhar privilegiado.

No âmbito do temperamento do artista, abordado largamente em textos e narrativas como de comportamento estranho e difícil, na obra de Luiz Galvão essa personalidade é tratada no seu lado mais afetivo e generoso, sem, no entanto, deixar de citar suas esquisitices.

João já era visto em Juazeiro do Norte com prodígio. Aprendeu a tocar violão assistindo outros na lida. Na obra, relata-se como ele entrou no primeiro conjunto musical, o Enamorados da Lua, até ir para Salvador.

As confidências que João Gilberto fazia a Luiz Galvão, mostradas no livro, e ações práticas no seu estrito grupo de relação revelam um artista de certa forma conhecedor de sua realidade: um brasileiro privilegiado, respeitado no exterior, mas cercado de pessoas com dificuldades financeiras.

A descrição na obra de um professor de música e estudioso sobre João Gilberto, Aderbal Duarte, sobre a técnica impar de execução do violão pelo cantor e a forma original de cantar, é uma bem argumentada explicação sobre como o artista criou sua maneira singular de interpretar canções.

Há muito ainda a se explorar de João Gilberto. Luiz Galvão dá uma boa contribuição no livro sobre o gênio da música brasileira, muitas vezes relacionado à Bossa Nova, mas que é necessário ir além disso, pela sua forte e ampla influência no meio musical aqui e no mundo.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo