Augusto Diniz | Música brasileira
Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.
Augusto Diniz | Música brasileira
O violão atual de João Pernambuco, Agustín Barrios e Quincas Laranjeiras
Os três violonistas estabeleceram um parâmetro estilístico do instrumento no País; num EP, Max Riccio condensa essa contribuição


Um EP lançado dias atrás, com o nome de Retrato Carioca, do violonista Max Riccio, faz um breve resgate de três grandes mestres do violão, que foram determinantes no início do século passado na construção de uma técnica e estilo para o chamado violão moderno brasileiro.
O potiguar Max Riccio é formado em violão pela Escola de Música da UFRJ e é mestre pela Unirio. Tem atuação na música clássica, tanto aqui como no exterior. Foi no contato com a obra do pernambucano Quincas Laranjeiras que se despertou para esse universo, que remonta a música brasileira do início do século 20.
O músico fez inicialmente o registro fonográfico de duas músicas de Laranjeiras. “Fiquei tão encantado com este compositor que decidi me empenhar para difundir mais essas obras, visto que ainda são pouco conhecidas”, afirma.
Nas suas pesquisas, deparou-se com uma foto provavelmente de 1917, tirara no Rio de Janeiro, em que aparece Quincas Laranjeiras ao lado de Agustín Barrios e João Pernambuco.
“Veio a ideia de um pequeno recorte musical com obras dessas ilustres personalidades, que intitulei de Retrato Carioca”, explica o EP de cinco faixas (já disponível nas plataformas de música), sendo três composições de Laranjeiras, uma de João Pernambuco e outra de Agustín Barrios.
A gravação do EP foi feita com uma réplica do violão Torres, com encordoamento de tripa, o mais usual naquele período. Antonio de Torres vinha de uma tradição de construção de violões espanhóis no século XIX.
O violonista explica que, em termos de desenho e formato, o modelo é muito similar ao violão clássico atual, “mas no que tange a sonoridade e ‘tocabilidade’, difere bastante”. Segundo ele, os instrumentos mais atuais são mais robustos com uma sonoridade mais direta, enquanto o modelo Torres tem uma palheta de timbres mais suaves e sutis, trazendo essa sensação de doçura e intimista, o que fica ainda mais acentuada com uso de cordas de tripas.
Os três compositores registrados no EP de Max Riccio tiveram importante atuação no Rio de Janeiro, que era o principal centro cultural do País, e trabalhavam com importantes nomes da época, como Pixinguinha, Catulo da Paixão Cearense, entre outros.
“No caso desses compositores, eles não só contribuíram como também estabeleceram parâmetros técnicos e estilísticos no cenário violonístico. A curiosidade é que elementos das músicas de Laranjeiras e Pernambuco aparecem como citações em obras para violão de nosso grande compositor, Heitor Villa-Lobos”, relata Riccio.
A curiosidade maior fica por conta de Agustín Barrios, que é referência até hoje de muitos violonistas brasileiros. “A gente se pergunta qual teria sido o papel de Barrios na música brasileira, visto ser paraguaio e ter a redescoberta de sua obra ainda que relativamente recente”, afirma o músico.
“As pesquisas mais atuais trazem informações impressionantes sobre a atuação de Barrios aqui no Brasil. Acredito que o que mais chama atenção nele é a diversidade encontrada em suas músicas. É possível encontrar elementos mais ligados à tradição da música clássica, como também uma riqueza de gêneros musicais da América Latina”, afirma.
A escola de violão no Brasil é muito rica. O instrumento ganhou relevância essencial na formação de uma música tipicamente brasileira. Max Riccio fez bem em resgatar esses expoentes que delinearam esse caminho hoje que ocupa o instrumento na nossa sonoridade. Mas vale observar também que há muito ainda a ser estudado sobre o violão no Brasil.
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