Cultura

O que une empregados domésticos e patrões?

Drama ‘Que Horas Ela Volta’, da cineasta Anna Muylaert, retrata com humor e sensibilidade as mudanças nas relações domésticas ocorridas recentemente no País

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Apresentado no domingo 8, no Festival Internacional de Cinema de Berlim, Que Horas Ela Volta, novo filme de Anna Muylaert, é uma inusitada surpresa.

Fugindo dos clichês de comédias que retratam o universo das empregadas domésticas de maneira zombeteira, o filme da cineasta paulistana é um denso drama familiar – mas sem deixar de dar espaço para o humor.

“A ideia para o filme surgiu quando tive meu primeiro filho e não quis contratar uma babá. Ao mesmo tempo, percebi que esse é um trabalho muito importante, mas considerado de segunda classe no Brasil”, contou Muylaert na coletiva de imprensa em Berlim.”Eu demorei 18 anos para chegar no roteiro final”.

Que Horas Ela Volta é centrado em Val (Regina Casé), uma empregada que vive com os patrões e tem grande apreço por seu trabalho. Ela comanda a casa e ama, como uma mãe, o único filho da família, praticamente criado por ela.

“É um trabalho desconsiderado. Houve algumas mudanças nos últimos 12 anos com o governo do PT. A arquitetura da casa simboliza essa divisão social. A empregada tem seu lugar e está banida das áreas de lazer”, avaliou Muylaert. “Assim como no fenômeno dos rolezinhos.”, comparou.

A harmonia do lar começa a mudar quando a filha de Val, Jéssica (Camila Márdila), resolve ir a São Paulo prestar vestibular de arquitetura. Inteligente e confiante, a jovem acaba abalando a estrutura da família.

“Inicialmente, ela era o que se espera do clichê da filha de uma empregada no Brasil: fraca, pobre e facilmente abusada. Eu lutei muito para que ela trouxesse um pouco de mudança, mas ao mesmo tempo, queria fugir do final feliz. Eu nasci do lado de fora da porta da cozinha e demorei muitos anos para conseguir levar a câmera para o outro lado (de dentro)“, revelou a cineasta.

A grande inspiração para a personagem de Val foi Dagmar, empregada que trabalhou por décadas na casa da família de Muylaert. A personagem ganhou contornos dramáticos, divertidos e carinhosos na interpretação de Regina Casé e é balanceada pela explosiva atuação de Márdila como Jéssica.

“Sempre fui muito revoltada com essa situação, mesmo quando criança. Eu não conseguia entender se ela era ou não da minha família. Isso me confundia”, revelou a diretora. “Esse (filme) foi um projeto de uma vida inteira.”

Anna Muylaert contou que a intenção era fazer um “filme sério”, que pudesse valorizar a cultura popular e também a afetividade transmitida por essas babás. “O amor de mãe dado por essas mulheres vale ouro”, resumiu.

  • Autoria Marco Sanchez

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