Cultura

O poeta bem de perto

O escritor Fernando Jorge registra em livro as muitas conversas que teve com Carlos Drummond de Andrade

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Drummond e o Elefante Geraldão


Fernando Jorge


Novo Século, 174 págs., R$24,90

Ao longo de três décadas, o escritor Fernando Jorge pacientemente registrou as muitas conversas que teve com Carlos Drummond de Andrade. O autor conheceu o poeta quando este era funcionário do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), no Rio de Janeiro. Tornaram-se amigos. Nessas memórias afetivo-literárias, Jorge compartilha deliciosas histórias e confidências do poeta de Itabira, um tímido com declarada aversão a integrar a Academia Brasileira de Letras.

“Nunca quis e jamais haverei de querer entrar para a ABL. Tenho o senso do ridículo. Já imaginou me ver metido naquele fardão patético, com aquela espada absurda e aquele chapelão que, como você costuma dizer, se assemelha a um espanador ou a um rabo de avestruz?”, argumentou certa feita.

Em determinada ocasião, Jorge foi incumbido por Drummond de criticá-lo. O poeta acreditava que o excesso de elogios podia transformá-lo numa figura acadêmica de museu. Ansiava por uma voz dissonante. O amigo escritor aquiesceu e saiu falando mal de uma expressão que o próprio autor sugeriu, “sinto em mim uma mistura de seda e péssimo”. A crítica ressoou e o poeta abriu um sorriso de regozijo.

Nas muitas conversas tardes adentro no apartamento de Drummond, Jorge se comprazia em descobrir o que o notório artesão das palavras achava das coisas. Como ele definia, por exemplo, a essência do mineiro? “Um bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira no vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, não estica conversa com estranho. Só acredita na fumaça quando vê o fogo e só se arrisca quando tem certeza de ganhar”, desfiou.

Entre as vontades de Drummond confessadas a Jorge estava a criação de “um romance fantástico, com a história de um elefante voraz”. O insaciável gigante devoraria diariamente bichos como baleias e hipopótamos e se chamaria Geraldão. Para infortúnio dos leitores, a portentosa criatura jamais deixou a categoria de devaneio.

Drummond e o Elefante Geraldão


Fernando Jorge


Novo Século, 174 págs., R$24,90

Ao longo de três décadas, o escritor Fernando Jorge pacientemente registrou as muitas conversas que teve com Carlos Drummond de Andrade. O autor conheceu o poeta quando este era funcionário do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), no Rio de Janeiro. Tornaram-se amigos. Nessas memórias afetivo-literárias, Jorge compartilha deliciosas histórias e confidências do poeta de Itabira, um tímido com declarada aversão a integrar a Academia Brasileira de Letras.

“Nunca quis e jamais haverei de querer entrar para a ABL. Tenho o senso do ridículo. Já imaginou me ver metido naquele fardão patético, com aquela espada absurda e aquele chapelão que, como você costuma dizer, se assemelha a um espanador ou a um rabo de avestruz?”, argumentou certa feita.

Em determinada ocasião, Jorge foi incumbido por Drummond de criticá-lo. O poeta acreditava que o excesso de elogios podia transformá-lo numa figura acadêmica de museu. Ansiava por uma voz dissonante. O amigo escritor aquiesceu e saiu falando mal de uma expressão que o próprio autor sugeriu, “sinto em mim uma mistura de seda e péssimo”. A crítica ressoou e o poeta abriu um sorriso de regozijo.

Nas muitas conversas tardes adentro no apartamento de Drummond, Jorge se comprazia em descobrir o que o notório artesão das palavras achava das coisas. Como ele definia, por exemplo, a essência do mineiro? “Um bom mineiro não laça boi com embira, não dá rasteira no vento, não pisa no escuro, não anda no molhado, não estica conversa com estranho. Só acredita na fumaça quando vê o fogo e só se arrisca quando tem certeza de ganhar”, desfiou.

Entre as vontades de Drummond confessadas a Jorge estava a criação de “um romance fantástico, com a história de um elefante voraz”. O insaciável gigante devoraria diariamente bichos como baleias e hipopótamos e se chamaria Geraldão. Para infortúnio dos leitores, a portentosa criatura jamais deixou a categoria de devaneio.

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