Cultura

O golpe da sutileza

O novo filme de Ugo Giorgetti revive a atmosfera cultural que desafiou a ditadura brasileira e sustenta que nem todos os militares apoiaram a barbárie

O sonho absoluto. O plano da resistência e a ética militar em Cara ou Coroa, de Ugo Giorgetti. Foto: Mujica
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Ser ou não ser Ugo Giorgetti, eis uma questão para o cinema do Brasil. Uma questão de diferença. Nos últimos 20 anos, os filmes brasileiros caminharam entre a ingenuidade deliciosa, a violência policial, a exclusão urbana e a estrada, por vezes a rodoviária, dos sentimentos comuns. Raros filmes se pareceram, portanto, com aqueles que Giorgetti faz. Depois de seis anos, um novo longa-metragem de ficção do diretor, Cara ou Coroa, apresenta uma visada surpreendente da história local. O diretor foge às narrativas cinematográficas de suspense, usuais e compreensíveis, sobre a ditadura dos anos 1960. E faz o impensável, um filme sutil sobre o período.

Como exemplo, ele não vê em todos os militares brasileiros bandidos por princípio, destacando que a barbárie jamais foi defendida pelo Exército em uníssono. Em seu filme há um entendimento de que os reacionários do cotidiano, as figuras cômicas, rígidas de ignorância, como o taxista interpretado de forma sobrenatural por Otávio Augusto, também foram capazes de gestos de humanidade. E, no Brasil, um diretor teatral de esquerda, tão bem-intencionado, também pôde errar nos seus caminhos pessoais ou artísticos, sem que isso lhe tivesse alterado os méritos da luta e do coração.

O corajoso cinematógrafo do artista é um farol virado para trás. Sem tremer a câmera, espetacularizar o olhar dos personagens, granular a fotografia ou almejar a mais nova das tecnologias, este cineasta diz as coisas complicadas da maneira mais direta. Tem sido seu uso, este de devolver ao espectador os seus comportamentos, bons ou maus, presentes ou passados, construindo uma atmosfera mental que explique sua própria vida em sociedade. Não é um cineasta da política, no máximo da política como um contexto para as ações humanas.

Giorgetti virou de ponta-cabeça a ­modernidade pretendida pelos brasileiros em O Príncipe, de 2002. Naquele filme, que se pode considerar um documento de um período, não alcançávamos o status pretendido de país de Primeiro Mundo, apenas nos tornávamos vendedores caricatos de nossos ideais de liberdade, tragados pelo desmazelo, pela submissão ao capital. Em Cara ou Coroa, é como se ele refizesse o caminho que desaguou naquele O Príncipe, um belo e melancólico filme a pedir sequência.

Em 1971, ano durante o qual transcorre Cara ou Coroa, a iminência é lutar. O País tem sonhos. Mas ninguém está tranquilo. Valerá a pena que a neta de um ­general da reforma, interpretado por Walmor Chagas, ceda a casa onde mora com o avô justamente para esconder subversivos? E fazer tudo isso por um país como aquele? Em uma das mais importantes sequências de Cara ou Coroa, não por acaso localizada em um cemitério paulistano, o diretor de teatro fracassado vivido por Emilio de Mello discute com seu companheiro, o estrito comunista de Francisco Carvalho, o perigo a que eles submetem os jovens, imergindo-os na resistência. Isto porque, para a juventude, a resistência seria um instinto tão natural quanto o amor, que Giorgetti filma por meio de um doce beijo no parque, para depois torná-lo humorístico, quando esses mesmos jovens, no frio e sem espaço para namorar, precisam tirar muitas camadas de roupas antes do sexo.

A conclusão do diretor de teatro e do comunista, ali no cemitério, é de que valerá a pena lutar pelo futuro do Brasil. Eles entendem que haverá um futuro, em primeiro lugar, e uma vida melhor do que aquela pressentida pelo coveiro ao limpar as lápides, embora essa acepção não esteja de todo garantida no filme. Acertadamente, uma crítica de teatro visualizará, no Brasil do futuro, homens da esquerda e da direita refestelados na mesma sala, plenos de idêntica alegria.

Nem tudo por que lutamos resultou em que nos orgulhemos, parece dizer um Giorgetti tranquilo, o cineasta-historiador de 70 anos, no escritório de sua produtora, a SP Filmes, na Vila Madalena paulistana. Cara ou Coroa é uma expressão dúbia para quem pensava intitular seu filme Abaixo a Ditadura, mas desistiu, por julgá-lo inexato de suas pretensões. Caras talvez sejam os jovens em luta contra o mundo dos coroas, ou forçados a lutar com eles. Cara ou Coroadesigna também, ironicamente, tudo o que este filme não é, uma vez que nele não se debatem uma coisa ou outra, antes está em fervura um caldo de subentendidos, e o futuro não se revela apenas uma questão de sorte, decidida por uma moeda jogada ao ar.

Não é igualmenteuma obra que use as armas do suspense, embora à época de sua realização, cinco semanas e meia em 2010, o diretor tenha sido cobrado desse uso por alguns dos amigos artistas. Ele defende que a eletrizante luta dos resistentes contra os repressores não seja sua maior preocupação cinematográfica. “Pelo contrário, eu promovi o falso suspense, que se desenrola muito pouco nesta narrativa. Quis fazer um filme aparentemente simples. Parece simples, talvez o seja. Eu não queria que fosse simples, mas que parecesse.” Principalmente, ele se interessou em operar o difícil, o retrato de um tempo, aquele que também pessoalmente viveu, embora não tivesse sido torturado ou preso, antes experimentado aquela cultura como quem prova do banquete. “Esse período foi pouco retratado pelo cinema. A ditadura como episódio isolado, essa se viu muito bem documentada. Mas o período não era a ditadura. Ela não poderia contê-lo.”

Naquele momento, constata o diretor, mesmo sob uma imposição terrível, havia efervescência cultural, a ponto de alguém da época, se vivo hoje, perguntar-se onde teria ido parar tamanha riqueza de ideias. Ele se recorda de um depoimento do compositor Caetano Veloso, preso à época, que o ajudou a esclarecer a questão. “Ele conta que um oficial foi até sua cela para perguntar: ‘Você se sente injustiçado?’ Caetano respondeu que sim, pois não pegara em armas e apenas fora a passeatas, como todo mundo. Retrucou-lhe o militar: ‘Você não me engana. Você sabe por que está aqui’. E Caetano se deu conta de que estava preso por conta do comportamento dele no cotidiano. A roupa, o jeito, a cara dele.” O filme de Giorgetti, então, arde para demonstrar que os comportamentos também compunham a rebeldia, e que, ao contrário do que possa parecer, não eram inofensivos. “Ninguém seria capaz de deter o que desencadeasse uma foto dos Beatles.”

O diretor espera que o filme possa suscitar o debate, embora, escaldado pelo mutismo que acompanha nosso cenário cultural, não esteja certo dessa ocorrência. É como se o Brasil de Giorgetti estivesse desentendido de si. E fosse quase intransponível falar com ele, despertá-lo, por meio do cinema. Ninguém mais, ao menos ninguém que realmente importe, segundo ele vê, quer a sala escura. “A gente nunca esteve tão longe do público inteligente”, constata o diretor. “O público inteligente se afastou de qualquer cinema em todo o mundo. E eu não compreendo. Das atividades artísticas, esta é a mais descartável, por 20 reais e duas horas você tem uma experiência estética. Então, por que não voltar, mesmo depois de ter experimentado uma obra traumática? Ver um filme ruim não é como enfrentar Guerra e Paz por dois meses e constatar que a leitura foi uma experiência horrorosa. O cinema se tornou apenas mais um fenômeno artístico entre outros fenômenos. Não é mais privilegiado, não sei por quê.”

Herdeiro torto e solitário de uma comédia italiana na qual “o assunto era o estilo”, Giorgetti habituou-se ao cinema que movimentava interiormente um espectador. Uma arte à qual não importava a fidelidade a um gênero, mas a qualidade de expressão, a capacidade de suscitar as reviravoltas interiores em quem via os filmes. Antes, o pensamento viajava durante a projeção, ao contrário do que ocorre hoje, quando parece ser preciso domar ou entorpecer quem pensa, sob a justificativa do entretenimento (como se um filme bom de ver não fizesse pensar). “Eu me lembro de uma frase deste homem tão inteligente que é o Antonio Candido. Alguém lhe pergunta por que ele não escreve difícil como um acadêmico. E ele responde que a clareza é um dado fundamental para passar a mensagem. Quando a mensagem é clara, ela deixa de ser um privilégio para se tornar um bem comum. Maravilha, não é?”

Desde seu primeiro longa-metragem de ficção, Jogo Duro, de 1985, o que tem feito Giorgetti é alternar drama e comédia, numa indefinível mistura de gêneros a imitar a vida. O cinema que ainda era grande e perseguia esse ideal sendo direto, simples e cheio de humor, de um Mario Monicelli ou de um Dino Risi, acabou. E talvez isto ajude a explicar por que este diretor brasileiro se sinta pouco à vontade com a nova exigência do público ou, pior, com sua não exigência artística. Classificar seu cinema tem sido a luta de quem precisa vendê-lo. “Eu tenho frequentemente esse problema de me encaixar comercialmente na direção do público. Mesmo quando se trata de um filme bem-sucedido como Boleiros, de 1998. Como eu poderia dizer, na publicidade, que meu filme de futebol não era sobre futebol? Como dizer, agora, que Cara ou Coroa não é um filme sobre a ditadura brasileira, mas sobre aquele período, sobre os comportamentos que havia nele?”

Não sendo um show de arrebatamentos, este longa, escrito e dirigido pelo cineasta, regala o olhar com a produção impecável dos objetos de cena, o vestuário de época, as locações, a fotografia de Walter Carvalho. É bonito o desfilar de intérpretes de excelente voz, nascidos no teatro e ocultos da cena cinematográfica brasileira. São seus “atores invisíveis” de São Paulo, esta cidade que, segundo ele, jamais se vê alçada à caixa de ressonância cultural do País, condição a seu ver ainda representada pelo Rio de Janeiro. Mas Giorgetti nasceu com o cinema, vai morrer com ele. E não é de hoje que ele sabe: “Mais complicado do que ser cineasta brasileiro é ser cineasta paulista”.

Ser ou não ser Ugo Giorgetti, eis uma questão para o cinema do Brasil. Uma questão de diferença. Nos últimos 20 anos, os filmes brasileiros caminharam entre a ingenuidade deliciosa, a violência policial, a exclusão urbana e a estrada, por vezes a rodoviária, dos sentimentos comuns. Raros filmes se pareceram, portanto, com aqueles que Giorgetti faz. Depois de seis anos, um novo longa-metragem de ficção do diretor, Cara ou Coroa, apresenta uma visada surpreendente da história local. O diretor foge às narrativas cinematográficas de suspense, usuais e compreensíveis, sobre a ditadura dos anos 1960. E faz o impensável, um filme sutil sobre o período.

Como exemplo, ele não vê em todos os militares brasileiros bandidos por princípio, destacando que a barbárie jamais foi defendida pelo Exército em uníssono. Em seu filme há um entendimento de que os reacionários do cotidiano, as figuras cômicas, rígidas de ignorância, como o taxista interpretado de forma sobrenatural por Otávio Augusto, também foram capazes de gestos de humanidade. E, no Brasil, um diretor teatral de esquerda, tão bem-intencionado, também pôde errar nos seus caminhos pessoais ou artísticos, sem que isso lhe tivesse alterado os méritos da luta e do coração.

O corajoso cinematógrafo do artista é um farol virado para trás. Sem tremer a câmera, espetacularizar o olhar dos personagens, granular a fotografia ou almejar a mais nova das tecnologias, este cineasta diz as coisas complicadas da maneira mais direta. Tem sido seu uso, este de devolver ao espectador os seus comportamentos, bons ou maus, presentes ou passados, construindo uma atmosfera mental que explique sua própria vida em sociedade. Não é um cineasta da política, no máximo da política como um contexto para as ações humanas.

Giorgetti virou de ponta-cabeça a ­modernidade pretendida pelos brasileiros em O Príncipe, de 2002. Naquele filme, que se pode considerar um documento de um período, não alcançávamos o status pretendido de país de Primeiro Mundo, apenas nos tornávamos vendedores caricatos de nossos ideais de liberdade, tragados pelo desmazelo, pela submissão ao capital. Em Cara ou Coroa, é como se ele refizesse o caminho que desaguou naquele O Príncipe, um belo e melancólico filme a pedir sequência.

Em 1971, ano durante o qual transcorre Cara ou Coroa, a iminência é lutar. O País tem sonhos. Mas ninguém está tranquilo. Valerá a pena que a neta de um ­general da reforma, interpretado por Walmor Chagas, ceda a casa onde mora com o avô justamente para esconder subversivos? E fazer tudo isso por um país como aquele? Em uma das mais importantes sequências de Cara ou Coroa, não por acaso localizada em um cemitério paulistano, o diretor de teatro fracassado vivido por Emilio de Mello discute com seu companheiro, o estrito comunista de Francisco Carvalho, o perigo a que eles submetem os jovens, imergindo-os na resistência. Isto porque, para a juventude, a resistência seria um instinto tão natural quanto o amor, que Giorgetti filma por meio de um doce beijo no parque, para depois torná-lo humorístico, quando esses mesmos jovens, no frio e sem espaço para namorar, precisam tirar muitas camadas de roupas antes do sexo.

A conclusão do diretor de teatro e do comunista, ali no cemitério, é de que valerá a pena lutar pelo futuro do Brasil. Eles entendem que haverá um futuro, em primeiro lugar, e uma vida melhor do que aquela pressentida pelo coveiro ao limpar as lápides, embora essa acepção não esteja de todo garantida no filme. Acertadamente, uma crítica de teatro visualizará, no Brasil do futuro, homens da esquerda e da direita refestelados na mesma sala, plenos de idêntica alegria.

Nem tudo por que lutamos resultou em que nos orgulhemos, parece dizer um Giorgetti tranquilo, o cineasta-historiador de 70 anos, no escritório de sua produtora, a SP Filmes, na Vila Madalena paulistana. Cara ou Coroa é uma expressão dúbia para quem pensava intitular seu filme Abaixo a Ditadura, mas desistiu, por julgá-lo inexato de suas pretensões. Caras talvez sejam os jovens em luta contra o mundo dos coroas, ou forçados a lutar com eles. Cara ou Coroadesigna também, ironicamente, tudo o que este filme não é, uma vez que nele não se debatem uma coisa ou outra, antes está em fervura um caldo de subentendidos, e o futuro não se revela apenas uma questão de sorte, decidida por uma moeda jogada ao ar.

Não é igualmenteuma obra que use as armas do suspense, embora à época de sua realização, cinco semanas e meia em 2010, o diretor tenha sido cobrado desse uso por alguns dos amigos artistas. Ele defende que a eletrizante luta dos resistentes contra os repressores não seja sua maior preocupação cinematográfica. “Pelo contrário, eu promovi o falso suspense, que se desenrola muito pouco nesta narrativa. Quis fazer um filme aparentemente simples. Parece simples, talvez o seja. Eu não queria que fosse simples, mas que parecesse.” Principalmente, ele se interessou em operar o difícil, o retrato de um tempo, aquele que também pessoalmente viveu, embora não tivesse sido torturado ou preso, antes experimentado aquela cultura como quem prova do banquete. “Esse período foi pouco retratado pelo cinema. A ditadura como episódio isolado, essa se viu muito bem documentada. Mas o período não era a ditadura. Ela não poderia contê-lo.”

Naquele momento, constata o diretor, mesmo sob uma imposição terrível, havia efervescência cultural, a ponto de alguém da época, se vivo hoje, perguntar-se onde teria ido parar tamanha riqueza de ideias. Ele se recorda de um depoimento do compositor Caetano Veloso, preso à época, que o ajudou a esclarecer a questão. “Ele conta que um oficial foi até sua cela para perguntar: ‘Você se sente injustiçado?’ Caetano respondeu que sim, pois não pegara em armas e apenas fora a passeatas, como todo mundo. Retrucou-lhe o militar: ‘Você não me engana. Você sabe por que está aqui’. E Caetano se deu conta de que estava preso por conta do comportamento dele no cotidiano. A roupa, o jeito, a cara dele.” O filme de Giorgetti, então, arde para demonstrar que os comportamentos também compunham a rebeldia, e que, ao contrário do que possa parecer, não eram inofensivos. “Ninguém seria capaz de deter o que desencadeasse uma foto dos Beatles.”

O diretor espera que o filme possa suscitar o debate, embora, escaldado pelo mutismo que acompanha nosso cenário cultural, não esteja certo dessa ocorrência. É como se o Brasil de Giorgetti estivesse desentendido de si. E fosse quase intransponível falar com ele, despertá-lo, por meio do cinema. Ninguém mais, ao menos ninguém que realmente importe, segundo ele vê, quer a sala escura. “A gente nunca esteve tão longe do público inteligente”, constata o diretor. “O público inteligente se afastou de qualquer cinema em todo o mundo. E eu não compreendo. Das atividades artísticas, esta é a mais descartável, por 20 reais e duas horas você tem uma experiência estética. Então, por que não voltar, mesmo depois de ter experimentado uma obra traumática? Ver um filme ruim não é como enfrentar Guerra e Paz por dois meses e constatar que a leitura foi uma experiência horrorosa. O cinema se tornou apenas mais um fenômeno artístico entre outros fenômenos. Não é mais privilegiado, não sei por quê.”

Herdeiro torto e solitário de uma comédia italiana na qual “o assunto era o estilo”, Giorgetti habituou-se ao cinema que movimentava interiormente um espectador. Uma arte à qual não importava a fidelidade a um gênero, mas a qualidade de expressão, a capacidade de suscitar as reviravoltas interiores em quem via os filmes. Antes, o pensamento viajava durante a projeção, ao contrário do que ocorre hoje, quando parece ser preciso domar ou entorpecer quem pensa, sob a justificativa do entretenimento (como se um filme bom de ver não fizesse pensar). “Eu me lembro de uma frase deste homem tão inteligente que é o Antonio Candido. Alguém lhe pergunta por que ele não escreve difícil como um acadêmico. E ele responde que a clareza é um dado fundamental para passar a mensagem. Quando a mensagem é clara, ela deixa de ser um privilégio para se tornar um bem comum. Maravilha, não é?”

Desde seu primeiro longa-metragem de ficção, Jogo Duro, de 1985, o que tem feito Giorgetti é alternar drama e comédia, numa indefinível mistura de gêneros a imitar a vida. O cinema que ainda era grande e perseguia esse ideal sendo direto, simples e cheio de humor, de um Mario Monicelli ou de um Dino Risi, acabou. E talvez isto ajude a explicar por que este diretor brasileiro se sinta pouco à vontade com a nova exigência do público ou, pior, com sua não exigência artística. Classificar seu cinema tem sido a luta de quem precisa vendê-lo. “Eu tenho frequentemente esse problema de me encaixar comercialmente na direção do público. Mesmo quando se trata de um filme bem-sucedido como Boleiros, de 1998. Como eu poderia dizer, na publicidade, que meu filme de futebol não era sobre futebol? Como dizer, agora, que Cara ou Coroa não é um filme sobre a ditadura brasileira, mas sobre aquele período, sobre os comportamentos que havia nele?”

Não sendo um show de arrebatamentos, este longa, escrito e dirigido pelo cineasta, regala o olhar com a produção impecável dos objetos de cena, o vestuário de época, as locações, a fotografia de Walter Carvalho. É bonito o desfilar de intérpretes de excelente voz, nascidos no teatro e ocultos da cena cinematográfica brasileira. São seus “atores invisíveis” de São Paulo, esta cidade que, segundo ele, jamais se vê alçada à caixa de ressonância cultural do País, condição a seu ver ainda representada pelo Rio de Janeiro. Mas Giorgetti nasceu com o cinema, vai morrer com ele. E não é de hoje que ele sabe: “Mais complicado do que ser cineasta brasileiro é ser cineasta paulista”.

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