O épico do perdedor

Brad Pitt sonha com o Oscar neste filme em que revoluciona o beisebol

Pouco a pouco simbólico do homem médio americano, desta vez Pitt pode derreter o coração da Academia de Hollywood e levar a estatueta inédita

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A bela face do cinema americano pode estar à beira da láurea depois que Brad Pitt decidiu protagonizar O Homem Que Mudou o Jogo, tendo pago pelo filme antes. Trata-se de uma obra de estúdio, bem apessoada e conduzida com excelente timing por Bennett Miller, diretor premiado com Oscar pela cinebiografia de Truman Capote (Capote, em 2005). O ator, pouco a pouco simbólico do homem médio americano, pode, com essa iniciativa, derreter o coração da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood a ponto de lhe fazer conceder uma premiação inédita.

Pitt merecia ter arrebatado a honraria pelo menos desde seu memorável e irônico trabalho em Os Doze Macacos, de 1995. Mas aquele era um filme difícil, uma alegoria da destruição planetária pelo homem, dirigida com peso por Terry Gilliam, o americano que integrou a equipe do grupo cômico inglês Monty Python. Depois desta, foram três indicações para Pitt nas quais possivelmente algo mais faltou. Uma verossimilhança, talvez. Um jeito de convencer a estranha comunidade hollywoodiana sobre sua seriedade ao interpretar. A Academia não dá vez ao cômico, enquanto este é um ator bem-humorado do início ao fim.

Em O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball), ele interpreta Billy Beane, personagem baseado em realidade, gerente-geral do time de beisebol Oakland A’s. O homem monta uma equipe competitiva com base em jogadores escanteados, velhos, até inadequados para a sua função. Mal comparando, Beane, que cospe nos copos de papel, bem se parece com um diretor de futebol de times do Brasil. Para vencer um campeonato sem dinheiro, tem de inventar uma onda, usar de uma esperteza, sacar de uma promessa que a categoria de base sempre poderá lhe trazer.

O beisebol, contudo, é bem diferente desse esporte que jogamos com os pés. Ninguém que já não o compreenda vai entendê-lo depois de ver este filme, é certo. Mas ficará sabendo que o beisebol, conduzido pela força de um porrete, alinha-se à perfeição com o americano, aquele ser sedento em direção ao pote das moedas, sempre usando as mãos. Beisebol é cálculo. Você não precisa ter o melhor jogador para a função. Tem, sim, de mexer no time de modo a acumular pontos. Se não corre bem, mas recebe bem, e isso é o que importa, seu jogador meia-boca fará a calculadora girar e você poderá almejar o título no final da temporada.

É incrível perceber como o Beane de Pitt muda o jogo promovendo o óbvio, isto é, pondo o computador para fazer as contas. Ninguém pensara nisso na América até os anos 2000? Para contar com o correto uso da tecnologia, o gerente contrata um nerd na era Bill Gates, Peter Brand, interpretado pelo ótimo Jonah Hill (cômico também, de Ligeiramente Grávidos e Superbad). Indicado ao Oscar como coadjuvante, Hill não convence como nerd, mas como sujeito em suspensão, um bom observador à espera de um empreendedor para ideias incomuns.

Ademais, este filme é o que todos os concorrentes sérios ao Oscar são. Tem uma visão sobre a sociedade americana atual. Acredita que os americanos também zelam pela ética. Torce para que os EUA saiam dignos da barafunda econômica em que estão metidos. E, contra tudo e todos, arrisca um final esperançoso, quase feliz.


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