Cultura

O cinema de um poeta

Jean Cocteau, sutileza e refinamento, imaginação desbragada e racionalidade cartesiana

Jean Cocteau. Sutileza e refinamento, imaginação desbragada e racionalidade cartesiana Foto: Roger Viollet/AFP
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O francês Jean Cocteau (1889-1963) foi o primeiro artista multimídia do século XX, muito antes


de a expressão existir. Poeta, pintor, escultor, dramaturgo, cineasta, ator, ele esteve envolvido ativamente com as vanguardas europeias do início do século. Escreveu balés para Erik Satie e Stravinski, colaborou com Picasso em cenários de peças e descobriu Raymond Radiguet, que aos 17 anos publicou o romance O Diabo no Corpo.

Rompendo com a tradição de sua família de tabeliães, Cocteau publicou seus primeiros poemas com 16 anos e desde então não parou de fazer arte. Dirigiu em 1931 seu primeiro filme, O Sangue de um Poeta, financiado pelo Visconde de Noailles, mecenas dos surrealistas, o que levou muita gente a associar erroneamente seu nome ao movimento. Diferentemente dos surrealistas, que apostavam no inconsciente e na “escrita automática”, a poética de Cocteau sempre combinou a imaginação desbragada com uma racionalidade cartesiana e uma rigorosa precisão no uso dos meios.

Usuário de ópio desde os anos 1920, foi amante de Radiguet e manteve uma duradoura relação com o ator Jean Marais, presente em quase todos os seus filmes.

O cinema tornou acessível a um público amplo sua poesia sutil e refinada. Desde os anos 1940, escreveu roteiros e diálogos para diretores como L’Herbier, Carné e Bresson, trabalhou como ator e narrador. Dirigiu apenas esporadicamente. “Sou um franco-atirador do cinema”, dizia. Seus filmes mais marcantes são suas personalíssimas versões de dois mitos: A Bela e a Fera (1946) e Orfeu (1950). Para Cocteau, “um filme é uma fonte petrificada de pensamento”.

DVDs

O Sangue de um Poeta (1931)


Obra-prima do cinema de fantasia, essa viagem ao mundo interior de um poeta dividida em quatro sequências explora e transgride os limites entre arte e existência. Desenhos e estátuas ganham vida, um artista atravessa um espelho, hermafroditas se encontram no Hotel das Insânias Dramáticas.

A Bela e a Fera (1946)


Bela (Josette Day), filha devota de um mercador arruinado, entrega-se em sacrifício ao monstruoso morador (Jean Marais) de um castelo de onde seu pai roubou uma rosa. Com ambientação fantástica e rutilante preto-e-branco, é a adaptação mais memorável da história escrita por Leprince de Beaumont no século XVIII.

Orfeu (1950)


Nesta fascinante modernização do mito grego, Orfeu (Jean Marais) é um poeta desprezado pelos artistas de vanguarda. Uma mecenas chamada de Princesa (Maria Casares), na verdade a Morte, manda motoqueiros matarem Eurídice (Maria Déa), esposa de Orfeu. Este atravessa o espelho para buscá-la no outro mundo.

O francês Jean Cocteau (1889-1963) foi o primeiro artista multimídia do século XX, muito antes


de a expressão existir. Poeta, pintor, escultor, dramaturgo, cineasta, ator, ele esteve envolvido ativamente com as vanguardas europeias do início do século. Escreveu balés para Erik Satie e Stravinski, colaborou com Picasso em cenários de peças e descobriu Raymond Radiguet, que aos 17 anos publicou o romance O Diabo no Corpo.

Rompendo com a tradição de sua família de tabeliães, Cocteau publicou seus primeiros poemas com 16 anos e desde então não parou de fazer arte. Dirigiu em 1931 seu primeiro filme, O Sangue de um Poeta, financiado pelo Visconde de Noailles, mecenas dos surrealistas, o que levou muita gente a associar erroneamente seu nome ao movimento. Diferentemente dos surrealistas, que apostavam no inconsciente e na “escrita automática”, a poética de Cocteau sempre combinou a imaginação desbragada com uma racionalidade cartesiana e uma rigorosa precisão no uso dos meios.

Usuário de ópio desde os anos 1920, foi amante de Radiguet e manteve uma duradoura relação com o ator Jean Marais, presente em quase todos os seus filmes.

O cinema tornou acessível a um público amplo sua poesia sutil e refinada. Desde os anos 1940, escreveu roteiros e diálogos para diretores como L’Herbier, Carné e Bresson, trabalhou como ator e narrador. Dirigiu apenas esporadicamente. “Sou um franco-atirador do cinema”, dizia. Seus filmes mais marcantes são suas personalíssimas versões de dois mitos: A Bela e a Fera (1946) e Orfeu (1950). Para Cocteau, “um filme é uma fonte petrificada de pensamento”.

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Bela (Josette Day), filha devota de um mercador arruinado, entrega-se em sacrifício ao monstruoso morador (Jean Marais) de um castelo de onde seu pai roubou uma rosa. Com ambientação fantástica e rutilante preto-e-branco, é a adaptação mais memorável da história escrita por Leprince de Beaumont no século XVIII.

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