Por Ricardo Domeneck
No dia 17 de outubro de 1930, Thomas Mann proferia no Beethoven-Saal, em Berlim, sua palestra intitulada Ein Appell an die Vernunft (Um apelo à razão). Ao mesmo tempo, membros da Sturmabteilung (SA), a milícia paramilitar nazista, tentavam perturbar o evento e impedir que o escritor falasse.
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O contexto e impulso dessa fala do romancista alemão foi o resultado das eleições de setembro daquele ano, quando o Partido Nazista (NSDAP) conquistou 18,3% dos votos, sendo o segundo mais votado, atrás do Partido Social-Democrata (24,5%) e à frente do Partido Comunista da Alemanha (13,1%).
O escritor tinha naquele momento uma posição de grande autoridade intelectual na República de Weimar, tendo recebido em 1929 o Prêmio Nobel de Literatura. Ele já era o autor dos romances Buddenbrooks (1901) e Der Zauberberg (A Montanha Mágica, 1924).
Longe de ser visto como um autor engajado numa época que via o ativismo potente de Bertolt Brecht (grande desafeto seu) e outros autores, Mann disse em sua palestra que o tempo do “jogo puro” de Friedrich Schiller ou do idealismo estético havia chegado ao fim diante de tais perigos políticos.
Segundo o autor, era importante deter os nazistas, que buscavam de forma efetiva, aos gritos, tornar indissociáveis ideias de nação e sociedade. Ele analisou o contexto político e econômico do momento, sem poupar críticas aos efeitos desastrosos do Tratado de Versalhes sobre a sociedade alemã.
Mann parecia decidido a convencer o povo alemão, ou ao menos a parcela que poderia ouvi-lo, de que Adolf Hitler não podia mais ser visto apenas como uma piada de mau gosto – como muitos intelectuais da época reagiram à sua gritaria até que ele chegou ao poder, em 1933, quando já era tarde demais.
Infelizmente, sabemos que naquele momento o apelo à razão de Mann junto a seus compatriotas não foi suficiente. O próprio Beethoven-Saal, onde proferiu sua palestra, foi bombardeado e destruído em 1944.