Cultura

Novo filme de George Clooney conta a história sombria de perigos subaquáticos

Hollywood narra a história de mergulhos perigosos, instalação de tubos submarinos e uma batalha de décadas por indenização

Cena de Pioneer, filme norueguês que George Clooney quer refilmar
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Por Vanessa Thorpe

Um obscuro mistério nórdico que se desenrolou embaixo das águas congeladas do mar do Norte há quase 40 anos hoje encontra uma solução dramática em Hollywood. Um grupo de corajosos mergulhadores noruegueses que colocaram suas vidas em risco e prejudicaram sua saúde trabalhando até 400 metros abaixo da superfície poderão em breve ser justiçados, já que George Clooney assume sua causa.

A produtora do astro de Hollywood pretende contar a história em um filme que os mergulhadores esperam que venha coroar uma recente vitória na longa batalha jurídica por indenização. Os feitos extraordinários de 24 homens já são o tema de um filme de suspense norueguês, Pioneer [Pioneiro], que estreia nos cinemas britânicos nesta sexta-feira. Agora a Smokehouse Pictures, dirigida por Clooney e seu parceiro de produção Grant Heslov, deve refazer o filme.

“A luta dos mergulhadores é uma história muito conhecida neste país”, disse Christian Fredrik Martin, produtor do filme norueguês, “e quando começamos o trabalho em Pioneer a Smokehouse entrou em contato. Eles voltaram a nos procurar no ano passado, quando o filme foi lançado na Noruega. Clooney e seus sócios na produtora foram atraídos pelas possibilidades cinematográficas do mundo subaquático, eu acho, e também porque é o tipo de história de não ficção que sua companhia tem se interessado em transformar em filme.”

Este ano houve o lançamento de Caçadores de Obras-Primas, filme dirigido por Clooney que contou a história real da Segunda Guerra Mundial de historiadores da arte que se dedicaram a salvar quadros e esculturas de valor inestimável saqueados pelos nazistas. Clooney e Heslov também escreveram Tudo pelo Poder, de 2011, sobre uma campanha presidencial corrupta, e Boa Noite e Boa Sorte, sobre a caça aos “comunistas” na era McCarthy, nos anos 1950.

No fim do ano passado, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, em Estrasburgo (França), considerou o Estado norueguês culpado de não dar aos mergulhadores informação suficiente sobre o nível de perigo que eles enfrentariam no trabalho que realizaram durante um período de grande prospecção de petróleo e gás, que depois foi descrito como um “oeste selvagem”.

O veredicto saiu depois de uma longa batalha nos tribunais noruegueses. Em um caso de 2007 em Oslo, quatro ex-mergulhadores do mar do Norte processaram com sucesso o Estado, mas o governo norueguês apelou e em 2009 o caso passou à Suprema Corte, que determinou que a Noruega não tinha de pagar indenização por danos causados pela indústria de petróleo. O caso foi para Estrasburgo, onde os mergulhadores afinal venceram em dezembro passado. Neste fim de semana, entretanto, seu sindicato recusou uma oferta individual equivalente a 170 mil libras esterlinas (cerca de R$ 600 mil) porque espera uma soma maior acordada com o governo antes da última eleição.

“O interesse dos cineastas aqui e nos Estados Unidos foi de grande ajuda”, disse ao Observer neste fim de semana o diretor do Sindicato de Mergulhadores Offshore, Henning Haug. “Foi especialmente bom porque o filme norueguês é muito realista. Mas ainda não estamos satisfeitos. Queremos conquistar para nossos membros a indenização total por esse escândalo nacional.” O sindicato não aceitará menos que o equivalente a 211 mil libras (R$ 780 mil) para cada mergulhador, diz ele. “Qualquer coisa abaixo disso não pode ser considerada decente.”

Os mergulhadores realizaram tarefas cruciais para garantir a instalação de oleodutos no leito marinho, efetuando pesquisas, coletando amostras e fixando e removendo poços. Eles trabalharam habitualmente a 400 metros abaixo da superfície, enquanto o limite de segurança para mergulhadores hoje é definido em 150 metros. Um hospital em Haukeland, em Bergen, encontrou posteriormente evidências de danos cerebrais em 240 ex-mergulhadores do mar do Norte em 2010. Depois de passar em média 14 anos trabalhando no mar do Norte, uma porcentagem relativamente alta de mergulhadores também adquiriu sérios problemas de saúde psicológica e física, incluindo doença pulmonar, danos cerebrais e transtorno de estresse pós-traumático, enquanto outros se queixam de falta de concentração e danos à memória e à audição. Durante os anos 1970, 99 mergulhadores noruegueses morreram trabalhando no mar do Norte.

Os produtores do filme norueguês, que é dirigido por Erik Skjoldbjærg, de Insônia, acreditam que refletiram acuradamente os fatos, enquanto acrescentaram uma trama ficcional à história. Passado nos anos 1980, Pioneer acompanha dois irmãos que participam de um teste para ver se é possível colocar oleodutos no leito do mar do Norte. Quando o teste dá errado, um deles começa a investigar a cobiça e corrupção que estão por trás da pesquisa de petróleo e gás.

Martin disse ao Observer que ele e seus colegas de produção noruegueses entrevistaram entre 40 e 50 mergulhadores sobreviventes na pesquisa para o filme e enfrentaram obstrução e interesses escusos enquanto tentavam descobrir mais detalhes.

“Eles não tentaram impedir o filme diretamente”, disse, “mas com certeza é verdade que nossos pedidos de informação retornavam muito lentamente. Quando enfim tivemos permissão para filmar em alguns dos prédios e locais originais, o preço que eles cobraram foi tão alto que fizemos nossos próprios cenários.

“Antes eu não entendia como as companhias envolvidas estavam dispostas a experimentar com esses homens, colocando-os em condições nunca antes testadas. É triste e bizarro que esse caso tenha de chegar ao tribunal de Estrasburgo.”

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