por Tárik de Souza
Bahia Fantástica
Rodrigo Campos
ybmusic
Do mineiro Ary Barroso (Na Baixa do Sapateiro, No Tabuleiro da Baiana) ao campineiro Denis Brean (Bahia com H) e, óbvio, os soteropolitanos Dorival Caymmi (O Que É Que a Baiana Tem?, Lagoa do Abaeté, Coqueiro de Itapoã) e Gilberto Gil (Eu Vim da Bahia) e o santamarense Caetano Veloso (Quem me Dera), muitos compositores louvaram a chamada Boa Terra.
Nascido em Conchas, interior paulista, e criado na periferia da capital, aludida no disco de estreia (São Mateus Não É um Lugar tão Longe Assim), Rodrigo Campos, no segundo álbum, literalmente inventa sua Bahia Fantástica. Descarta qualquer ilusão documental em Sou de Salvador (Cheguei na Bahia de Manhã). E dribla o turismo paisagístico a golpes de versos curtos, como um Dalton Trevisan musicado (Ana vai morrer/ não tem problema/ todo fim de tarde Aninha morre). O disco tem Rômulo Fróes entre seus diretores musicais.
Não é ensolarada, mas sombria, com pulsões de morte, a fabular Bahia de Capitão (Não crê em Deus, Ogum, nem nada/ vai deixar de ser), Elias (Vem/ vai nascer de novo/ sem memória da maloqueragem da 18) e Sete Vela (Mano rodou geral/ dezoito carnaval). Sim, há uma Princesa do mar, mas a pequena Iemanjá (…) entrou na maré brusca/ virá na maré mansa.
Esses contos fragmentados vêm embalados em ricos timbres, sopros percussivos e climáticos, banhados por influencias de Moacir Santos ao funk e afro beat. Com Rodrigo, a nata da nova música de São Paulo, sob direção de Fróes e participações de Kiko Dinucci, Marcelo Cabral (o núcleo do projeto anterior, Passo Torto) e mais os vocais de Criolo, Juçara Marçal e Luíza Maita. Daqui pra lá/ não vá dizer que a Bahia não lhe achou, sentencia Cinco Doces.