Cultura

Nosso naso

Menalton Braff relembra a história de narizes famosos da literatura

Foto: Galeria de davi sommerfeld/Flickr
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Muito pouca gente dá o devido respeito que nos merece o apêndice nasal. Éramos já velhos conhecidos quando descobri que para alguns escritores ele serviu de protagonista.

Na peça “Cyrano de Bergerac”, a mais famosa de Edmond Rostand, o infeliz Cyrano, debochado por Valvert por causa de seu nariz, em um longo discurso demonstra ao tolo opositor o que poderia ser dito sobre sua protuberância frontal, caso ele tivesse algum talento poético. “É rochedo! É cabo! Inda é maior: É promontório! É mais: é o Novo Continente!”

Outro narigudo famoso, na literatura, descrevendo o próprio nariz assim diz: “Nariz, nariz, e nariz,/ Nariz, que nunca se acaba;/ Nariz, que se ele desaba,/ Fará o mundo infeliz.// Nariz, que Newton não quis/ Descrever-lhe a diagonal,/ Que, se o cálculo não erra,/ Posto entre o Sol e a Terra,/ Faria eclipse total!”.

Quando adolescentes, todos nós enfiamos o nariz onde nos proíbem, com medo que descubramos a vida antes do tempo. Como se alguém, velho ou novo, soubesse alguma coisa da vida! Foi assim que tive de descobrir Manoel Maria Barbosa du Bocage, numa prateleira escondida de uma biblioteca. Era a prateleira proibida.

Machado de Assis, que não era narigudo, falou assim do naso em “Memórias póstumas de Brás Cubas”: “Nariz, consciência sem remorsos, tu me valeste muito na vida… Já meditaste alguma vez no destino do nariz, amado leitor? A explicação do Dr. Pangloss é que o nariz foi criado para uso dos óculos, –…”

Em um conto magistral, O nariz, Gogol faz o major Kováliov, seu protagonista, acordar e descobrir que perdera o nariz. Esse conto fantástico do satírico russo tem como eixo principal da ação a busca do nariz, com as peripécias cheias de humor que ela implica.

Outro nariz famoso na literatura está no rosto do Pinóquio, criação de Carlo Collodi. Não há criança no mundo civilizado que não o conheça. Ninguém mente sem conferir o próprio nariz com dedos medrosos, que o apalpam para verificar se o próprio não cresceu. Nessas histórias de Mensalão, Sanguessuga e Navalha, só não vê o tamanho monstruoso dos narizes quem tem a esperança de um dia também virar acusado.

Existe nariz de todo tipo: adunco, afilado, chato, rombudo, com bolota, arrebitado. A variedade é grande. Como é variada também sua serventia. Nariz para cheirar, para apontar uma direção, nariz para orientar e até para suportar o aro dos óculos. São todos belos apêndices, com uma exceção: o nariz que algumas pessoas enfiam onde não devem.

Muito pouca gente dá o devido respeito que nos merece o apêndice nasal. Éramos já velhos conhecidos quando descobri que para alguns escritores ele serviu de protagonista.

Na peça “Cyrano de Bergerac”, a mais famosa de Edmond Rostand, o infeliz Cyrano, debochado por Valvert por causa de seu nariz, em um longo discurso demonstra ao tolo opositor o que poderia ser dito sobre sua protuberância frontal, caso ele tivesse algum talento poético. “É rochedo! É cabo! Inda é maior: É promontório! É mais: é o Novo Continente!”

Outro narigudo famoso, na literatura, descrevendo o próprio nariz assim diz: “Nariz, nariz, e nariz,/ Nariz, que nunca se acaba;/ Nariz, que se ele desaba,/ Fará o mundo infeliz.// Nariz, que Newton não quis/ Descrever-lhe a diagonal,/ Que, se o cálculo não erra,/ Posto entre o Sol e a Terra,/ Faria eclipse total!”.

Quando adolescentes, todos nós enfiamos o nariz onde nos proíbem, com medo que descubramos a vida antes do tempo. Como se alguém, velho ou novo, soubesse alguma coisa da vida! Foi assim que tive de descobrir Manoel Maria Barbosa du Bocage, numa prateleira escondida de uma biblioteca. Era a prateleira proibida.

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