Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

‘Ninguém me dava nada, morava na rua e agora vivo do que amo’

Rapper Bivolt lança segundo álbum, com participação de Emicida, Duda Beat e Gloria Groove

Foto: Luq Dias/Divulgação
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Superação e sonoridade periférica se unem a Bivolt. Nascida na favela do Boqueirão, na zona sul de São Paulo, a rapper traz ainda compreensão da realidade em meio à busca pelo sucesso na música.

No ano passado lançou seu primeiro álbum, uma espécie de apresentação. “Queria atribuir um conceito relacionado ao meu nome”, diz. Metade de músicas mais calmas, melódicas, que estariam ligadas ao seu lado 110 volts. A outra, mais rap, seria o 220 volts, dando origem a Bivolt.

O segundo disco, com o nome de Nitro (Som Livre), lançado dias atrás com oito faixas, seria a demonstração de sua essência. “Neste novo álbum, trouxe o que dá vida a Bivolt, da realidade, desde a escolha da sonoridade até as coisas que eu falo. Toda a estética periférica”, afirma.

Sua fonte de inspiração – à sua maneira – é a vivência na quebrada, embora more hoje no centro de São Paulo. “O que me inspira não relacionada somente a mim. Mas as coisas que vivencio e vejo. Aqui tem todo tipo de protagonismo (centro da cidade). A minha música vai sempre se comunicar com a galera que vem de quebrada, como eu”.

Em Nitro, a mulher é protagonista e empoderada. Bivolt conta com algumas participações no disco de artistas marcados por posicionamentos. No caso da Gloria Groove, que tem um trabalho mais pop, a rapper diz que a música foi inspirada nela.

Emicida, que também participa do álbum, a afinidade está no fato de ambos terem surgido nas chamadas batalhas de rap. Mas a música gravada no disco de Bivolt fala de amor. “Com Duda Beat mesclei o fluxo de São Paulo com o brega (origem musical da Duda)”, diz. “Nas minhas músicas, gosto de ressaltar as várias vertentes do hip-hop”.

Sobre o que vivenciou na pandemia, afirma que “as consequências foram extremamente potencializadas na periferia”. A perda de emprego tomou conta das famílias. “A falta de respaldo governamental potencializou muito negativamente a situação nas quebradas. As consequências estão aí. E a gente vai colher isso por um longo período. Ficam as sequelas, das famílias desestruturadas”.

Mas a rapper vê esperança na juventude, por outro lado: “Depois de um momento de revolta, vem a cede de luta, de fazer a diferença, reivindicar nossos direitos”.

Ela identifica na música força de manifestação. “Vejo que a arte na quebrada está ganhando muita voz. Espero que as pessoas ouçam o que a quebrada tem para falar”. E complementa: “Sou uma pessoa que ninguém dava nada, morava na rua, e agora estou vivendo do que eu amo. É pra dizer: ei, você também consegue”.

Bivolt passou um período da adolescência morando na rua. “Foi muito difícil. Mas cruzei com pessoas boas, conseguindo ser resgatada para fazer música. A música me resgatou. O que importa é como você levou esse fim ao recomeço”, finaliza Bivolt, que renasce na cena musical urbana paulistana.

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