Nilze Carvalho, voz da geração da Lapa, crê nos jovens para avivar samba

Ao completar 50 anos, ela destaca que a estreia fonográfica aos 11 foi marcante

Foto: Valéria Martins

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Há pouco mais de 20 anos sambistas passaram a se reunir na rua e a tocar em bares nas cercanias do Arcos da Lapa, no começo da Avenida Mem de Sá, nas ruas do Lavradio e Joaquim Silva, na região central do Rio de Janeiro.

Dali surgiu uma nova geração do samba. A cantora, compositora e bandolinista Nilze Carvalho lembra bem dessa época com o grupo do qual participava, o Sururu na Roda.

 

“Tive o privilégio de participar desse boom do samba carioca. O grupo tocou nas melhores casas da região”.

O período foi de visibilidade não somente para Nilze, mas também para Teresa Cristina, Pedro Miranda, Pedro Paulo Malta, Alfredo Del-Penho, Mariana Bernardes, grupo Dobrando a Esquina, entre alguns outros.

Na virada da década seguinte, em 2010, a Lapa já tinha mudado bastante e o samba já não era o principal elemento de atração do local.


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Gênero sem espaço

“Hoje, infelizmente o samba de raiz está com seu espaço bastante reduzido e, sinceramente, não sei te dizer qual o motivo, porque a produção artística continua de qualidade, com novos cantores, grupos e instrumentista surgindo. Mas a oferta de espaço, por exemplo, na mídia televisiva, decresceu bastante”, constata Nilze.

A cantora vê também esvaziamento de público nas rodas e shows de samba. “Apostaria em uma ação junto aos mais jovens para que possamos manter a tradição”.

Com o Sururu na Roda, chegou a lançar seis CDs e um DVD entre 2002 e 2016, ano em que deixou o grupo.

Nilze Carvalho completou 50 anos no último dia 28 de julho. Ano passado lançou CD e DVD comemorando 40 anos de carreira. “Podemos dizer que foi o quarto CD da era digital”.

É que Nilze começou a gravar muito jovem, na era do LP ainda, como instrumentista de choro, entre outros trabalhos independentes já como cantora.

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Gravou com Época de Ouro

“Um dos muitos momentos importantes da minha vida foi a minha estreia fonográfica, a gravação do Choro de Menina.”

O Choro de Menina foi uma coleção de quatro volumes, lançada entre 1981 e 1984. O primeiro LP teve a participação do emblemático grupo Época de Ouro. “Estrear acompanhada deles aos 11 anos foi demais”.

Ela diz que atualmente quase não faz show só instrumental. “O canto sempre me acompanhou. O que acontecia é que eu tinha uma voz muito infantil e era sempre preterida em relação ao instrumento (risos). Mas conforme fui amadurecendo, começaram a curtir esse meu canto acompanhado do cavaco ou do bandolim”. Nilze, aliás, canta muito bem.


Além dos shows de divulgação do trabalho de 40 anos, a cantora e instrumentista realiza o projeto Choro Canção, onde ela canta somente choros letrados acompanhada de um violão e percussão.

Agora, está se preparando também para subir pela primeira vez ao palco com o virtuoso violonista Marcel Powell, em setembro, no Teatro Rival, no Rio, para apresentar sambas de Baden Powell.

“Estamos ainda no início de trabalho, escolhendo as músicas e tal. O show não terá só afrosambas (uma marca da obra do homenageado). Vamos fazer um passeio pela obra de Baden”, afirma ela.

A geração da Lapa segue ativa, mesmo a Lapa não sendo mais a Lapa. Quem sabe um novo ciclo volte a jogar luz no samba, ainda que longe da Lapa.

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