Cultura

Navegar é preciso

Em minha palestra em Iguape, tentei mostrar que literatura não é entretenimento. Não sei se consegui. Por Menalton Braff

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Quando procurei no mapa, encontrei a cidade lá no litoral sul, perto do fim da Ilha Comprida. Ou do início, dependendo de onde você estiver vindo. Então pensei, aproveito para ver o mar, que faz mais de um ano que não vejo.

A descida foi demorada, pois havia congestionamento em algum ponto que o motorista já estava sabendo. Descemos pela Imigrantes e lá no litoral entramos à direita, como eu já tinha imaginado pelo mapa. Vários quilômetros andados, o GPS nos mandou subir na direção da BR-116. Fiquei quieto, porque não discuto com GPS, mas tive a sensação de que estava sendo sequestrado e seria levado para Curitiba. Conheço bem estas estradas que levam para o Sul. Meus conterrâneos, os gaúchos, costumam dizer que cavalo bom sabe o caminho do rincão. A comparação não me ofendeu, pois não passa de um dito popular.

De repente, subimos por um viaduto e atravessamos para o outro lado da BR-116. De volta para São Paulo? Talvez o motorista estivesse arrependido.

Mas não, pouco adiante entramos por uma estrada vicinal e muitos quilômetros depois uma ponte nos deixou dentro de Iguape.

A cidade é linda, com suas casas centrais (deve ser a parte mais antiga da cidade) todas pintadas com uma barra inferior, portas e janelas emolduradas com cores diferentes da parede. Tudo pintura nova, como se estivéssemos entrando em uma cidade fantasia. Todas elas antigas, muito antigas. Mais tarde fui informado de que Cananeia é a cidade mais antiga do Brasil e a segunda é Iguape. Meu amigo, o poeta Alfredo Rossetti, me informa que, em visita ao Brasil, Camus foi levado ao litoral por Oswald de Andrade para conhecer Iguape.

A Oficina Cultural Gerson de Abreu, de Iguape, sob a coordenação da tão competente quanto simpática Leila Horiguti, organizou o 1º Festival Literário de Iguape, nos dias 17 a 20 do mês. Minha palestra (Literatura não é entretenimento) aconteceu na noite do dia 18, com casa lotada e muita discussão final.

A recepção não poderia ser melhor. Além da Leila e sua equipe, esteve presente o Eduardo Santana, da Poiésis, agitador cultural e figura simpaticíssima que já tenho encontrado em outros eventos envolvendo a literatura.

Ao fim, não sei se provei que literatura não é entretenimento, mas arte, como era meu propósito. Sei apenas que foi uma oportunidade de ouro para tentar esclarecer este assunto, que tanta confusão vem gerando entre nós.

Pelo que consegui observar, apesar de meu tempo bastante curto, o 1º FLI sacudiu a cidade de Iguape. Mas acabei não vendo o mar.

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