Cultura

Não há verão sem moqueca

Se você não tem um(a) baiano(a) quituteiro(a) no seu círculo de amizades nem vai passar as férias na Bahia, aprenda a fazer uma boa moqueca, imprescindível nesta época

Dizem que em Cajaíba, na Costa do Dendê, na Bahia, se faz a melhor moqueca do Brasil. Veja uma receita originária da região
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Verão sem moqueca é como Picasso sem tinta, Ferrari sem gasolina, Frank Sinatra sem a voz. Só que pior (thanks, Gay Talese). Vocês podem dizer que me acho especialista em tudo, mas em verão sou uma verdadeira expert. Sério. Eu poderia fazer uma lista de coisas que não podem faltar no verão brasileiro e não haveria quem discordasse de mim: havaianas, água de coco, cocada mole, cerveja, caipirinha, peixe frito e queijo coalho, por exemplo, são fundamentais. Assim como uma rede para se estirar e tirar aquela soneca depois do sol e do almoço. Me digam se minto.

Mas imaginem voltar para casa depois de duas semanas na praia e se dar conta de que não comeu uma só moquequinha que fosse. Nem de peixe, nem de polvo, nem de siri, muito menos de camarão com banana-da-terra. Um desastre! Porque coco, cerveja e até cocada dá pra comer em outro lugar. Passar tantos dias à beira mar sem comer uma moqueca, porém, é algo irremediável. Não estou falando de moqueca com urucum, que me perdoem os capixabas. Me refiro à moqueca baiana, com leite de coco e dendê. Ou seja, a moqueca comme il faut. Não, senhores, não pode faltar.

O que fazer, então, para se prevenir deste verdadeiro anti-pecado da gula que é passar o verão sem moqueca? Felizmente existem algumas soluções para esta problemática. A primeira delas, bastante óbvia, é passar o verão na Bahia. Supondo que você prefira outras maravilhosas praias deste Brasilzão, a maior potência mundial em termos de verão, o jeito é levar uma baiana ou um baiano consigo. Que saiba fazer moqueca, claro. Ah, não vai dar? Bom, uma pessoa nascida em outras paragens que saiba cozinhar uma moqueca também serve. Nada? Hum, aí o jeito então é… Fazer sua própria moqueca, meu amigo e minha amiga. Não existe outra saída.

Eu ajudo. Minha avó Ritinha, que nasceu e foi criada na Costa do Dendê, em Cajaíba, distrito de Valença, sabia fazer uma moqueca como ninguém. Para vocês não acharem que estou me gabando, podem pesquisar: dizem que em Cajaíba se faz a melhor moqueca do Brasil. Vovó contava que não estudou porque sua professora volta e meia perguntava: “Ritinha, você quer estudar ou catar pimenta?” E ela respondia: “Catar pimenta!” Daí que suas moquecas, além de saborosas, eram apimentadíssimas. Nós, os netos, comíamos lambendo os beiços e abanando a boca com a mão…

Como não sou egoísta nem nada, deixo com vocês a receita de moqueca da minha família. É facílima e bem mais leve do que as servidas nos restaurantes baianos, que exageram no dendê. Bom verão a todos e pelo amor dos deuses africanos: não voltem para casa sem comer sua moqueca.

Moqueca de vovó Ritinha

1 kg de peixe ou camarão ou polvo ou sururu ou siri catado ou tudo misturado

Sal, alho e pimenta do reino a gosto

Tomate e cebola em rodelas

Pimentão (é opcional; eu uso o amarelo, bem picadinho)

Coentro (o certo é coentro; se a pessoa de todo não suportar, pode ser trocado por salsinha, mas não é a mesma coisa, vou logo avisando)

1 garrafinha de leite de coco

Dendê

Limão

Coloque todos os ingredientes na panela antes de ligar o fogo. Primeiro o peixe (ou os frutos do mar), lavado com bastante limão e temperado com alho, sal e pimenta; depois os tomates e as cebolas, por cima de tudo o leite de coco, o coentro e o dendê (a quantidade ideal é jogar o dendê fazendo um círculo em torno da panela). Cozinhe em fogo médio. Quando os tomates estiverem começando a se desfazer, a moqueca está pronta, coisa de 15 minutos. Um pouco antes de desligar, esprema um pouco de limão para dar um azedinho.

P.S.: minha avó já colocava as pimentas na própria moqueca. Quem tem criança em casa vai preferir fazer este molhinho à parte, também delicioso: amasse algumas pimentas malaguetas, de preferência verdes, com um pouco de sal. Adicione o suco de dois limões, um pouco de água, cebola, tomate e coentro picadinhos. Por último, azeite de oliva. É uma espécie de vinagrete picante que cai muito bem com a moqueca.

Verão sem moqueca é como Picasso sem tinta, Ferrari sem gasolina, Frank Sinatra sem a voz. Só que pior (thanks, Gay Talese). Vocês podem dizer que me acho especialista em tudo, mas em verão sou uma verdadeira expert. Sério. Eu poderia fazer uma lista de coisas que não podem faltar no verão brasileiro e não haveria quem discordasse de mim: havaianas, água de coco, cocada mole, cerveja, caipirinha, peixe frito e queijo coalho, por exemplo, são fundamentais. Assim como uma rede para se estirar e tirar aquela soneca depois do sol e do almoço. Me digam se minto.

Mas imaginem voltar para casa depois de duas semanas na praia e se dar conta de que não comeu uma só moquequinha que fosse. Nem de peixe, nem de polvo, nem de siri, muito menos de camarão com banana-da-terra. Um desastre! Porque coco, cerveja e até cocada dá pra comer em outro lugar. Passar tantos dias à beira mar sem comer uma moqueca, porém, é algo irremediável. Não estou falando de moqueca com urucum, que me perdoem os capixabas. Me refiro à moqueca baiana, com leite de coco e dendê. Ou seja, a moqueca comme il faut. Não, senhores, não pode faltar.

O que fazer, então, para se prevenir deste verdadeiro anti-pecado da gula que é passar o verão sem moqueca? Felizmente existem algumas soluções para esta problemática. A primeira delas, bastante óbvia, é passar o verão na Bahia. Supondo que você prefira outras maravilhosas praias deste Brasilzão, a maior potência mundial em termos de verão, o jeito é levar uma baiana ou um baiano consigo. Que saiba fazer moqueca, claro. Ah, não vai dar? Bom, uma pessoa nascida em outras paragens que saiba cozinhar uma moqueca também serve. Nada? Hum, aí o jeito então é… Fazer sua própria moqueca, meu amigo e minha amiga. Não existe outra saída.

Eu ajudo. Minha avó Ritinha, que nasceu e foi criada na Costa do Dendê, em Cajaíba, distrito de Valença, sabia fazer uma moqueca como ninguém. Para vocês não acharem que estou me gabando, podem pesquisar: dizem que em Cajaíba se faz a melhor moqueca do Brasil. Vovó contava que não estudou porque sua professora volta e meia perguntava: “Ritinha, você quer estudar ou catar pimenta?” E ela respondia: “Catar pimenta!” Daí que suas moquecas, além de saborosas, eram apimentadíssimas. Nós, os netos, comíamos lambendo os beiços e abanando a boca com a mão…

Como não sou egoísta nem nada, deixo com vocês a receita de moqueca da minha família. É facílima e bem mais leve do que as servidas nos restaurantes baianos, que exageram no dendê. Bom verão a todos e pelo amor dos deuses africanos: não voltem para casa sem comer sua moqueca.

Moqueca de vovó Ritinha

1 kg de peixe ou camarão ou polvo ou sururu ou siri catado ou tudo misturado

Sal, alho e pimenta do reino a gosto

Tomate e cebola em rodelas

Pimentão (é opcional; eu uso o amarelo, bem picadinho)

Coentro (o certo é coentro; se a pessoa de todo não suportar, pode ser trocado por salsinha, mas não é a mesma coisa, vou logo avisando)

1 garrafinha de leite de coco

Dendê

Limão

Coloque todos os ingredientes na panela antes de ligar o fogo. Primeiro o peixe (ou os frutos do mar), lavado com bastante limão e temperado com alho, sal e pimenta; depois os tomates e as cebolas, por cima de tudo o leite de coco, o coentro e o dendê (a quantidade ideal é jogar o dendê fazendo um círculo em torno da panela). Cozinhe em fogo médio. Quando os tomates estiverem começando a se desfazer, a moqueca está pronta, coisa de 15 minutos. Um pouco antes de desligar, esprema um pouco de limão para dar um azedinho.

P.S.: minha avó já colocava as pimentas na própria moqueca. Quem tem criança em casa vai preferir fazer este molhinho à parte, também delicioso: amasse algumas pimentas malaguetas, de preferência verdes, com um pouco de sal. Adicione o suco de dois limões, um pouco de água, cebola, tomate e coentro picadinhos. Por último, azeite de oliva. É uma espécie de vinagrete picante que cai muito bem com a moqueca.

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