Cultura

Mundo Cão e a sociedade sem justiça

O diretor brasileiro Marcos Jorge encena em seu terceiro longa-metragem um suspense com tom humorístico, inspirado na commedia all’italiana, a discutir o monstro social do justiçamento

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A carreira de Marcos Jorge é quase única no cinema brasileiro recente. Sem estar à procura do imediato consenso crítico que talvez lhe proporcionasse o circuito majoritário dos festivais, o cineasta firma-se como um autor reputado dentro do difícil cinema comercial.

Mundo Cão, seu terceiro longa, estreia nacional deste dia 17, concebe, sob trilha sonora atuante, de marca negra, um suspense realista com tonalidade humorística, a evocar a commedia all’italiana entre os finais das décadas de 1950 e 1970.

O ousado cinema de Jorge, que busca o popular, hoje quase irrealizável fora do âmbito da televisão no Brasil, não se esquece das lições dramáticas de um diretor como Mario Monicelli, cujo filme Il Borghese Piccolo Piccolo (Um Burguês Muito Pequeno), de 1977, satirizava pesadamente o monstro a habitar o italiano médio, adulador social e justiceiro.

Seus atores, globais como Lázaro Ramos ou Adriana Esteves, Babu Santana ou Milhem Cortaz, e revelações como Thainá Duarte, interpretam uma contrafacção daquela commedia encerrada com Il Borghese, com quebra de expectativas e bons diálogos, confeccionados em parceria com o roteirista Lusa Silvestre (de Estômago).

“Busco um cinema que possa ser popular sem ser popularesco”, diz ele, que procurou, entre outras parcerias de produção, as da Globo Filmes e da Paramount. Na entrevista a seguir, conta sobre a dificuldade de emplacar no mercado brasileiro outro gênero que não o cômico, mais barato de ser feito, e de maior entendimento popular.

Mundo Cão lida, à moda dos filmes de um Monicelli, com os monstros sociais nascidos na sociedade de instituições frágeis, como a justiça. E Jorge aposta em uma visão bilateral de suas discussões sobre o justiçamento. “Os que defendem a justiça sumária vão achar que o filme os apoia, enquanto os legalistas vão ver o lado humanista da história.”

CartaCapital: Gostaria que você nos contasse como este filme começou. Como você chegou ao argumento. Se lhe foi apresentado por Lusa Silvestre, roteirista, se trabalharam a partir de uma ideia sua.

Marcos Jorge: Fazia tempo que eu tinha na cabeça o protagonista desta história, o homem da carrocinha, pois sou fascinado por profissões peculiares. Assim, quase sempre procuro que meus personagens tenham profissões raras ou pelo menos incomuns.

Mas a inspiração da profissão do Santana, protagonista do filme, vem direto da minha infância. Cresci na periferia de Curitiba e, nesta época, anos 1970, as carrocinhas eram uma visão bastante comum por lá. Eu tinha um cachorro que vivia solto e, como o portão de casa também vivia aberto (como mudou este país em tão pouco tempo, né?), eu tinha um verdadeiro pavor que meu cachorro fosse apanhado pela carrocinha.

Por outro lado, os laçadores de cães também me fascinavam quando eu os via em seu trabalho. Eles eram o mais próximo que tínhamos de “caubóis”, pois costumavam laçar os cães da carrocinha em movimento e frequentemente demonstravam enorme coragem em seu trabalho.

Quando eu estava finalizando o longa Estômago, em 2007, em um dos encontros que tive com o Lusa Silvestre, meu parceiro em vários roteiros, falei para ele deste personagem e de meu desejo de narrar uma história de justiça e vingança. Contei-lhe a trama e os eventos principais do que seria o Mundo Cão. Logo escrevemos um breve tratamento e uma escaleta, e nasceu a primeira versão do roteiro.

A história é original, portanto. Mas até virar roteiro e se consolidar como um suspense, foi incorporando diversos eventos que efetivamente aconteceram, descobertos em nossas pesquisas. Diversas cenas da angústia e do desamparo da família com o desaparecimento foram inspiradas em relatos de pessoas que passaram pela mesma experiência.

Isso sem falar nas coincidências que fomos constatando. Como quando contamos para o pessoal do controle de zoonoses que em nosso filme um personagem sacava a arma ao saber que seu cão havia sido sacrificado e eles nos disseram ter ocorrido fato idêntico lá dentro.

O roteiro passou por diversos tratamentos e os personagens foram evoluindo à medida que pensávamos neles. Foram várias versões até a filmagem, versões em que eu e o Lusa sempre trabalhamos juntos. Tanto que eu nem sei mais o que é meu e o que é do Lusa no roteiro.

CC: Você procurou a Globo Filmes ou ela o procurou? Por que desenvolver seu cinema de marca autoral por meio desta grande produtora cinematográfica brasileira? Como funcionam estas associações hoje no cinema nacional?

MJ: Uma das primeiras parcerias, dentre as muitas que estabelecemos para realizar este projeto, foi a com a Globo Filmes. Ainda em fase de desenvolvimento, e muito antes de pensarmos no elenco deste filme, a produtora Cláudia da Natividade procurou a Globo Filmes e apresentou-lhe uma das primeiras versões do roteiro que eu e o Lusa estávamos escrevendo.

O intento era claro: alavancar o projeto com parceiros influentes, que nos ajudassem não só a viabilizá-lo de um ponto de vista financeiro como também pudessem contribuir para o alcance do filme, uma vez que ele estivesse pronto (além da Globo Filmes, outra parceria que foi fundamental para a viabilização deste filme, foi a estabelecida com a Paramount Pictures, que também está no projeto desde seu início).

O motivo é óbvio: a Globo Filmes é uma das principais parceiras do cinema brasileiro, e já participou de quase 200 filmes desde a sua criação, em 1998, dentre eles alguns dos filmes mais importantes da retomada (Cidade de Deus e Tropa de Elite 2, para citar somente dois exemplos emblemáticos). É importante frisar que busco sim um cinema autoral, que derive dos meus desejos e necessidades artísticas, mas um cinema que chegue a seu público.

Acho desalentador que o público de diversas obras-primas de nosso cinema se limite àquele de festivais. Eu faço filmes para serem vistos, e tento ir atrás dos meios mais eficazes de obter isso (além da Globo Filmes e da Paramount Pictures, foram também importantes as parcerias estabelecidas para a distribuição, com a Paris Filmes e a Downtown Filmes).

Ou seja, apostamos em parcerias relevantes para tentar que um projeto autoral e relativamente distante das fórmulas consagradas de sucesso de bilheteria pudesse se colocar como um filme popular. Vamos ver se dá certo!

O bacana é que para estabelecer estas parcerias eu não tive que fazer nenhuma concessão à lógica de mercado. A Globo Filmes gostou do roteiro no ato, e foi uma das principais incentivadoras no sentido de que o filme fosse feito do jeito que eu queria.

CC: Parece-me que é um filme com intento popular, apesar de a ideia de um cinema popular estar dominada neste momento pela linguagem televisiva de viés cômico. Quão difícil lhe pareceu emplacar no mercado um filme que muda os estados de humor, que cresce em suspense, em complexidade psicológica, embora a primeira metade dele nos sugira leveza e muitos tons de caricatura? O que o fez acreditar que o público dos cinemas atenderia a este chamado, digamos, por um gênero não exclusivamente piadístico, humorístico?

MJ: Você acerta na mosca quando afirma que Mundo Cão tem um intento popular. Assim como em Estômago (e também, em certa medida, em meu terceiro longa, O Duelo), em Mundo Cão busco um cinema que possa ser popular sem ser popularesco (é verdade que poderíamos discutir longamente esta questão, e questionar mais profundamente os sentidos de popular e popularesco, mas para os fins desta conversa creio que minhas intenções fiquem claras).

Também penso que é natural que o cinema dito popular seja, em nosso país, dominado pelas comédias. Nosso cinema vive uma competição desigual com o cinema americano e é muito mais fácil para os cineastas “brasileiros” competir no campo das comédias do que naquele de qualquer outro gênero cinematográfico.

As razões disso são várias, mas as principais são: a) o custo – é normalmente mais barato fazer uma comédia do que um filme de ação ou de ficção científica, por exemplo; b) a língua e a cultura – fazer rir normalmente exige que autores e espectadores dividam uma certa quantidade de referências culturais, entre elas a língua e os fatos do dia-a-dia, para que a comicidade possa ser partilhada e entendida.

Por esta maior competitividade de nosso cinema cômico frente ao estrangeiro, penso que as comédias sempre serão os nossos mais fáceis sucessos de bilheteria, mas isso não quer dizer que este gênero deva ser ou seja o único com que se possa competir. O filme brasileiro de maior bilheteria de todos os tempos (Tropa de Elite 2) não é uma comédia, por exemplo.

Mundo Cão foi pensado para competir com o cinema estrangeiro num outro gênero que, em minha opinião, também oferece boas condições de competição: o suspense.

Mas, como você intui em sua pergunta, não foi nada fácil emplacar o projeto.  Antes de mais nada, foi necessário convencer os possíveis parceiros de que o filme, apesar de não ser uma comédia, poderia sim ser “popular”. Uma vez pronto o filme, foi necessário convencer os distribuidores do  mesmo fato. E agora, o mais difícil: convencer o público (sem ter uma dinheirama para isso). E o mais difícil disso tudo é lutar contra as ideias preconcebidas e as fórmulas prontas que, quase naturalmente, permeiam todo o mercado cinematográfico.

Mundo Cão tem se mostrado um filme que agrada muito a amplos extratos de público, nas exibições feitas até agora. Neste sentido, estou muito satisfeito com o resultado e penso ter cumprido bem os meus objetivos. A bilheteria vai depender de muitos outros fatores sobre os quais não tenho nenhum controle. Inclusive o número de cinemas, que é uma decisão que faz parte da estratégia de lançamento da distribuidora.

CC: Você buscou reproduzir com veracidade os cenários que evocassem a casa da periferia. E filmou a rua, buscando autenticidade. Parece-me que, sob esses aspectos, o seu é quase um filme seguidor de antigos preceitos neorrealistas. Alguma vez você pensou em lidar com não-atores? É um diretor que acolhe o improviso?

MJ: Eu sou realmente um fã do realismo no cinema, e não há dúvida de que a lição neorrealista teve muita influência em meu modo de fazer filmes. Mas, paradoxalmente, outra forte influência em meu trabalho foi exercida pelos filmes de alguns cineastas de estilo “fantasista” (se é que podemos classificar assim diretores como o italiano Federico Fellini, o sérvio Emir Kusturica e o soviético Sergei Paradjanov).

Na verdade, eu gosto de pensar que cada filme é um filme, e o melhor estilo para se contar determinada história é aquele que melhor se adequa à história em si. Minhas histórias são calcadas na realidade, e portanto é natural que eu busque “verdade” e realismo nos cenários, nas situações e sobretudo no trabalho dos atores.

Mas minhas histórias têm também um forte sentido metafórico, em alguns casos fabular, e portanto eu me sinto à vontade para, se necessário, incorporar nelas a estranheza e a esquisitice. Aliás, creio já ser possível identificar que uma das características de meus filmes é a mistura de gêneros e, de certa forma, estilos.

Quanto à questão mais específica do trabalho com os atores, no entanto, eu sou um tanto quanto tradicional: prefiro claramente trabalhar com atores profissionais (a menos que se trate de crianças, quando minha preferência vai então para crianças que não tenham tido experiências prévias no cinema).

Minha experiência demonstrou que, com bons atores profissionais, é muito mais fácil e possível obter atuações de alto nível e até transcender o realismo. Sou um diretor que gosta muito de trabalhar com os atores, e penso que, dentro da equação de produção que temos no Brasil, em que o tempo de filmagem é muito caro e portanto escasso, seja fundamental preparar e portanto ensaiar bem um filme. No ensaio, dou muito espaço para os atores improvisarem e trabalho com eles no sentido de descobrirmos juntos seus personagens.

CC: O filme parece evocar a fase final da commedia all’italiana, em que Mario Monicelli compôs Il Borghese Piccolo Piccolo para apresentar a ideia da monstruosidade que se alastrava socialmente, a ponto de um pai de família tornar-se um justiceiro para a morte do filho. Seu protagonista nada tem daquele personagem interpretado por Alberto Sordi, é muito cordialmente brasileiro, embora se arrisque pelo terreno da vingança comum a todos, nascida porque nossas instituições, a justiça, a polícia, parecem frágeis e emperradas. Quanto de Monicelli e da commedia você acha que pode servir ainda ao cinema como ensinamento, lição, possibilidade? No Brasil, como ela se atualiza?

MJ: Muito boa esta sua breve análise do conteúdo de fundo de meu filme e totalmente pertinente é a lembrança do Borghese Piccolo Piccolo do Monicelli, filme que, de fato, é um dos inspiradores deste meu Mundo Cão.

Aliás, tenho que reconhecer que a commedia all’italiana teve grande influência sobre o modo como eu vejo o cinema, e não só pelo olhar do Monicelli como também pelo de outros grandes do gênero, como Pietro Germi, Dino Risi, Ettore Scola, só para falar de alguns.

A commedia não chega, de fato, a ser um gênero, mas pode ser melhor definida como um “filão” cinematográfico que partiu de algumas lições fundamentais do neorrealismo e as fundiu com as situações engraçadas da comédia tradicional, empregando doses calculadas de ironia e sátira de costumes para fazer uma inteligente crítica social. Gosto muito da descrição do Monicelli (de novo ele): “A commedia all’italiana é isso: tratar em termos cômicos, divertidos, irônicos, humorísticos, assuntos que são, na verdade, dramáticos”.

A commedia buscava o público sem abrir mão de ser inteligente e, quando necessário, amarga. E conseguia! Muitos dos maiores sucessos de bilheteria dos anos 60 e 70 na Itália (e em vários outros países europeus) foram “comédias italianas”.

Com esses objetivos, os filmes não só foram vistos  e divertiram milhões, mas foram relevantes e tiveram impacto, fazendo não só um panorama da sociedade de seu tempo como criticando-a ferozmente. Ora, tal ensinamento não tem data de validade, ele se renova sempre assim como se renovam a sociedade e seus conflitos.

CC: Todos os seus demais personagens se revezam em destaque narrativo, como se recebessem um bastão de protagonismo para continuar a corrida. Era seu intento desde o início construir um roteiro que quebrasse expectativas a todo momento? Você calculou algum risco em adotar este caminho? Por exemplo, o risco de tirar Adriana Esteves de cena quando ela parecia, digamos assim, “roubar” o filme?

MJ: Mundo Cão nasce do meu desejo de fazer um “suspense”, e nos suspenses, além de manter altas a tensão e a excitação da história, é importante quebrar as expectativas, para que o filme não desande no óbvio. Então, as muitas reviravoltas que estão no filme foram cuidadosamente pensadas e arduamente trabalhadas, em fase de roteiro, filmagem e montagem. 

É obvio que um grande número de reviravoltas implica o risco de o filme descolar do plausível e do verossímil, coisa que eu, também, tentei a todo custo evitar, e para isso tive que ousar em relação ao destino de alguns personagens, especialmente o da Adriana.

Quanto à passagem de bastão que os personagens parecem fazer no decorrer da história, que você muito bem observou, bem, ela não foi exatamente pensada a priori, mas à medida que os personagens foram ‘encaixando’ e a história foi se amarrando, esta passagem aconteceu naturalmente, e a aceitamos como consequência natural do que estávamos contando.

CC: Seus personagens lidam com a duplicidade. Santana é músico amador e pega cachorro, Neném é criminoso e torcedor apaixonado, a Dilza é evangélica mas vende calcinha sexy. E a filha doce e inocente, com uma deficiência, uma invisibilidade, tem uma inteligência e uma frieza insuspeitas. A não linearidade de seus personagens obedece a alguma ligação sua com a literatura?

MJ: Sou leitor voraz e meus filmes são profundamente devedores à literatura, eles efetivamente nascem como narrativas literárias antes de se transformarem em histórias visuais. Aliás, nesse sentido, meus roteiros são muito detalhados e precisos, eu normalmente descrevo com pormenores não só as situações como também os climas que eu pretendo criar com as sequências que mais tarde filmarei.

No entanto, não sei dizer se esta não-linearidade (de meus personagens) deriva de minha paixão pela literatura, pois embora seja a literatura a arte que mais profundamente explora a dualidade psicológica dos personagens, esta dualidade, penso, está presente na vida e nas pessoas.

Ao evidenciar estes traços em meus personagens penso estar refletindo a verdadeira natureza do ser humano, ou seja, penso estar sendo realista. Aliás, algo que me irrita profundamente é quando alguém critica esta ou aquela atitude de um personagem como sendo incoerente… Você conhece alguém que é coerente o tempo inteiro? 

CC: A discussão em torno de uma sociedade justiceira, vociferante como um cão treinado, parece definir-se para um final surpreendente. Você temeu que, tornado popular, seu filme pudesse sugerir ao espectador brasileiro um caminho não legalista para a resolução das injustiças cotidianas?

MJ: É claro que, tratando de temas tão polêmicos e delicados como a vingança e a justiça pelas próprias mãos, o pensamento de que mensagem meu filme poderia deixar nas pessoas que o veem foi efetivamente uma preocupação no decorrer do processo de realização deste filme. E, de fato, eu introduzi no roteiro uma série de cenas que, além de tocar a história pra frente, buscam discutir a questão, de vários pontos de vista.

A primeira delas aparece bem no começo do filme: é a cena em que os três homens (Santana, Ramiro e Banzé) discutem justamente o tema da justiça na cabine da carrocinha, enquanto levam o cachorro capturado para o Departamento de Zoonoses.

[Havia até uma outra cena em que eles voltavam a discutir o assunto, mais para o meio do filme, mas esta cena, embora filmada, acabou ficando de fora do corte final do filme.] Simbolicamente, o personagem do Santana está sentado no meio, entre Ramiro e Banzé, os quais têm posições opostas nesta disputa: Ramiro defende a justiça sumária, o olho por olho, enquanto Banzé acredita que o monopólio da punição deve ser do sistema judicial. Santana apoia às vezes um, às vezes outro, deixando clara a sua propensão conciliadora.

Pois bem, esta sua atitude vai mudar no decorrer do filme, mas nem tanto (não posso dar muitos detalhes disso pois estaria cometendo spoilers). Aliás, tudo muda no decorrer da história, e a posição e o papel dos personagens se inverte, inclusive mais de uma vez.

Essa inversão foi pensada desde o começo do projeto, pois o que eu queria era mesmo provocar o espectador, colocá-lo ora na posição de quem sofre a vingança, ora na de quem a pratica. E o final do filme, que naturalmente não vou contar aqui, na verdade é só uma sugestão de happy end, pois não resolve coisa alguma, como deixa implícita a última sequência do filme e a escrita que a sucede:

“Em São Paulo, a eutanásia indiscriminada de animais cessou em 2008. Os outros crimes (aqui mostrados) continuam acontecendo”.

Mas é verdade que um olhar mais superficial não vai ver no filme nada daquilo que acabo de explicar e vai, talvez, entender que o filme defende as suas próprias posições, quaisquer que elas sejam (acho que os que defendem a justiça sumária vão achar que o filme os apoia, enquanto os legalistas vão ver o lado humanista da história).

Tenho de confessar que aprecio muito, no cinema e na arte, o politicamente incorreto, e todas as ambiguidades que podem derivar dele. Meus filmes são bastante incorretos neste sentido, e embora me preocupe um pouco com isso, não consigo deixar de ousar apropriar-me de uma linguagem assim rica.

Pensando bem, trata-se de uma preocupação um tanto quanto pueril, afinal as atitudes tomadas pelos personagens no decorrer da história não são nem defendidas nem criticadas por mim, que somente as exponho e narro. Deixo ao espectador o trabalho de julgar os personagens, se ele assim o desejar. 

No fundo, do que eu gostaria mesmo seria ter o cacife do diretor Quentin Tarantino e poder dizer, como ele:  “Não sou estudante universitário. O politicamente correto não me interessa nem interfere no meu trabalho”. 

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