Cultura

MPB4, censurado na ditadura, prega de novo liberdade de expressão

Aquiles, membro do grupo, diz que militar agora dá poder a um ex-capitão

O MPB4, formado em 1965, foi uma das grandes vozes contra o regime militar. Foto: Camilla Guimarães/Divulgação
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Há exatos três anos o MPB4 subia ao palco do Sesc Vila Mariana, na capital paulista, como parte da turnê Você Corta um Verso, Eu Escrevo Outro. O título do projeto é um trecho da música Pesadelo, de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, gravada pelo grupo vocal em plena ditadura militar. 

Esse trabalho recente do MPB4 foi marcado pela apresentação de músicas censuradas e de protesto no período pós-1964. O show na unidade do Sesc foi exibido completo dias atrás no canal do YouTube. Foi uma forma encontrada pelo grupo para lançar o coletivo MPB4 e se manifestar pela liberdade de expressão e contra o fascismo. 

A iniciativa envolve os quatro vocalistas do grupo: os remanescentes da antiga formação Miltinho e Aquiles, Dalmo Medeiros, que é substituto desde 2004 de Ruy Faria (morto em 2018) e Paulo Malaguti Pauleira, que entrou no lugar do Magro falecido em 2012.

Além deles, integram o coletivo as cantoras Barbara Rodrix e Cláudia Castelo Branco, o produtor Marcelo Cabanas, o guitarrista Pedro Reis, o contrabaixista João Faria, o baterista Marcos Feijão, o responsável pelas mídias do grupo, técnicos de som e luz e o Retiro dos Artistas.

A proposta foi abrir um canal de contribuição voluntária às pessoas que giram em torno dos projetos do MPB4. 

Aquiles explicou que há três motivos à realização da iniciativa: “ Nos sentir ativos; nos sentirmos criativos, e levantar fundos, ainda que não muito – a soma das contribuições é dividida -, para amenizar o peso da quarentena”.

Voz contra os militares

O MPB4, formado em 1965, foi uma das grandes vozes contra o regime militar e fez malabarismo para driblar a censura no período. No show Você Corta um Verso, Eu Escrevo Outro, além da apresentação das clássicas músicas de luta da época, são feitos relatos daquele tenebroso período.

“Nós decidimos que não faríamos concessões quanto a escolha de textos e músicas que integraram nossos trabalhos naquele momento. Mas a cada censura que sofríamos, e não foram poucas, sentíamos os dentes ranger e o medo nos dominar”, lembra Aquiles sobre o poder nas mãos dos militares.

“Mas pensávamos: Não faremos o trabalho sujo, deixemos que eles cumpram o trabalho odioso de censurar o trabalho alheio. Autocensura? Nunca!”

O músico prefere comparar aquele período conturbado com o atual de ameaças fascistas por suas idiossincrasias.

“Antes, o golpe veio dos militares que tomaram o poder e dele se locupletaram; hoje, os militares que ocupam cargos estratégicos no governo, batem continência para um ex-capitão, que as Forças Armadas já haviam excluído de seus quadros”. 

Aquiles vê com ceticismo o fim da pandemia de coronavírus, mesmo com distanciamento social e entendendo ser o único meio de conter a contaminação e preservar o sistema de saúde.

“O extermínio do vírus invisível só virá por meio de uma vacina, já exaustivamente buscada por cientistas do mundo todo. Só através dela vamos nos redimir e, aí sim, comemorar, até a aparição de um novo vírus…”

Em meio a tantas mortes por conta da epidemia, o membro do MPB4 afirma que lhe perturba, e muito, “um presidente desqualificado e genocida” no poder. 

O MPB4, em 55 anos de estrada, lançou mais de 50 álbuns.

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