Cultura
Morre Luis Fernando Verissimo, o maior cronista brasileiro
Também tradutor, jornalista e músico, o escritor tinha 88 anos e enfrentava as complicações de um AVC


Morreu neste sábado 30, aos 88 anos, o escritor Luis Fernando Verissimo. Um dos autores mais populares do Brasil, ele lidava com as consequências de um acidente vascular cerebral (AVC) que aconteceu em 2021, e foi acometido, nas últimas três semanas, por uma pneumonia.
A morte foi confirmada por familiares ao G1.
Em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, a esposa, Lúcia, disse que, nos últimos anos, o escritor se limitava a falar algumas poucas palavras, e sempre em inglês – ele concluiu parte da alfabetização nos Estados Unidos, para onde o pai, o também consagrado escritor Erico Verissimo, se mudou com a família na década de 1940, pressionado pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.
Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936 – ou seja, estava às portas de completar 89 anos. Escreveu mais de 80 livros. Foi ainda tradutor, jornalista e músico (tocava saxofone e participou de diversas bandas).
A mudança para os Estados Unidos veio ainda na infância, em 1941. Estudou em escolas de São Francisco, Los Angeles e Washington antes de voltar ao Brasil, em 1956. Trabalhou na Editora Globo na capital gaúcha e, nos anos 1960, se mudou para o Rio de Janeiro.
Foi na capital fluminense, onde trabalhou como tradutor e redator publicitário, que conheceu a companheira Lúcia Massa. Foram casados por mais de 60 anos e tiveram três filhos.
De volta a Porto Alegre, se tornou colunista do jornal Zero Hora em 1969, pavimentando o caminho para se tornar um dos cronistas mais conhecidos do Rio Grande do Sul e, anos mais tarde, de todo o país, especialmente após passar a trabalhar no jornal Folha da Manhã, publicação predecessora da Folha de S. Paulo. Levou seu estilo bem humorado também a outros veículos, como o Jornal do Brasil, O Globo, O Estado de S. Paulo e Veja.
Entre seus livros mais populares estão Ed Mort e Outras Histórias (lançado em 1979), O Analista de Bagé (1981), Comédias da Vida Privada (1994, posteriormente adaptado para a televisão) e As Mentiras que os Homens Contam (2000).
Homem de poucas entrevistas, nunca escondeu a inclinação política à esquerda, embora tenha chegado a se dizer “um esquerdista desiludido”. Em entrevista ao Brasil de Fato em maio deste ano, a esposa Lúcia disse que, nos últimos anos, ele tinha perdido o interesse por política. “Um sábio”, disse ela.
Apesar do enorme sucesso e do reconhecimento internacional de sua obra, Luis Fernando Verissimo jamais se candidatou à Academia Brasileira de Letras, a exemplo do pai, Érico. “Meu pai era contra qualquer tipo de formalidade ou solenização e acho que não se sentiria bem num fardão”, contou Luis Fernando ao portal Terra em 2012.
“Eu não me candidato porque não tenho uma obra literária que mereça a honra, nem o físico para o fardão, ainda mais depois que o Scliar [o escritor e imortal Moacyr Scliar] me contou que a gente não fica com a espada”, completou, com a modéstia e o bom humor que marcaram a carreira.
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