Cultura
Morre David Lynch, o mestre americano do cinema surreal
Mais excêntrico integrante da ‘Nova Hollywood’, o diretor explorou um lado onírico e perturbador do sonho estadunidense


Morreu nesta quinta-feira 16, aos 78 anos, o cineasta americano David Lynch. A notícia foi divulgada por sua família em um comunicado emocionado, publicado na página oficial do artista no Facebook.
“É com profundo pesar que nós, sua família, anunciamos o falecimento do homem e artista, David Lynch. Gostaríamos de ter um pouco de privacidade neste momento. Há um grande buraco no mundo agora que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria, ‘Olhe para o donut e não para o buraco’. É um lindo dia com sol dourado e céu azul por todo o caminho”, diz o texto
Fumante por décadas, enfrentava complicações de um enfisema pulmonar, diagnóstico que veio a público no ano passado. Na ocasião, ele também anunciou que não poderia mais continuar trabalhando, pondo fim uma carreira prolífica, com mais de 80 obras assinadas.
Entre filmes, séries, livros, e projetos audiovisuais, Lynch explorou um lado onírico e perturbador do imaginário popular americano. Nascido em Montana, foi o mais excêntrico integrante de uma geração de cineastas norte-americanos que emergiu nos anos 1970 sob o rótulo de Nova Hollywood. Entre colegas como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, George Lucas, Steven Spielberg e Brian De Palma, destacou-se pela atmosfera surrealista, design de som preciso, lógica de sonho e a exploração dos aspectos sombrios e perversos ocultos sob a estética pitoresca da cultura interiorana dos Estados Unidos.
Após uma série de curtas experimentais, lançou seu primeiro longa, Eraserhead (1977). A obra abriria caminho para uma filmografia singular — dos acessíveis Blue Velvet (1986) e Wild at Heart (1990) aos densos e enigmáticos Mulholland Drive (2001) e Inland Empire (2006). Trabalhou frequentemente com um elenco cativo, como Laura Dern e Kyle MacLachlan, cujos rostos se tornaram símbolos de seu universo criativo.
Sua obra mais famosa e influente na cultura pop foi a série Twin Peaks (1990). Cancelada após duas temporadas, a série ganhou um revival dirigido por ele em 2017, consolidando seu status de fenômeno cult. Passada esta fase, Lynch redirecionou sua atenção para a pintura e a música, retornando ao audiovisual apenas ocasionalmente, com curtas produzidos para o streaming. Em uma de suas últimas aparições cinematográficas, interpretou John Ford em The Fabelmans (2022), longa semiautobiográfico de Steven Spielberg. Seu personagem é apresentado com a seguinte fala: ‘Quer conhecer o maior diretor que já viveu?’
E ele foi. Indiscutivelmente um dos maiores cineastas do mundo, a extensão da sua influência pode ser vista no trabalho de diretores contemporâneos como Yorgos Lanthimos e Jane Schoenbrun.
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